Em meados da década de 70 o western spaghetti já não era mais aquele mesmo subgênero que marcou a década de 60. O nível e a quantidade de produções caíram consideravelmente nos anos que sucederam o testamento de Sergio Leone ao gênero com sua poesia rústica em Era Uma Vez no Oeste (C’era Uma Volta il West, 1968). Porém os grandes filmes do gênero não vieram exclusivamente da época das “vacas gordas”, Keoma (idem, 1976) de Enzo Castellari e Vingança Cega (Mannaja, 1977) de Sergio Martino são exemplares que demonstram que o gênero ainda tinha folego, infelizmente estes foram seus últimos suspiros.
Há quem possa considerar Fulci como um dos mestres do gênero, mas sua filmografia indica que poucos foram os momentos neste terreno árido e selvagem. Não que isso necessariamente possa impedir alguém de considera-lo como um dos nomes que marcaram o western spaghetti, mas dentro do gênero não conseguiu ser acima da média. Sela de Prata (Sella d’Argento, 1978) é um exemplo de como Fulci pouco se importou em sair do óbvio, mesmo sendo lançado na pós-decadência do gênero, continuou insistindo em temas já cansativos na época. Os Quatro do Apocalipse (I Quattro dell’Apocalisse, 1975) é onde ele tenta mudar um pouco esse panorama e sai da sua zona de conforto.
É uma obra simbólica. Temos quatro personagens repulsivos: um jogador trapaceiro, uma prostituta, um negro que vê fantasmas e um bêbado. O grande mérito de Fulci é não agarrar seus personagens a essa superficialidade a qual somos apresentados num primeiro momento. A repulsa vem dos atos, a medida que Fulci dá certa profundidade em cada um podemos perceber a natureza imoral em um ambiente propicio à depravação. Todo esse ambiente abrupto, violento, perverso, em detrimento da ética tem sua representação em Chaco, personagem que passa a ser o oeste na forma carnal na vida dos quatro protagonistas. A violência passa a ser uma medalha de honra pela sobrevivência.
O que me impede de chamar Os Quatro do Apocalipse de obra-prima é a forma como Fulci subaproveita seus anti-heróis. Opta por tentar romper conceitos de redenção através da lealdade, quando poderia eternizar um personagem que poucas vezes aparece em cena. Chaco é o espirito da maldade presente naquele oeste sem ideais. Em duas cenas Fulci resume o prazer que seu personagem tem em praticar a violência: a cena do estrupo e na cena em que tortura um xerife. Em ambas as cenas percebemos o potencial da obra que ao longo da narrativa se perde em meio a metáforas vazias.
O talento quase natural em fotografar a violência que os italianos tinham parece ser a grande deficiência de Fulci aqui. Há um vazio criado pelos enquadramentos simplórios e, por vezes, até preguiçosos, onde em momento algum Fulci se desprende desse estilo. O western italiano tem como uma de suas principais características o tratamento com a forma da cena, a estilização, a dilatação, closes, zooms, mas Fulci abre mão desse estilo e não preenche a lacuna deixada pela falta dele. As cenas cruas e rasas não ganham forma, não conseguem ser mais do que uma mera sequencia de imagens.
Ao término a sensação que fica é de que poderia ser um grande filme. O estilo distante do que se imaginava em um western spaghetti falha pela falta de criatividade e ousadia. O declínio que o faroeste italiano teria nos anos seguintes se deu muito por todas essas tentativas de se reencontrar sem olhar para trás, Os Quatro do Apocalipse é um grande exemplo disso.
Eu ainda considero esse um bom exemplar do spaghetti e um dos melhores filmes do Fulci. Uma busca pela raiz do mal, a virada dos personagens la pela metade do filme é brilhante. To enrolando pra enviar um comentário aqui.
Fulci foi meio irregular nessa obra, o estilo dele aqui é algo distante da maioria dos spaguettis, não que eu ache isso ruim, mas é um estilo meio vazio que não consegue criar uma atmosfera interessante.
Ótimo comentário. É um filme com altos e baixos, mas o saldo ainda é positivo
Agradeço a leitura Cristian. É bem por aí mesmo, mas não é dos que eu recomendaria.