Um dos documentos capitais do western spaguetti, e também o último grande suspiro do gênero, que infelizmente Keoma não foi sufiente para reergue-lo. Nos anos seguintes ainda surgiriam outros spaguettis plausíveis como Vingança Cega (Mannaja, 1977), que inclusive se assemelha muito a Keoma, e China 9, Liberty 37 (Amore, Piombo e Furore, 1978) - no Brasil tambem leva o titulo A Volta do Pistoleiro - sendo este um dos melhores filmes do gênero já realizado, dirigido por Monte Hellman. Ambos filmes citados como exemplo são desconhecidos do público geral, sendo quase que exclusividade de colecionadores e apaixonados pelo gênero.
Keoma (tiltulo-personagem do filme) retorna a sua cidade natal após o término da guerra civil. A cidade, dominada por uma gangue da qual é liderada por Caldwell (Donald O'Brien), está infestada por uma doença chamada apenas de "a peste". Keoma se vê em outra guerra, agora mais violenta, e contra os próprios meio-irmãos.
Enzo Castellari utiliza de recursos já conhecidos de outros spaguettis: um anti-herói, uma cidade dominada por uma gangue, personagem principal motivado por vingança. Tudo isso já havia sido exaustivamente utilizados no gênero, mas o modo como Castellari explora cada aspecto do spaguetti western é tão sensacional que tudo aquilo parace ser tão novo, pela forma peculiar como dirige o filme. O diretor utiliza de flashbacks para algumas explicações, como o motivo de Keoma e seus meio-irmãos não se entenderem. Mas Castellari é o tipo de diretor que não se preocupa com a natureza dos acontecimentos, mas o modo como eles entram na narrativa e passam a existir de forma perfaz.
O modo de filmagem de Castellari é destacável, utilizando sempre de angulos incomuns e fechados, porém extremamente eficientes. Em suas cenas, a camêra passeia pelos lugares mais inimagináveis. O zoom, recurso que virou marca dos spagutti, aqui não se torna dirente, sempre focando o rosto, o olhar, de modo certeiro Castellari dá uma aula de como filmar um spaguetti western. No novo filme de Quentin Tarantino, Django Livre (Django Unchained, 2012), o diretor também tentou tirar proveito do recurso, porém foi mal utilizado e o resultado ficou um pouco exagerado e feio. A slow cam é utilizada em quase todos os tiroteios do filme, dando um tom de dramáticidade, e ao ver o sangue voando em camêra lenta, ah que sensação! O resultado da slow cam é brilhante.
A sutileza com que Castellari aborda temas polêmicos, como rascismo, violência, preconceitos, liberdade e outros temas é impressionante. O modo como é exposto através do personagem George (Woody Strode), um ex-escravo que após receber a liberdade, perde toda a sua identidade, pois aqueles que o libertaram não o acolheram.
Falar do filme Keoma e não falar de sua trilha sonora é impossível. A trilha do filme é exuberante, grandiosa, e dá o toque necessário ao filme, completando suas cenas de forma perfeita. O tom dramático, o grito aclamando pelo socorro de Keoma, tudo tão fantástico, que chega a emocionar. Guido de Angelis e Maurizio de Angelis merecem créditos pela brilhante composição.
Franco Nero em westerns é sempre formidável, e no papel de Keoma realiza uma excelente atuação, talvez a melhor da carreira ao lado de sua interpretação em Django (Django, 1966). Conferi-lo como um pistoleiro sádico é não menos do excitante.
Enzo Castellari realiza não apenas um grande western spaguetti, como também um dos melhores filmes de uma das décadas mais marcantes da sétima arte, repleto de grandes obras primas, e em meio lá está Keoma. Se Keoma marcou o "fim" do western spaguettti, o gênero terminou com um de seus melhores exemplares, e honrou os mestres do gênero Leone, Corbucci, Peckinpah e tantos outros. Um gênero que conseguiu entra para a história com pouco mais de uma década de duração.
Grande filme! A trilha sonora é impressionante e consegue envolver plenamente na história, que traz uma luta solitária contra um mundo desconcertado.
A crítica ficou ótima. Bem apaixonada, como era de se esperar de um fã do gênero. 😁
Vallew Patrick, que bom que gostou do filme, é um dos mais magníficos spaghetti-westerns.
Patrick gostando de um Western, é um momento Épico.
Em relação ao texto, está ótimo Alexandre!