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A Corrida do Ouro: a hora delas

Essa semana a Corrida do Ouro vem falar sobre uma categoria que sempre interessa a todos que acompanham premiações no mundo. Nos últimos anos a disputa de atriz vem sendo muito mais emocionante que a de seus pares masculinos, tanto pela qualidade das indicadas e possíveis contendoras, quanto pela premiação em si, que tem atraído olhares geralmente bem antes das indicações saírem. As vagas são sempre 5, já os requerimentos para as mesmas são muitos. Hoje, podemos dizer que pelo menos umas 8 atrizes têm chances reais de conseguir uma indicação esse ano. Elas são muito diferentes entre si.
Diferente do equivalente masculino, a possibilidade de biografias aqui é sempre menor, em feitura principalmente e essa reflexão por si só já valeria um debate; porque personagens femininas não rendem tantas biografias? Lógico que nunca atrapalha você estar representando uma figura real, contemporâneas ou não a nós. A última vencedora com essa característica já faz 7 anos, justamente a dita maior de todas Meryl Streep, como Margaret Thatcher em Dama de Ferro. Foi a única da década até agora e parece que continuará sendo, ao passo que na década passada 7 das 10 premiadas interpretavam figuras reais. Ainda assim, neste ano parece que quatro atrizes com maiores chances tentam concorrer representando mulheres que existiram mesmo.
O grupo de possibilidades é um leque aberto entre uma cantora, uma escritora, uma empregada doméstica, uma assaltante, uma policial, e não uma mas duas rainhas! Sobram candidatas com justas indicações e como já dito, o número de vagas é apertado. Um ano após vermos a segunda vitória na categoria de Frances McDormand em uma performance unânime, teremos esse ano mais uma vez aquele embate que esse categoria tem visto ocorrer com quase certeza anual, a jovem 'it girl' que desponta para o sucesso x a veterana em momento definitivo. Ano passado venceu a experiência, mas geralmente essa categoria tem uma preferência pelas revelações, não se sabe exatamente o motivo, mas essa narrativa da jovem estrela dá certo com extrema frequência.
Como exemplo, nos últimos 20 anos, 14 atrizes com menos de 35 anos levaram o Oscar de melhor atriz; no mesmo período, apenas 2 homens repetiram esse feito. Porque os homens maduros ganham prêmio mas as mulheres são premiadas logo no início de suas carreiras? Pq as mulheres têm mais chances da consagração prematura do que os homens? Isso seria positivo para a carreira dessas atrizes? São perguntas com muita pertinência, cujas respostas são complexas justamente porque a situação é diferente entre mulheres e homens. Por enquanto o que posso fazer é apresentar a vocês as 10 mulheres mais bem posicionadas da atualidade; serão elas rolos compressores? A corrida vai dizer...
1) Por que Lady GaGa?
Deve ser a pergunta mais inicialmente insólita que qualquer um fará nessa corrida, e muito mais nessa posição. Como foi que Steffani Germanotta passou de estrela extravagante pop, cantora desacreditada há 10 anos atrás que se dizia de duração limitada, até protagonista de um dos principais concorrentes da temporada 2018 e dona de uma interpretação surpreendente, elogiada no mundo todo, é uma das mágicas do diretor Bradley Cooper em Nasce uma Estrela, mas não dá pra negar que GaGa há 10 anos quebra todas as expectativas feitas a seu respeito. Ela tem algo que é a favor e contra si mesmo, igualmente: compositora da canção provavelmente vencedora (Shallow deve ser hoje a maior barbada entre as 24 categorias do Oscar), ela já está com um Oscar na mão. Darão dois?
2) Por que Glenn Close?
