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Especial 10 Anos Cineplayers - Filmes de 2012

A partir de hoje, iremos divulgar uma série de artigos que se dedicam a falar sobre alguns dos maiores destaques de cada ano a partir do atual, de 2012, até o lançamento do Cineplayers, no hoje longínquo 2003.

Cada editor teve o direito de escolher uma, e apenas uma, obra de cada ano, considerando o lançamento e não sua data comercial brasileira, e sem repetições, falando um pouco do porquê de sua escolha. Antes de vocês reclamarem que faltou filme X ou Y, pensem em qual vocês escolheriam se estivessem na mesma situação, podendo falar sobre apenas um nos comentários e o porquê; compartilhem conosco! Vocês verão o quanto a tarefa foi difícil, principalmente vendo um filme que você ama ficando de fora no final.

Vamos às seleções de 2012, por ordem alfabética.

 

007 - Operação Skyfall, de Sam Mendes

Com o fim do comunismo e a confirmação de que os russos não comiam criancinhas, o mais famoso espião do cinema se tornou uma figura anacrônica e obsoleta. Perdida nesse novo cenário, a série patinou por mais de uma década na busca de um novo rumo para o seu protagonista (Pierce Brosnan que o diga!). Valeu a pena esperar: 007 – Operação Skyfall, um dos melhores de toda a franquia, é o primeiro filme a questionar a utilidade dos espiões internacionais – e da própria série por extensão – neste mundo que não conhece o rosto de seus inimigos. Aliado a esses aspectos que transcendem à obra (menção também à bela sequência de abertura), Skyfall talvez seja o filme de maior conteúdo psicológico entre todos os filmes da série: a obsessão edipiana do vilão Silva (Javier Bardem) pela sua mentora; a figura materna de M (Judi Dench), que assume o papel de uma bond-girl disfarçada; e o próprio James Bond (Daniel Craig), que é obrigado a retornar às memórias mais remotas da sua infância para enfrentar os perigos do presente. A lamentar apenas a incorreta tradução do título no Brasil (não há nenhuma operação secreta comandada pelo Governo Britânico), que deixa escapar a sutileza o significado da expressão “Skyfall”.

- Régis Trigo

 

Argo, de Ben Affleck

Para quem surgiu para o mundo do cinema com um Oscar em roteiro original, não deveria ser irônico pensar que Ben Affleck vem sendo muito mais reconhecido por seu trabalho recente atrás das câmeras do que pelo tempo em que ficou a frente delas. Argo é o seu terceiro projeto na direção, que vem se mostrando segura, relevante, de aspectos técnicos quase setentistas em seus planos secos e diretos. A história é sempre levada à frente sem muita enrolação e há nela, principalmente, muito conteúdo na abordagem quase clínica da tensão da Revolução Iraniana, que fez com que a CIA fosse até o país em conflito para retirar reféns foragidos na embaixada canadense de lá. Sem deixar de lado a dramatização hollywoodiana ao criar a tensão em uma conclusão que flerta com o exagero, mas sem deixar o espectador desacreditar naquilo que está em tela, Argo talvez venha para confirmar o que Affleck vem tentando alcançar desde que se lançou como ator: o respeito da crítica e a ansiedade do público pelo seu próximo filme.

- Rodrigo Cunha

 

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge como uma prova de que grandes filmes de Hollywood ainda podem ser feitos da forma antiga, sem que toda cena seja lotada de efeitos especiais. O diretor buscou isso e entregou um filme de tom realista, com cenas de ação impactantes e, junto aos ótimos personagens, criou uma obra de super-heróis que emociona e entretém como poucas. Bane como vilão não é tão inspirador quanto o inesquecível Coringa de Ledger, mas sua voz é inesquecível. Não foi perfeito, pois algumas decisões cruciais do roteiro ficaram a dever – principalmente o clímax – mas é um dos grandes filmes de 2012, senão o melhor. 

- Josiane K

 

Cosmópolis, de David Cronenberg

"Sempre fui o mais novo entre meus amigos... mas um dia isso começou a mudar." Cosmópolis trata de um tempo que passa rápido demais, escoando por entre nossos dedos, numa existência diluída pelo capitalismo tecnológico que avança sem que ocorra também uma evolução no campo das relações humanas, éticas ou sociais, o que há muito vem sendo tratado na filmografia do diretor canadense, com o homem moderno se rendendo a ferramentas que de certa forma o desumanizam (ou o anestesiam). Em sua queda por livros infilmáveis que resultam em filmes estranhos (depois de Naked Lunch e Crash nos já distantes anos 90), Cronenberg recria o romance de Don De Lillo com uma carga simbólica bastante envolvente e identificável em suas imagens. A limusine como nave ou caixão. O personagem como um vampiro a engolir a todos a sua volta e depois se autodestruir. O sangue na própria superfície do filme (não é um filme muito limpinho não). O sexo. A política (trata-se de um filme de horror político com todo o caos social e econômico que toma a tela durante a jornada do protagonista). Um filme trabalhado na medida certa, menos para impressionar em demasia do que para perdurar quem sabe por um século inteiro como um dos mais justos retratos de nossos tempos.

