“O segredo de uma vida longa, é tentar não encurtá-la”
A fábula de Sergio Leone, o crepúsculo das lendas do oeste, uma homenagem não apenas ao gênero, mas a aqueles aos quais o próprio gênero foi inspirado: Billy The Kid; Jesse James; Buffallo Bill; Wyatt Earp, entre tantos outras lendas. Leone não comanda o espetáculo, fica apenas na produção, garante uma visibilidade maior ao filme, porém, apesar de não creditado, Leone auxiliou na direção do filme em algumas cenas. A direção é dada ao também italiano Tonino Valerii, auxiliar de direção de Leone em Por Uns Dólares a Mais, tendo no currículo o excelente "O Dia Da Ira", que conta com astros do gênero no elenco, como Lee Van Cleef e Guiliano Gemma.
Com ideia de Sergio Leone e roteiro de Ernesto Gastaldi, o filme conta a história de “Ninguém” (Terence Hill), um jovem que idolatra o pistoleiro Jack Beauregard (Henry Fonda), uma lenda viva que pensa em se aposentar. Com essa possibilidade aberta, “Ninguem” almeja uma despedida que irá tornar Beauregard na maior lenda do Oeste, fazendo com que o pistoleiro enfrente o temido “Bando Selvagem”. Entretanto, Beauregard não concorda com a posição tomada por “Ninguem”, e se recusa a enfrentar o tal bando, mas os planos de “Ninguém” transformará Beauregard numa lenda, viva ou morta.
“Lenda”. O saudosismo presente no filme torna essa palavra a mais utilizada por seus personagens. Atribuído a Henry Fonda o papel de Lenda, nenhuma outra decisão poderia ser tão acertada, levando em consideração que há época do lançamento Fonda era, e ainda é, considerado um dos maiores atores que Hollywood já viu. Terence Hill dá vida a “Ninguém”, um personagem que chega a lembrar o famoso personagem protagonista da franquia Trinity, interpretado pelo próprio Hill, com um humor que se distingue da grande maioria dos tipos humores presentes nos filmes westerns spaguetti.
“Meu Nome é Ninguem” adota um humor pastelão, cartunesco, por vezes artificial demais, mas que funciona. Nada de atmosferas pesadas, personagens extremamente tensos, humor negro. As características mais óbvias passam em branco nesse filme, inclusive o marcante “anti-herói” ambicioso e imoral, que é substituído por personagens carismáticos e de fácil identificação com o público. Porem, o aspecto mais marcante desta obra e que leva o espectador a um deleite de belas paisagens é a fotografia magnífica, que atinge a perfeita harmonia ao se tratar de uma retratação do oeste, quente, árduo, árido.
Com isso nada melhor do que o brilhante impacto visual vir acompanhado das grandiosas trilhas sonoras do lendário Ennio Morricone. Entretanto não é nada que se aproxime do nível abissal que Morricone atingiu outrora em filmes como Era Uma Vez No Oeste e Três Homens em Conflito, e as trilhas compostas para filmes menores do faroeste italiano nos anos seguintes tornaram-se meio que um clichê ou genéricos dos pontos altos da carreira do compositor. Mas a participação da trilha sonora em um spaguetti-western é indispensável. Morricone traz desde momentos de pura nostalgia e tensão, até trilhas que sintetizam diversão, alegria.
A qualidade do filme é discutível, apesar do status de clássico, mas é indiscutível que é um dos mais divertidos filmes do faroeste italiano, assim como é indiscutível a participação direta de Leone em determinadas cenas do filme, como a cena inicial onde a construção da cena é extremamente lenta, a dilatação do tempo, o som ambiente completamente ausente de trilha sonora, alguns aspectos que Leone sabia conduzir com maestria. Mas Valerii tem sem dúvidas sua contribuição para o excelente resultado, mesmo que algumas vezes force demais o humor pastelão, mas atinge alguns momentos que merecem destaque, como a cena em que Beauregard e “Ninguém” se encontram no cemitério, cena a qual o filme alcança o seu momento de perfeição, com diálogos fortes, filmagem excepcional ao som de Morricone, de longe a melhor cena do filme.
O movimento “western spagueti” sempre teve sua visibilidade maior para a nata do gênero. Cineastas como Sergio Leone – que, de fato, foi o melhor -, Sergio Corbucci, Sergio Solima, Lucio Fulci (e até mesmo Sam Peckinpah, que não é italiano, mas que teve estilo fortemente influênciado pelo gênero) construíram a glória do gênero, enquanto outros jamais saíram do anonimato, bem como vários filmes considerados “B”- os próprios filmes de Leone no início eram considerados produções “B” -, onde volta e meia é possível se deparar com uma ou outra obra “desconhecida” que surpreenda. Como dito no início, uma fábula.
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