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John Carpenter e o fascínio do horror


Como quase todo diretor que surgiu no cenário dos filmes de horror do cinema americano nos anos 1960/1970, John Carpenter acumulou ao longo dos anos um misto de prestígio, culto e gradual decadência. Hoje seu nome ao mesmo tempo evoca a paixão de uma legião de cinéfilos apaixonados por clássicos como Halloween - A Noite do Terror (Halloween, 1978), Eles Vivem (They Live, 1988) e O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), e o repúdio de fãs decepcionados com títulos menores como Aterrorizada (The Ward, 2010) e Pro-Life (Masters of Horror - Pro-Life, 2007). Mas no meio desses extremos há alguns títulos nem sempre lembrados e que vale a pena conhecer, e essa é a proposta da coleção John Carpenter, da Obras-Primas do Cinema. 

Com dois DVDs, o digipak traz quatro filmes do diretor, três deles de seu início de carreira. Cards que reproduzem a arte original dos pôsteres de cada um dos filmes da seleção também estão inclusos. No primeiro disco temos Assalto à 13ª DP (Assault on Precinct 13, 1976) e Dark Star (idem, 1974), dois trabalhos distintos que tratam de vertentes muito exploradas por Carpenter ao longo de sua carreira, o primeiro no terreno do suspense policial e o segundo no horror de ficção-científica. Por ser um dos seus primeiros filmes, Assalto denuncia o caráter cinéfilo do cinema de Carpenter na referência ao seu ídolo-mor: Howard Hawks. Toda a dinâmica de grupo e a relação de hierarquia, rivalidade, competição e tensão por limitação de espaço fazem deste um dos filmes modernos mais hawksianos do cinema. Já Dark Star denuncia o lado “filme B” do diretor, que trabalhou tantas vezes no limite do tosco e do brega, fazendo do baixo orçamento um aliado ao invés de um obstáculo, também sob influência de Hawks. Ainda que pequeno, é uma pérola rara. 

O segundo DVD traz o filme em que mais se nota a influência de Alfred Hitchcock sobre o cinema de Carpenter, embora nem sempre os dois sejam associados, já que Brian De Palma ocupou o posto de herdeiro oficial do mestre do suspense. Alguém Me Vigia (Someone’s Watching Me!, 1978) é basicamente uma lição de casa de quem assistiu muito ao clássico Janela Indiscreta (Rear Window, 1954). Brincando com próprio cinema e o apelo voyeur, Carpenter aqui amadurecia seu estilo e se divertia com um suspense estilo supercine sobre uma mulher sendo perseguida por um maníaco. Ecos do terror italiano, tão em alta nessa época, também se notam nesse filme. Trilogia do Terror (The Body Bags, 1993) dá um pulo já para a fase mais madura do diretor, após a realização de suas grandes obras-primas, em uma antologia em que ele dividiu espaço com Tobe Hooper. Dos três curtas, dois são dirigidos por Carpenter, e de longe são os mais interessantes. Irregular, é um trabalho que vale pela curiosidade de ver dois grandes cineastas atuando em um projeto coletivo, como ele viria a fazer nos anos 2000 com a série Masters of Horror, ao lado de Dario Argento, Larry Cohen, Joe Dante, Stuart Gordon, John Landis, Takashi Miike e mais uma vez Tobe Hooper. 

Para os fãs de Caprenter, diretor subestimado entre as distribuidoras brasileiras, a chance de ter títulos raros como esses quatro é imperdível. Renegados, a maioria deles era achada somente em má qualidade de som e imagem, mas agora se reúnem restaurados. Ainda conta com extras nos quais é possível ver uma entrevista do diretor, uma discussão sobre Trilogia do Terror e outra entrevista com Nancy Loomis, atriz que atuou em vários filmes do cineasta. 

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