- Vlademir Lazo

 

Frankenweenie, de Tim Burton

Os filmes de Tim Burton foram tornando cada vez mais pomposos e maneiristas na última década, com um apuro visual que não encontra respaldo no restante do filme. A impressão que se tinha era que Burton ultimamente havia se limitado a ser o diretor de arte de seus próprios filmes, reduzindo tudo, da dramaturgia à direção de atores, a apenas um adendo para seu verdadeiro ofício, que seria, talvez, o de artista plástico. Frankenweenie, ao contrário, para alívio dos fãs, traz um Burton bem mais próximo do cinema, sem renunciar às artes plásticas. Mesmo sem ser um grande filme, é reconfortante ver o criador revigorado.

- Demetrius Caesar

 

Histórias que Contamos - Minha Família, de Sarah Polley

Como diretora de um documentário convencional, Sarah Polley posiciona a câmera frente a amigos e familiares e pede que contem suas versões da história da própria família. Surpreendentemente simples, sobre a tênue linha entre o instigante e o desinteressante, tal premissa rende, desde os minutos iniciais, depoimentos e quebras de quarta parede dos mais orgânicos e contagiantes. É então que a cineasta vai adentrando nas mais profundas mágoas da família Polley e, como uma verdadeira ficção, passa a apresentar atos bem delineados, marcados por reviravoltas dolorosas porém legítimas, até atingir um desfecho que se estende em três ou quatro finais, cada um mais comovente e esclarecedor que o anterior. Numa experiência catártica, a corajosa Sarah expõe feridas há décadas abertas e, indiretamente, a origem de suas influências enquanto cineasta: sua família. Pequena obra-prima, Histórias Que Contamos é a prova de que Sarah é tão esclarecida e humana quanto os personagens que marcam sua recente e promissora carreira.

- Rodrigo Torres de Souza

 

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, de Peter Jackson

O Hobbit foi um dos filmes mais antecipados dos últimos 10 anos. Peter Jackson assumia novamente o desafio de levar às telas uma obra literária antes “infilmável”. A história de O Hobbit é bem mais pessoal, menor, e acabou não conquistando a mesma atenção da crítica que a aclamada trilogia “O Senhor dos Anéis”. Mas o que foi entregue foi uma aventura de fazer brilhar os olhos, com muita ação e com efeitos especiais superiores. O Hobbit pode ser considerado a definição do cinema de aventura – todos os elementos estão lá, entregues com amor que pode ser sentido em cada cena. O diretor Peter Jackson – que por muitas vezes leva o filme a direções mais épicas que a história original de Tolkien propõe – cometeu alguns excessos visuais, mas entregou uma obra digna do livro.

- Alexandre Koball

 

Holy Motors, de Leos Carax

Mesmo que não fosse um dos melhores filmes de 2012, Holy Motors certamente entraria para o hall dos mais intensos e corajosos. Através das mãos de Leos Carax, a relação espectador-filme ganha dimensões caóticas, uma vez que o conhecimento prévio a respeito de um gênero cai por terra ao longo do trajeto que toma um dia e parte de uma noite de Sr. Oscar, sujeito cujo trabalho é assumir diversas identidades. Não é possível existir grande empatia pelo protagonista, uma vez que não há tempo para entendermos com alguma profundidade cada uma de suas muitas vidas. Então, o que faz de uma obra tão estranha algo tão bom? Justamente a facilidade com que o diretor francês trafega por espaços e eventos absolutamente extremos. Holy Motors é, antes de um filme pronto, uma amostra das possibilidades ilimitadas da arte. Ao Sr. Oscar cabe a tarefa de ser a perfeita representação do poder infinito que possui a mente de um artista, sendo (talvez) a limusine dentro da qual trafega uma espécie de metáfora dessa mente, pois de lá brotam todos aqueles seres tão belos (cada um à sua maneira) e distintos. Holy Motors é o fruto da crença total na força da imagem e da interpretação. Trata-se de uma manifestação tão grotesca quanto sublime.

