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Melhores Filmes de 2019 - Equipe

Chega ao fim mais um ano cinematográfico no Cineplayers e, como é tradição aqui no site, listamos os 10 Melhores Filmes de 2019 segundo nossa equipe!

Foram 14 editores votantes, com 46 filmes citados entre suas listas individuais de top 10 que estrearam comercialmente no país. Vale lembrar que, desde 2018, incluímos também os lançamentos em streaming, então produções exclusivas dessas empresas estão valendo também. A pontuação foi mais simples, com 100 pontos para cada 1º lugar, 90 para o 2º e assim por diante.

E aí, o que achou do resultado final? Não esqueça de comentar abaixo e aproveite para fazer o seu top 10 também no tópico oficial de votação para os Melhores Filmes de 2019 - Leitores. Você tem até o dia 7.

Sem mais delongas, vamos aos filmes!

Edições anteriores: 2018, 2017, 2016, 2015, 2014, 2013, 2012, 2011, 2010, 2009, 2008, 2007, 2006


10. Temporada, de André Novais de Oliveira (180 pontos)

Temporada é um filme que trata da busca por uma outra possibilidade de lugar. Juliana (Grace Passô) se muda do interior de Minas Gerais para a cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, para trabalhar como agente de saúde fazendo visitas às residências do bairro para verificar possíveis focos de mosquitos da dengue. Essa mudança, e tudo o que ela significa para Juliana, é o que atravessa afetivamente o filme. A ideia de Temporada me parece muito próxima daquela que vemos no cinema de Yasujirô Ozu, em que os longas se apropriam da vida e dão a ela uma forma visual constituída por tempo, imagem e movimento. As visitas de Juliana se estendem para um conhecimento da cidade, do bairro e das pessoas que o habitam. E é nessa aproximação sensível, no gesto reiterado de “visita”, que se revela muito do potencial criativo e político do filme. Quando lhe é oferecido, Juliana aceita um café, uma água ou uma conversa. E são esses movimentos que vão construindo, aos poucos, uma nova casa para ela em Contagem. Assim, a personagem e o filme encontram um novo mundo nesse gesto de se colocar diante de um lugar com o outro – de contemplar o bairro do terraço da casa de um estranho, de um estar-junto, ou da partilha de um espaço, que se transforma em um olhar-junto, da partilha de um olhar.

- Cesar Castanha


9. História de um Casamento, de Noah Baumbach (220 pontos)

Noah Baumbach vem se notabilizando por histórias dramáticas sensíveis baseadas no seio familiar e nas complexidades das personalidades que retrata. História de um Casamento vai exatamente nessa linha ao retratar a história do divórcio de Charlie e Nicole. Um casal lindo, como destaca a babá, que se ama profundamente, como percebemos ao longo de todo o filme, e cujo relacionamento não é mais possível, como atestamos, tristes, ao fim da sessão. O impacto da obra é devastador, e justamente porque toda a sua forma é carregada no oposto: singeleza, familiaridades, economia. O cineasta emprega uma direção leve, entoada por uma trilha afetuosa, uma montagem que pontua os momentos medulares desse conflito de maneira formidável e uma fotografia que nunca perde o tom solar, que servem fundamentalmente a um texto maravilhoso (comovente, literalmente, do início ao fim — tão destoantes e igualmente bonitos) e a um elenco muito inspirado, identificado com cada um de seus personagens, todos multidimensionais. E é intrigante que o diretor narre um filme de dois com foco maior no homem, e também o desenvolva como uma figura mais errática (de um egoísta contumaz a adúltero), por mais que dotada de qualidades. Se para uns soa meramente como um benefício a Adam Driver em detrimento de Scarlett Johansson, e por isso o ator e seu personagem brilham tanto (e mais) em cena, para mim, História de um Casamento é um claro expurgo de Baumbach sobre quem ele conhece melhor: a si mesmo (e homens em geral), vide toda a construção de Adam Driver como seu alterego, da profissão dada a Charlie ao seu figurino e características físicas. O resultado dessa bela autoexaminação, que transborda afetividade, humildade e empatia pela mulher numa relação conjugal, é sublime, e alça Noah Baumbach ao ápice de sua carreira.

- Rodrigo Torres


8. Em Trânsito, de Christian Petzold (360 pontos*)

Em Trânsito é narrativamente dinâmico, o que torna seu título signo de seu propósito. Adaptação de um romance de 1944 da autora alemã Anna Seghers, o filme fala sobre um fugitivo alemão na França. Ele, em constante movimento evasivo, assume outra identidade; o contexto também parece incerto de sua época, apropriando-se do período nazista em meio ao século XXI. Ao tratar de identidades, a obra se traveste de fantasias, orientando-se sobre uma realidade questionável, mas estranhamente palpável, idealizada de maneira inteligente com amarras que garantem ao espectador não fugir daquele universo de estranhezas e se comprometer com sua inventividade. Oportunamente, concentra-se em um personagem escritor, favorecendo a concepção do protagonista enquanto criador, dando sentido ainda mais amplo e complexo à história. Ao público, uma confusão entusiasta em um filme de máscaras que tão bem corresponde a filmografia de seu autor, Christian Petzold, um dos grandes nomes do cinema das últimas duas décadas.