Bom, a resposta a essa pergunta deveria ser 'porque sim', e acabou. Toda vez que o mundo clamar que a maior atriz viva americana é Meryl Streep, é sempre bom lembrar que Close é contemporânea a ela e provavelmente uma das principais afetadas dessa mitificação criada ao redor de Streep. Dona de um talento espetacular conhecido há quase 40 anos, Close foi a dona dos anos 80 junto à supracitada, emplacando na década suas primeiras 5 indicações (O Mundo Segundo Garp, O Reencontro e Um Homem Fora de Série' como coadjuvante; Atração Fatal e Ligações Perigosas como protagonista), e lá já viu duas gigantescas injustiças acontecerem, ao perder os dois Oscars como atriz principal para interpretações inferiores. Voltou a concorrer há 7 anos por Albert Nobbs (e perder pra... Streep) e esse ano tem em A Esposa sua grande chance em 30 anos, como a mulher eclipsada pelo marido durante toda a vida. De novo com uma estrela pop em seu caminho (Cher venceu dela em 87), é a hora e a vez de Close, por justiça histórica e por justiça anual: está mais uma vez esplêndida.
3) Por que Olivia Colman?
O Oscar ama 'a vencedora do Copa Volpi do Festival de Veneza', no geral. O Festival tem acostumado a apresentar formidáveis candidatas à categoria e Olivia é o exemplo supremo dessa máxima. Sua performance em A Favorita é daquelas inesquecíveis, sua rainha Anne dificilmente não estará recheada de menções ao final da temporada, de maneira merecida. A estrutura do roteiro do longa de Yorgos Lanthimos, no entanto, abria possibilidade para essa interpretação ser destacada na categoria coadjuvante, de onde Olivia evidentemente sairia vitoriosa. Porque não escolher a categoria mais fácil de vencer e coroar a atuação magistral de Olivia, Fox? Coisa de estagiário, dirão alguns... o ano está só começando pra essa fantástica inglesa que infelizmente está na primeira indicação, mas que merece muito mais.
4) Por que Melissa McCarthy?
Indicada no início da década como coadjuvante em Missão Madrinha de Casamento, Melissa foi catapultada para o estrelato com uma atuação elogiada, mas ainda aquém do que ela viria a mostrar. Enfileirou sucessos de qualidade duvidosa por anos até chegar no ponto em que está hoje, ainda com a qualidade duvidosa mas sem qualquer sinal de sucesso. Sua virada começou a se mostrar em Santo Vizinho, onde poderia ter conseguido nova indicação com uma interpretação delicada. Agora em Poderia me Perdoar?, Melissa vira o jogo e alcança um patamar altíssimo, graças à bela interpretação da escritura Lee Israel, das figuras mais entristecidas da temporada. É o pulo de Melissa que chega na hora certa, provando a máxima de que grandes comediantes são grandes atores, e pronto.
5) Por que Viola Davis?
Um mix de confiança vai pra essa possibilidade de indicação. Já visto em alguns festivais, Viúvas já foi aprovado e Viola idem; aliás, quando não é? Na pele de uma mulher que vai vingar a morte do marido tomando pra si sua atividade como criminoso, essa mulher já se provou capaz de tudo. Ano passado ganhou seu boneco por 'Um Limite entre Nós' depois de duas iniciais indicações (por 'Dúvida' e por 'Histórias Cruzadas') e agora é oficialmente um exemplo como atriz, mulher e voz atuante na defesa dos direitos de tantos que ela defender, como seus pares. Dirigido por Steve McQueen, o filme está com cara de um dos hits do Dia de Ação de Graças, o que pode ajudar o filme a não ser esquecido e ultrapassar uma barreira grande: ter três atrizes da Fox indicadas (as duas acima também o são). O talento e a adoração que adquiriu dentro da indústria podem decidir a seu favor.
6) Por que Yalitza Aparicio?
Guardem esse nome, definitivamente. Se Olivia Colman ganhou a Copa Volpi em Veneza, Yalitza era a protagonista do Leão de Ouro do Festival. Roma tá se tornando ensurdecedor, sua turma de fãs só faz crescer nos EUA, a imprensa americana quer colocar o filme num lugar nunca antes chegado para um filme não falado em inglês e pelo menos metade desse mérito estará nas costas de sua protagonista, a empregada inspirada na mulher que cuidou na infância do diretor Alfonso Cuarón. Com uma interpretação delicada e tocante, Yalitza tem toda a pinta de ser a 'estrangeira' da edição, uma categoria à parte dentro de "melhor atriz" que geralmente privilegia europeias (Isabelle Huppert, Emmanuelle Riva, Marion Cotillard), mas que já fez brilhar Catalina Sandino Moreno e nossa Fernanda Montenegro por lá. Yalitza tá no caminho certo, praticamente só esperando a queda de alguma das 5 anteriores.
7) Por que Julia Roberts?