- David Campos

 

Laurence Anyways, de Xavier Dolan

É verdade que Xavier Dolan é imaturo assim como o personagem que interpreta em Eu Matei Minha Mãe. Também é verdade que se considera brilhante e por isso certos excessos incomodam. Mas a segurança que esta falsa certeza traz para seus filmes coloca sua carreira atrás da câmera em uma crescente, e é por isso que o ótimo Laurence Anyways se torna ainda mais relevante. Não é só o personagem do título que está em transformação para descobrir-se completo, o próprio diretor segue esse caminho e, dessa maneira, merece ser destacado. O filme é longo, é verdade, porém um grande exercício de estilos e referências ao cinema cult e de cores vibrantes, que encanta pelos simbolismos jogados em cenas aparentemente menores e por detalhes que comprovam que, apesar do apego aos diálogos verborrágicos, Dolan é apaixonado também pela imagem.  

- Emilio Franco Jr.

 

Moonrise Kingdom, de Wes Anderson

O universo proposto por Wes Anderson foge do convencional com a intenção de contestar a normalidade, expondo os estranhos de Anderson frente aos estranhos que para nós são normais. Longos travelings nos apresentam a inusitados personagens junto a uma trilha sinfônica, sem nunca abrir mão do bom humor e da excentricidade. Nesse meio estão duas astutas crianças que vivem refutando a lógica da convivência dos habitantes da pequena ilha onde a história é contextualizada, permitindo-se viver uma aventura centrada na fuga, próxima dos livros que um deles carrega. É a experiência de mundo e descobertas em virtude da necessidade da sobrevivência nesta obra sensível que se alastra por simbolismos a partir de uma ótica infantil, de nuance fabulista e narrativa estridente com cores fortes e significados universais.

- Marcelo Leme

 

A Perseguição, de Joe Carnahan

A Perseguição é um filme que engana. Apesar de vendido como mais um esforço de Liam Neeson para se firmar como herói de ação, o novo trabalho de Joe Carnahan tem muito mais a oferecer do que parece, revelando, por trás da violência e dos lobos famintos, uma história repleta de camadas, que ousa até mesmo tratar de temas espinhosos, como a fé e a aceitação da morte. Não que o filme não funcione como ação; quem busca apenas isso certamente encontrará o que procura, em cenas bem construídas pelo cineasta, capazes de gerar tensão na plateia à medida que a ameaça se torna mais palpável aos personagens. Mas assistir A Perseguição dessa maneira é perder a chance de refletir sobre grandes questões. Afinal, por que lutar pela sobrevivência quando já se desistiu da vida? No que se apegar quando toda a esperança parece perdida? São perguntas propostas por Carnahan sempre de forma orgânica, natural, fazendo de A Perseguição uma experiência recompensadora. E, ao final, quando Liam Neeson declama os curtos versos de um poema ao som de uma bela trilha, o espectador se dá conta de estar diante de algo cada vez mais raro: um filme de ação com cérebro.

- Silvio Pilau

 

Post Tenebras Lux, de Carlos Reygadas

O experimentalismo de Carlos Reygadas volta a reinar em Post Tenebras Lux e torna o filme pleno de singularidades que galvanizam discussões centrais sobre a penosa condição humana. Do longo plano de abertura que acompanha os passos incautos e desengonçados de uma garotinha em um campo cheio de vacas ao epílogo inconcluso, o realizador é capaz de produzir imagens desconcertantes e plurissignificativas. Trata-se de uma viagem para pequenas plateias facilmente emparelhável aos portentosos devaneios litúrgicos de A Árvore da Vida, que reafirma a insuficiência das palavras ante ao poder de impacto de um visual bem arquitetado. Caleidoscópica, a senda obscura reclama o espírito contemplativo do espectador e sobrepõe tempos, espaços e situações que refletem incomunicabilidade, culpa, desejo e incoerências. É como estar diante da visão de um triângulo escaleno que exprime um pulsar devastador e um magnetismo sem igual.

- Patrick Corrêa

 

Prometheus, de Ridley Scott

Na mitologia grega, Prometheus era um titã designado a criar todos os homens e animais da terra, que ousou roubar o fogo de poder e vida dos deuses e dá-los aos humanos. Já o Prometheus-título do filme de Ridley Scott é uma nave espacial que viaja para um planeta distante a fim de encontrar vida extraterrestre e, se possível, descobrir a origem da raça humana. Não somente os nomes são iguais, mas tanto o Prometheus da mitologia grega quanto o novo filme de Ridley Scott representam em suas histórias a eterna busca do homem pela origem da vida, além de discutirem os efeitos positivos e negativos do poder excessivo na mão do homem imperfeito. Comedido nos efeitos especiais, é um filme que se vale do que havia de mais físico no cinema dos anos 70 e 80, criando uma conexão muito forte com Alien, mais pelo seu visual do que pela história em si. Foi um bom retorno de Scott ao que sempre deu mais certo em seu cinema, um trabalho que já nasceu nostálgico e ao mesmo tempo muito atual. O toque especial está no robô interpretado por Michael Fassbender que, em um filme que discute tanto sobre o homem, seu poder e suas possíveis origens, se mostra o ser mais racional e sensível diante de uma nova descoberta.