- Marcelo Leme

* desempate com Bacurau por ter ficado menos no top 3 dos editores


7. Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (360 pontos*)

O cinema pernambucano vem se destacando no cenário nacional não apenas por trazer a cultura nordestina para o resto do país, mas também por fazer filmes em forma e conteúdo fora do padrão tradicional norte-americano a que esse público está acostumado a consumir. Acompanho Kleber Mendonça Filho há muitos e muitos anos, desde o seu tempo de CinemaScópio, e é bacana ver ele usando tudo o que aprendeu e dissecava de linguagem e, principalmente, de força do cinema em seus filmes. Em Bacurau, divide as ideias com Juliano Dornelles em um passeio sobre estética, importância da história e sua resistência política contra ideias não populistas de seus líderes. O Brasil é imenso e muitas vezes negligencia seu povo esquecido; aqui, em um futuro distópico e pessimista, com o país dividido entre Norte e Sul oficialmente, não conceitualmente como hoje. Mesmo em uma cidade perdida como Bacurau existe história, com um museu que não os deixa esquecer quem são, suas origens, mas mais do que isso, que é renegado por visitantes pela arrogância de um colonizador que se acha superior - aqui, os EUA e toda sua conhecida prepotência, armamento bélico, diversão condenável e a comercialização do sexo clichê entre o homem e a mulher brancos, bonitos e perfeitos de corpo a céu aberto. Nesse baile, conhecemos a cidade, seus personagens, suas ameaças e, em mais de duas horas, revertemos tudo e passeamos por gêneros do cinema com um povo que resiste, que faz questão de não apagar marcas de sangue da parede para que elas contem novas histórias, pobre em tecnologia mas rico naquilo que faz o povo mais forte do que nunca: sua cultura. Não poderia ser mais atual.

- Rodrigo Cunha

* desempate com Em Trânsito por ter ficado mais no top 3 dos editores


6. Coringa, de Todd Phillips (400 pontos)

Existem filmes de super-heróis. E existe o “Coringa”. Não lembro de um filme do cinemão americano, ainda mais ambientado no universo HQ, que tenha ido tão fundo na sua proposta de discutir a psicopatia de um personagem. Esqueçam o histrionismo exagerado do Jack Nicholson, em Batman, ou a canastrice desenfreada de Jared Leto, em Esquadrão Suicida, e até mesmo a psicopatia calculada de Heath Ledger, em O Cavaleiro das Trevas. O buraco aqui é mais embaixo. Coringa funciona tanto como um derivado dos filmes do Batman quanto como peça autônoma, muito antenada com o seu tempo (a sujeira e a violência das megalópoles, a demagogia dos políticos e a falta de empatia das pessoas), que, no limite, fala da eterna e inglória busca pela felicidade (a mãe do protagonista o chamava de Happy) e da necessidade do ser humano de ser visto, aceito e querido pelo outro. Mais que isso, como só acontece com alguns poucos filmes, Coringa transcende os limites da tela ao propor um debate sobre a banalização do mal (Hanna Arendt?), e se a violência do ser-humano é inata ou, num conceito mais freudiano, oriunda da sua linhagem e do seu meio (afinal de contas, o Coringa é o agente do caos ou o produto dele?). Mas todas essas ideias só dão certo porque o filme, que não é uma tese de mestrado de sociologia, é bom como cinema, seja pela sua engenhosa estrutura (cuja última sequência pode ou não desmentir tudo o que vimos antes), seja pelo seu clima sombrio, ou, claro, pela interpretação “give-me-this-fucking-Oscar” de Joaquin Phoenix. Coringa já nasceu como um - improvável - clássico.