Até pelo título do longa, enfatizando outro personagem, todos achavam que Julia iria tentar vaga aqui como coadjuvante. Foi ver o trailer de O Retorno de Ben para mudar não apenas essa certeza, como também a de que a estrela estaria fora da briga. Sua presença emociona já nos rápidos 3 minutos, e pra quem conferiu o longa, se trata de seu momento maior na carreira. Vencedora por Erin Brockovich e indicada outras 3 vezes (por Flores de Aço, Uma Linda Mulher e Álbum de Família), Julia merecia muito mais reconhecimento na carreira. A maior estrela dos anos 90 há muito já se provou versátil e intensa, e aqui vive a mãe de um jovem drogado em recuperação, que como uma leoa tentará livrar o filho de novas tentações. Quem diria que essa lindíssima mulher ainda tivesse fôlego para se reinventar? Não duvidem do poder de Julia.
8) Por que Nicole Kidman?
Essa aqui está no terceiro ano consecutivo como 'o ano de sua carreira' e não que já não tenha tido outros iguais a esses nos últimos 20 anos. Vencedora do Oscar por As Horas e indicada por Moulin Rouge!, Reencontrando a Felicidade e Lion, assim como Julia merecia ainda mais reconhecimento, pouco para tanto talento. Aqui volta a se desglamourizar para encarar uma policial traumatizada no thriller denso Destroyer, dirigido por Karyn Kusama. Mais uma vez apontada estando em momento especial da carreira, Nicole terá outro ano incrível, disputando vaga como protagonista e como coadjuvante, pronta para atropelar a fortíssima concorrência.
9) Por que Saoirse Ronan?
Ninguém viu Duas Rainhas ainda, mas Saoirse é um talento sem limites. Indicada anteriormente por Desejo e Reparação, Brooklyn e LadyBird esse ano, podendo ter ganho pelos três e provavelmente tendo chego perto disso as três vezes. Dessa vez ela está num papel literalmente histórico, que já foi defendido por Vanessa Redgrave (com quem ela dividiu personagem em Desejo e Reparação), a rainha Maria da Escócia. Nesse espécie de remake e releitura da história clássica, Saoirse aos 24 anos (!!!) vai tentar o que Vanessa não conseguiu com a personagem. Pelo trailer, seu imenso talento se mantém intacto e pode ser que acabe chamando a atenção mais uma vez.
10) Porquê Carey Mulligan?
Surpresas acontecem... e a crítica americana está de quatro por Vida Selvagem, um minúsculo drama familiar que é a estreia de Paul Dano na direção. Se eles quiserem alçar esse filme aos céus (o que é bem possível), esse caminho pode começar a ser trilhado pela nomeação de Carey, que inexplicavelmente só foi indicada ao Oscar quando explodiu em Educação. Aqui volta a impressionar (como faz com frequência) como a mãe desacreditada do próprio casamento e da própria vida, que dará uma guinada melancólica para criar seu filho em meio às dificuldades. Indo de um ponto a outro, completamente segura, Carey é das melhores de sua geração e merece uma nova nomeação faz tempo - na verdade já merecia até ter ganho. O ano está difícil mas a essa altura nada é impossível.
Toni Collette, Emily Blunt, Hilary Swank, Charlize Theron estão de olho esperando os próximos acontecimentos prontas para atacar e conseguir uma vaga. Será possível algo imprevisível assim? Por enquanto só especulações... e a certeza de que a Corrida do Ouro volta semana que vem pra discutir sobre os filmes estrangeiros do ano. Até lá! 

Comentários (3)

Prêmio BRAZINTERMA | domingo, 04 de Novembro de 2018 - 21:29

Queria muito que a Toni Collette fosse lembrada nas premiações. Mas assim como foi com Willem Dafoe em Projeto Florida e talvez até No Portal da Eternidade vai ser mais um talento dispensado devido a falta de empenho da produtora ou estúdio em fazer campanha.

Walter Prado | segunda-feira, 05 de Novembro de 2018 - 17:56

"Não duvidem do poder de Julia."

Já duvido... E descarto Ronan também, aliás...:

"Indicada anteriormente por Desejo e Reparação, Brooklyn e LadyBird esse ano, podendo ter ganho pelos três e provavelmente tendo chego perto disso as três vezes."

Por Atonement certamente ela não chegou perto.

Araquem da Rocha | sexta-feira, 08 de Fevereiro de 2019 - 02:11

Realmente Toni Collette merecia ser indicada.

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