- Heitor Romero

 

O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho

O anti-horror de Kleber Mendonça Filho é sobre o horror invisível, a monstruosidade que ouvimos, mas não vemos e testemunhamos, mas não reagimos;  uma tour de force no trabalho com o som como principal base narrativa e atmosférica do filme. O inferno urbano de Kleber trata sobre uma distância perto demais, onde é expressa a mentalidade feudal que ainda reina em um Brasil contemporâneo. Latifundiários do asfalto oprimem e intimidam ao mesmo tempo que se desesperam e morrem de medo. Os miseráveis jamais são ameaça concreta, mas são fonte de medo o tempo todo. É nessas rachaduras da estratificação social que surge esse filme sobre senhores de terra entediados e apavorados que serão constantemente questionados e, enfim, cobrados. Assim como o próprio cinema que O Som ao Redor representa; um filme que não se responde, que luta contra o pathos, a moralidade, o clímax. Kleber se vê obrigado a fazer um cinema contemporâneo, estranho e anacrônico, para encenar uma situação engessada há séculos aceita como tradição normativa. O mais aterrorizante não é o mal que desconhecemos; é o que conhecemos até demais para poder agir contra.

- Bernardo D.I. Brum

 

Sombras da Noite, de Tim Burton

Sombras da Noite é o tardio levante contra o cinema bundamole e inofensivo que Burton pratica desde Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. Há uma necessária irregularidade ou inconsequência em Sombras que agride olhos acostumados a filmes redondinhos despojados da memória de outros tempos, de Marte Ataca!, Ed Wood e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, ou do fraco (mas extremamente relevante) Batman com Michael Keaton. Faltava a Burton essa escalada de decisões irresponsáveis que rejeita a correção de quem emula um classicismo insípido para ir buscar o estranhamento justificado, para submeter sua estética cansada a uma superexposição, para dar falas como “Carolyn touches herself. She makes noises like a kitten” a um personagem de 10 anos de idade, fazer a cena de sexo mais ridícula dos últimos tempos e ter a cara-de-pau de filmar e manter uma piada ao mesmo tempo ruim e genial como “The Collins family have always held the biggest and most wonderful balls”. Um resgate (talvez circunstancial, talvez não) do velho apetite de Tim Burton pela tangente.

- Luis Henrique Boaventura

 

Tabu, de Miguel Gomes

117 réveillons foram celebrados desde que os Lumière apresentaram ao mundo, como costumava dizer Benjamin, a arte que justificaria a modernidade. Temos no cinema, desde então, uma testemunha incondicional da realidade e da imaginação, um museu contemporâneo, companheiro leal e legítimo do homem: nas suas imagens estabelecem-se laços de memória e de narração, de documentação, reflexão e ilusão, como numa extensão artificial da mente humana. Em um ano cuja indústria do cinema mostrou-se nostálgica com sua própria história, foi o português Miguel Gomes quem apresentou o filme que melhor soube lidar com essa relação. Através de um híbrido entre fábula e memória, sonho e narração, um truque fundamental nos desloca poeticamente do presente para um tempo perdido na história, seja dos personagens que filma, do contexto em que vivem (a Europa atual, a África colonizada) ou do próprio cinema. A linguagem dos filmes mudos se projeta na narrativa via fluxos de memória, numa experiência que contempla o que há de mais belo e trágico neste olhar para o passado, devolvendo ao espectador o que nele existe de mais essencial, o esplendor de sensações carinhosamente preservadas e que na memória e no cinema vivem para sempre. 

- Daniel Dalpizzolo

Comentários (56)

James William | terça-feira, 19 de Março de 2013 - 11:19

Nossa só filmaço, acabei de assistir Prometheus e não esperava nada do filme, achei o filme ótimo impressionante, superou minhas expectativas!

Rosana Botafogo | sexta-feira, 11 de Maio de 2018 - 22:52

Em 2022 farão sobre os ultimos 10 anos? kkkk... delícia o artigo... s2...

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