- Régis Trigo


5. Assunto de Família, de Hirokazu Koreeda (450 pontos)

Um choque entre o que se entende por convencional nas narrativas sobre relações familiares, especialmente as de atmosfera leve e humanista conhecidas como feel good movies, e os desvios adotados por Hirokazu Kore-eda para narrar a sua história. Em Assunto de Família, a família mencionada pelo título nacional é menos sangue que coração: à margem dos padrões sociais, as relações retratadas questionam a definição de família promovida pelo catolicismo, embora compartilhem com ela um mesmo apreço por sentimentos que fundamentam essa doutrina - o amor, a solidariedade, a compaixão, a culpa, o perdão. Um lar preenchido por duras histórias, afetos e desilusões; vidas que não seguem cartilhas, mas buscam criar entre si laços fundamentais para sobreviver em sociedade, mesmo quando essa sociedade lhes dá tão pouco. A perenidade do tom agridoce nem sempre parece a melhor opção para representar o drama, gerando um filme que por vezes toca uma nota só, mas é curioso como Koreeda abraça cada clichê das histórias familiares alterando sua moral. Garantiu ao diretor sua primeira Palma de Ouro, em 2018, e reconhecimento internacional que não obteve mesmo em suas melhores obras.

- Daniel Dalpizzolo


4. Era Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino (600 pontos)

Quentin Tarantino, pela primeira vez, abre mão da retórica pelos espaços. Não que seus personagens não dispunham de diálogos para se revelar, mas de alguma forma seus caminhos dessa vez falam muito mais do que a dialética revela. Nessa configuração não importam os cenários fechados, mas a amplitude por onde vagueiam e a forma como cada ambiência é devassada por seus corpos transcende e ressignifica a trajetória do autor. Partindo do pressuposto de que já atingiu um lugar definitivo como contador de histórias - a própria essência do Cinema, subvertida tantas vezes até o abraço completo em Os 8 Odiados - o autor parte para o outro lado da autoralidade, quando sublima sua mecânica da narrativa para invadir não mais o resultado da ação apenas, mas principalmente a construção celular de seus três protagonistas, munidos tanto de naturalidade quanto de sonho. Ao adentrar a indústria da fantasia e reenceenar a realidade com sensível beleza, Tarantino captura a sensorialidade do cinema para além da estrutura clássica; somos todos imagem em movimento ansiando pela liberdade que a tela grande proporciona ao invadir intimidades.

- Francisco Carbone


3. Ad Astra - Rumo às Estrelas, de James Gray (750 pontos)

Enquanto ficção cientifica, Ad Astra começa onde um 2001 – Uma Odisséia no Espaço (o maior marco do gênero) termina: as viagens interplanetárias, passando de Júpiter para Saturno, até Netuno, onde o pai (Tommy Lee Jones) do protagonista astronauta (Brad Pitt) desapareceu há muitos anos sem deixar maiores rastros. Histórias imaginativas são frequentes na ficção cientifica tanto no cinema quanto na literatura, mas onde Ad Astra mais invoca 2001 é na estética e na seriedade com que são tratados o espaço sideral e sua vastidão (o que deveria ter sido a norma dos filmes do gênero nos últimos cinquenta anos), o que pode ser também um coração das trevas, em referência à obra literária que inspirou Apocalypse Now, com o jovem em missão de busca pelo mais velho que aparentemente se perdeu em suas ambições e grandiloquências. Destaque para uma admirável cena de perseguição de piratas espaciais em solo lunar. Em comum com a filmografia de James Gray, tragédias e traumas familiares e uma viagem que pode ser tanto de retorno quanto ao desconhecido. Uma de suas obras-primas.

- Vlademir Lazo


2. Parasita, de Joon-ho Bong (920 pontos)

O filme de Joon-ho não apenas demonstra sua maturidade de domínio cênico, mas sim como ele a aplica na preocupação mais elementar das artes, a conexão entre estética e ética. É um filme de muitos níveis: fala sobre a arquitetura de uma casa e a arquitetura de classes. Nos faz compreender a vida dos subterrâneos e explora as inseguranças dos que se colocaram em pedestais de cimento. Outro andar a ser visitado é o do horizonte da expectativas, pois como todo filme moderno por excelência, as perspectivas de gênero são múltiplas e visitam-se salas de comédia, quartos de drama e porões de terror. A exploração que o cineasta faz da narrativa visual, antagonismo de duas famílias por meio da montagem e operando a narrativa social reflexiva abaixo do andar da narrativa farseca do golpe, mostra o porque de ser um dos cineastas mais importantes do nosso tempo. Seu Parasita escancara portas para as potencialidades de fabulação contemporâneas.

