Um bom roteiro é um passo importantíssimo para a construção de um grande filme, todos concordam? Acredito que sim! Partindo deste plano, observando os roteiros de alguns filmes já assistidos, me arrisco em uma declaração, a partir de uma opinião pessoal, contundente e precisa: Woody Allen é um dos melhores roteiristas da história. Sei que muitos não gostam de seu estilo, mas negar a criatividade de Woody seria um erro, até mesmo um pecado capital. Em Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry), podemos observar elementos que embasam minha afirmativa. Não quero, em momento algum, ser comprado como verdade absoluta, mas estou certo que minha visão não cai em equívocos e sei que muitos concordam comigo neste quesito.
Lançado em 1997, Desconstruindo Harry é um filme inteligentíssimo. Harry Block (Woody Allen) é um escritor que tem a incomoda mania de utilizar fatos de sua própria vida em conjunto com os de pessoas próximas, como fonte de inspiração para suas obras. Esta prática irrita as pessoas que acabam se afastando do escritor. Block torna-se um ser odiado e evitado por quase todos que o rodeiam, e assim, ele nos guia durante a película.
A construção do filme é feita sob uma base bastante sólida, o roteiro. Woody Allen, na pele de Harry Block, nos guia em uma narrativa com criatividade exacerbada. Desconstruindo Harry dialoga com as obras dentro da obra, na medida que intercala os personagens criados por Harry com "elementos reais" da vida do escritor. Com maestria, Woody Allen consegue perpassar suas mensagens - como por exemplo no momento em que Blocke desce até o inferno - na cena o "diabo" afirma que recebeu uma proposta de trabalho em Holywood, mas recusou por não se tratar de um ambiente confiável e seguro. São sátiras como esta que observamos no decorrer da película que fazem do filme de 97 uma obra digna de elogios.
Desconstruindo Harry ainda é uma referência clara a Morangos Silvestres de Bergman, na medida em que coloca um personagem entre o céu e o inferno, como Isak Borg. Allen ainda baseia seu roteiro em um eixo que o liga ao do diretor sueco: um escritor faz uma viagem para uma cerimônia em sua homenagem na universidade na qual estudou, assim como Isak que faz uma viagem em direção à Catedral de Lund, onde será feita uma cerimônia em sua homenagem pelos 50 anos de medicina. Porém durante o desenrolar da história, Bergman utiliza de alegorias expressando a culpa de Isak, ora em formato de sonho, ora em formato de visões, já Allen as utiliza quase sempre de forma difusa com a realidade.
Woody Allen mais uma vez interpreta um ranzinza cheio de manias lunáticas. O personagem Harry é fascinante. Fascínio que pode ser explicado por sua personalidade polêmica e contundente. Em Desconstruindo Harry temos momentos impagáveis, como na cena em que ele conversa com o filho (de 9 anos, se não me engano) sobre sexo e cristianismo e quando o ator aparece desfocado. A forma como Woody consegue colocar humor e inteligência no mesmo campo é no mínimo louvável, ainda mais num momento em que a Globo Filmes enche o cenário com comédias pífias e de péssimo gosto. Os diálogos típicos das grandes obras de Allen estão presentes no filme de 97. Por tudo isso e um pouco mais, Desconstruindo Harry é um filme inteligente e criativo é uma obra com a cara de Woody Allen.
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