A Millie Bobby Brown já mostrou certa desenvoltura com ação nos dois Enola Holmes, e aqui ela meio repete os cacoetes da irmã da detetive em prol de uma ação/aventura genérica. Em muitos momentos, esse filme me lembrou aspectos de aventura juvenil como em Harry Potter (especialmente a Câmara secreta): um mundo meio mágico, um castelo rodeado por uma floresta, a montanha com um monstro (lembra a câmera, inclusive me causou espanto a cena com a espada), a postura dos personagens secundários e o protagonismo juvenil, mas principalmente: o ritmo e timing bem ruim do roteiro.
É bem verdade que há aqui uma tentativa de se criar uma protagonista feminina empoderada, e ao menos não soou tão anacrônico quanto vendido: o roteiro tem sim bons momentos e convence na sua simplicidade de narrar a história de sacrifício de princesas, de modo que o discurso sobre corpos femininos quase descartáveis, servindo como barganha, é bem vindo. Mas além de ser um filme bem chato na sua primeira metade, os efeitos visuais não ajudam em nada aqui, particularmente no fogo (CGI muito mal feito). O vencedor do Oscar 2024 em efeitos, Godzilla, fez muito mais com 1/4 do orçamento, o que é algo para se pensar, criando um monstro mais imponente e com cenas de destruição mais fantástica.
Caso você não desista do filme (já que a reviravolta é sentida de longe, portanto, não espere muito do roteiro), é importante dizer que o terço final ficou bom, por mais que as emboscadas sejam previsíveis e o timing continue ruim, ao menos consegue infetar um pouco de adrenalina para não dormir. E também o filme vale pela atuação da Angela Basset, mesmo que pouca, engole a todos quando aparece.
Ao fim, não passa de um passatempo com uma protagonista até talentosa, mas que queria vê-la em outros papéis e filmes mais desafiadores: sua voz imponente ao final, por exemplo, teve que lutar contra um texto piegas para soar convincente.
Por fim, gostei bastante do título, uma espécie de ironia com a protagonista, mas que já entrega muito do que esperar, portanto, é um filme sem surpresas, feito para e pela diversão, e claro que não tem nenhum problema nisso caso o ritmo contribuísse com a diversão. Como não é o caso, o que resta é se apegar ao que funciona, por mais simplório que seja, ainda que tudo fique esquecível assim que raie o próximo dia.
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