- Bernardo Brum


1. O Irlandês, de Martin Scorsese (950 pontos)

Foi em A Invenção de Hugo Cabret que Scorsese começava timidamente a tratar sobre a constatação do efeito implacável do tempo, que cedo ou tarde atinge a todos. Foi lá também que ele chorou o fim do cinema em seu conceito primário, clássico. Em O Irlandês, no entanto, ele aplica a reflexão ao seu próprio cinema, sua geração, a Hollywood que ele ajudou a moldar como é hoje, ao lado de um time que por si só reunido já carrega todo o significado de uma era que já se encontra em sua etapa final. Ele também aplica, antes de tudo, a si. O Irlandês é um filme de máfia em que se cruzam todos os seus filmes, que ecoa o tempo todo todas as características definidoras do seu cinema em escala mais baixa, em um tom menor, de conclusão, de testamento, de epitáfio - do cineasta e do homem. Coppola o fez em Tetro, Eastwood em Gran Torino, Monte Hellman em Caminho Para o Nada, e assim um a um dos cineastas da Nova Hollywood se despede e se prepara para o canto do cisne, antes que a finitude os encontre e os impeça de deixar seu legado finalizado - como Chaplin em Luzes da Ribalta, não o seu último filme, mas seu consciente testamento em vida como homem e como cineasta. Que lindo que isso ocorra com De Niro, Keitel e Pesci, que emblemático que antes tarde do que nunca numa parceria inédita com Al Pacino. Todos encerram juntos o ciclo de uma carreira e de uma vida. Anna Paquin, que atriz! Hugo Cabret antecipou o que O Irlandês acaba de concluir ao fim desta década no cinema americano: "O tempo é tudo, tudo..."

- Heitor Romero


Listas Individuais

Rodrigo Cunha

Era Uma Vez em Hollywood
Parasita
O Irlandês
Ad Astra
Em Trânsito
Assunto de Família
A Mula
Dor e Glória
Bacurau
Coringa

Alexandre Koball

Midsommar
Bacurau
Democracia em Vertigem
História de um Casamento
Parasita
Era Uma Vez em Hollywood
O Irlandês
A Maratona
Nós
Coringa 

Daniel Dalpizzolo

Ad Astra
O Fim da Viagem, o Começo de Tudo
Era Uma Vez em Hollywood
Em Trânsito
O Paraíso Deve Ser Aqui
A Mula
Parasita
Estação do Diabo
Vidro
Imagem e Palavra

Bernardo Brum

Parasita
O Irlandês
Nós
Coringa
Assunto de Família
Ad Astra
Homem-Aranha no Aranhaverso
Entre Facas e Segredos
História de um Casamento
Dor e Glória

Heitor Romero

Parasita
Ad Astra
O Irlandês
Assunto de Família
Era Uma Vez em Hollywood
Temporada
Dor e Glória
A Favorita
Toy Story 4
Vidro

Francisco Carbone

Sinônimos
O Irlandês
Era Uma Vez em Hollywood
Parasita
Assunto de Família
Em Trânsito
Ad Astra
A Favorita
Amanda
Suspiria

Rodrigo Torres

Ad Astra
O Irlandês
Parasita
Era Uma Vez em Hollywood
Guerra Fria
Vermelho Sol
Em Trânsito
Sinônimos
Assunto de Família
História de um Casamento

Cesar Castanha

Uma Mulher Alta
Temporada
Em Trânsito
O Irlandês
Inferninho
No Coração da Escuridão
Los Silencios
Ad Astra
Poderia Me Perdoar?
Sinônimos

Régis Trigo

Parasita
Coringa
História de Casamento
Vice
O Irlandês
Dois Papas
Ad Astra
Cafarnaum
Homem-Aranha no Aranhaverso
Nós

Vlademir Lazo

Ad Astra
Vidro
Era Uma Vez em Hollywood
A Mula
Imagem e Palavra
O Irlandês
Amanda
Amor Até as Cinzas
O Homem que Matou Dom Quixote
Varda por Agnès

Marcelo Leme

O Irlandês
Parasita
Assunto de Família
Toy Story 4
Em Trânsito
Coringa
Bacurau
Ad Astra
Dor e Glória
Era Uma Vez em Hollywood

Silvio Pilau

O Irlandês
Parasita
Coringa
Homem-Aranha no Aranhaverso
Se a Rua Beale Falasse
Assunto de Família
No Portal da Eternidade
Ad Astra
Bacurau
Era Uma Vez em Hollywood

Rafael W. Oliveira

Parasita
Bacurau
O Irlandês
Ad Astra
Assunto de Família
Anos 90
Temporada
No Portal da Eternidade
Vidro
Predadores Assassinos

Léo Felix

Bacurau
Coringa
A Vida Invisível
Democracia em Vertigem
Era Uma Vez em Hollywood
Dor e Glória
História de um Casamento
Dois Papas
O Irlandês
Homem-Aranha no Aranhaverso

Comentários (3)

Jonas Bittencourt Jr. | quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2020 - 17:31

Nossa, muito filme de 2018(até 2017, se levar em conta quando foi produzido, como Assunto de Família) aí nas listas individuais rsrd...Mas no geral, boa matéria com excelentes filmes.

Rodrigo Cunha | sábado, 29 de Fevereiro de 2020 - 00:28

"listas individuais de top 10 que estrearam comercialmente no país"

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