Confesso que ver Scorsese filmar um argumento (roteiro) original de Dennis Lehane era premissa suficiente para me atrair para o cinema, o que aliado a um elenco de actores consagrados na industria cinematográfica como Di Caprio, Emily Mortimer, Max Von Sydow, Ben Kingsley, entre outros torna o filme definitivamente um "must see".
A história decorre no ano 1954, na qual Ted Daniels, um detective americano de Seatle, ex-combatente na Segunda Grande Guerra, e o seu colega Chuck Aule se dirigem à ilha Shutter procurando respostas para o misterioso desaparecimento de uma doente de um hospital psiquiátrico. O drama adensa-se quando Teddy percebe que está a ser sugado para uma espiral de mistérios e aparências enganosas.
O espectador facilmente e rapidamente chega à conclusão que não estamos perante o estilo de direcção que caracterizou Martin Scorsese. O director parece vaguear pelas ruas edificadas por Alfred Hitchcock sobretudo na fase inicial do filme, combinando planos abertos aliados a uma trilha sonora intensa, David Lynch, espelhando a mais crua e pérfida face do seu cinema, principalmente nos sonhos e devaneios na personagem interpretada por Di Caprio, e Stanley Kubrick mostrando um falso “non-sense” do ambiente que rodeia a personagem principal, Teddy Daniels (Di Caprio).
Esta película é muito bem conduzida. Começa intensa, torna-se claustrofóbica mas acaba sem fôlego. O espectador é levado pela corrente e torna-se fácil sentir a angústia de Teddy Daniels, bem ao jeito de Hitchcock, sendo esse o grande ponto forte do bom trabalho da direcção de Scorsese. Respira-se Hitchcock ao longo do trabalho de Scorsese, a cena de DiCaprio no chuveiro e o diálogo intenso no carro conduzido por Ted Levine demonstram isso mesmo.
O trabalho de casting é feito bem ao jeito de um suspense dramático. Ainda num passado relativamente recente Emily Mortimer trabalhou com Ben Kingsley no modesto drama Transsiberian de 2008 e Mark Rufallo juntou-se a John Carroll Lynch e Elias Koteas no excelente Zodiac de 2007.
Este bom trabalho de “recrutação” reúne um elenco muito maduro e completo. Algumas cenas são brilhantes, principalmente as que reúnem três gerações de grandes actores, Von Sydow, Kinglsey e Di Caprio, muito bem acompanhado por Rufallo, este ultimo não só se “salva” como consegue se bater lado a lado com os “mais maduros”. Penso tanto pelo percurso de Leonardo Di Caprio como Mark Rufallo no meio, já é legitimo afirmá-los com grandes actores e pesos pesados de Hollywood.
O excelente trabalho do elenco (de luxo) é meio caminho andado para consolidar o filme sendo em algumas cenas completamente fascinante. Uma palavra ainda para a actuação de Emily Mortimer que está irrepreensível na cena em que se encontra frente a frente com DiCaprio.
Ainda assim, parece faltar o pulso de Scorsese, tendo este se perdido numa mistura de estilos o que resulta numa falta de coordenação e homogeneidade do filme. A primeira metade do filme é exímia, contudo a película vai perdendo força ao longo da segunda metade e o “turn-over” dos últimos 15 minutos torna-se algo constrangedor devido principalmente à previsibilidade do epílogo da história. Honestamente já receava que este facto se traduziria num final fraco visto o filme atingir o clímax bastante cedo.
A trilha sonora também é algo irregular, começando nos forte monótonos acordes “à la” Hitchcock, passa ainda pela música clássica aquando a alusão de cenas da Segunda Grande Guerra, terminando em tons mais modernos facilmente identificados como característicos de trabalhos mais recentes de Scorcese como Gangs Of New York de 2002 e The Aviator de 2004.
Concluindo, em The Shutter Island, Scorcese parece aludir ao cinema caracterizado pela vertente mais demente do cinema de Hitchcock, Kubrick e Lynch. Não é totalmente bem sucedido mas provavelmente era impossível conjugar estilos tão díspares de maneira tão consistente.
(Peço desculpa por qualquer termo ou palavra que pareça mal escrita. Sou português ;p)
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário