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O cinema de terror atual

Não sei se vocês já notaram, mas a maioria dos gêneros cinematográficos está passando por um momento de transição, assim como tudo no mundo moderno. Mas o problema não está especificamente em mudanças ou na modernização em si – isso falando para os mais nostálgicos – e sim nas consequências que elas trazem. E aqui gostaria de enfatizar um gênero pelo qual muitas pessoas são aficcionadas: o Terror.

Esse gênero, em especial, sempre está ressuscitando (sem nenhum trocadilho), graças a produções que de vez em quando dão um novo rumo a ele. Quando achamos que tudo o que poderia ter sido filmado e/ou escrito já nos foi apresentado, aparace mais alguém com algumas idéias “originais” para dar mais uma sobrevida até a próxima saturação. Dentro desse gênero, há vários sub-gêneros. Vou me ater especialmente aos filmes de terror que apelidei de “Terror Policial” e também “Terror do Barulho”.

Antigamente, quando assistíamos a um bom filme de terror, aquela experiência ficava em nossas mentes por vários e vários dias (senão meses), como se na primeira esquina fôssemos encontrar um assassino mascarado com um machado na mão, ou um espírito nos pegasse no escuro. Acho que isso acontecia pois as histórias não se preocupavam em fornecer muitas informações “relevantes” sobre os acontecimentos que víamos na tela, e sim a única preocupação dos roteiristas e diretores (sem falar nos produtores), era causar um entretenimento barato (para eles também), e assustar de modo que não precisássemos nos apegar a detalhes da história para entender porque a mocinha que morreu num poço agora voltou e quer matar todo mundo.

Para melhor exemplificar o que quero dizer, traçarei um paralelo entre dois ícones do gênero: um mais antigo – “Sexta-Feira 13” – e um que inovou o gênero “terror policial” – “O Chamado”. Chamo esse assim pois em todo filme alguém que está prestes a ser consumido por alguma maldição corre para a biblioteca mais próxima ou ainda fica horas em frente a um computador em algum site de busca tentando descobrir de onde veio essa maldição, ou como ela surgiu e coisas do gênero, como se fosse um investigador policial. E isso, ao meu ver, não assusta muito as pessoas.

Tanto em um filme quanto em outro, temos uma história semelhante: criança morre afogada e volta para se vingar. Mas enquanto no filme do assassino mascarado não precisamos nos ater tanto na história do vingador, mas sim, em como que a próxima vítima será esquartejada, no outro, temos de prestar “atenção” na origem propriamente dita da personagem principal e seu motivo para tanta matança. Também tenho a plena convicção de que um assassino morto-vivo, de quase dois metros e com um machado na mão (sem falar que ele é incansável)  me assusta muito mais do que uma menininha dentro de um poço que usa uma fita de vídeo e ainda liga para suas vítimas (e se a pessoa que assistiu não possui telefone ou está em algum lugar sem área para celular?). Garanto para vocês: Jason sempre permanecerá na cabeça dos cinéfilos, enquanto a menina de O Chamado (viu? até esqueci do nome dela) sairá logo do imaginário nosso e dará lugar a algum outro sub-gênero do terror.

Agora mostrarei em alguns exemplos o porquê do gênero “terror do barulho” - também ao meu ver - está muito saturado. Primeiro gostaria de dizer que clássicos do gênero terror como Nosferatu (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, 1922) de F. W. Murnau, que com suas sombras de gelarem a espinha de qualquer um, não possuem sequer um momento em que o som quer se sobrepôr à história. Isso para citar apenas um exemplo. Esse tipo de filme não funcionaria hoje com nossos jovens que procuram muito barulho e sangue. Por isso que esse sub-gênero do terror, mesmo saturado, sempre tem mais algum exemplar para nos surpreender. E se você tentar assistir a um filme desses de olhos fechados, levará o mesmo susto que se estivesse atento às cenas, ou se baixasse totalmente o volume de sua TV, dificilmente seria pego desprevenido. O que mostra que o medo está sendo imposto às pessoas através de sons e imagens nauseantes e não de premissas que, mesmo sendo simples, podem nos deixar receosos.

Mais um pequeno exemplo de como esses filmes estão batidos, é que todos contam com um elenco bem numeroso, onde se encontram os mais variados estereótipos (garota bonita, garoto forte, garota esperta, garoto corajoso...). Em meio a isso, os filmes sem roteiro adequado e contando com atores menos expressivos ainda tentam nos brindar com imagens nausenates (vide a trilogia Possuída, Jogos Mortais, etc...), histórias sem o mínimo esforço de seus realizadores (De Volta à Casa da Colina, Viagem Maldita, O Grito...) e muito mais situações que poderiam ser citadas aqui, mas tomariam muitas linhas. Por essa e por outras que, mesmo sendo um gênero que faz sucesso (entre os mais jovens especialmente), sabemos que ele sempre estará ressuscitando como Jason Voorhees.

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