Roman Polanski pode ser considerado um dos maiores cineastas vivos. Em sua filmografia encontram-se preciosidades como "O bebê de Rosemary", "Chinatown" e "O Pianista", mas também algumas escorregadelas, como em "Os Piratas" e a adaptação de Oliver Twist. Muitos consideram "O último portal" um exemplar que se encaixaria na lista dos fracassos, mas, apesar de alguns erros, o filme tem qualidades e a mão de Polanski se faz presente durante toda a película.
O especialista em livros Dean Corso (Johnny Depp) é contratado pelo milionário Boris Balkan (Frank Langella) para verificar a autenticidade de um exemplar antigo que supostamente foi co-escrito pelo demônio. Durante a empreitada, assassinatos bizarros começam a ocorrer e uma misteriosa garota (Emmanuelle Seigner) passa a persegui-lo.
Polanski volta a lidar com o terror/suspense, um gênero em que ele já tinha sido muito bem sucedido com "O bebê de Rosemary" e "O inquilino". Nesses filmes, o diretor usava do ambiente claustrofóbico de um apartamento para criar tensão e medo constantes, e o espectador acompanhava tudo indefeso, sem saber o que realmente estava acontecendo. Em “O último portal”, o personagem de Johnny Depp viaja pela Europa e a claustrofobia desaparece – mesmo que a maioria das cenas tensas ainda aconteça em lugares fechados–, mas a sensação de não sabermos onde vai dar aquela trama ainda prevalece.
É notável a inspiração da obra de Jorge Luis Borges na construção do roteiro, desde o lugar dos livros e bibliotecas na estória, até a personagem de natureza fantástica interpretada por Emmanuelle Seigner, que é quem traz a estranheza e o desconhecido para o filme. O universo de H.P Lovecraft também exerce grande influência, principalmente na concepção de um livro escrito pelo demônio, o que remete ao Necronomicon criado pelo escritor americano.
A câmera de Polanski é um espetáculo à parte. Desde a cena de abertura, magistralmente desenhada, até os belos planos filmados nas montanhas francesas, tudo demonstra o talento do mestre. Sua capacidade de criar ambientes climáticos também se faz presente, principalmente nas mansões e bibliotecas que permeiam todo o filme e no uso da trilha sonora. No que diz respeito às atuações, elas não comprometem: Johnny Depp é eficiente como sempre - principalmente quando não está em papéis extremamente caricatos-, Emmanuelle Seigner consegue nos prender à tela com sua beleza e Frank Langella é mais interessante quando só usa a voz nas cenas no telefone.
A maioria das críticas negativas sobre o filme incide sobre o roteiro, mais especialmente no final. Deveras é um pouco decepcionante o desfecho sem grande tensão, mas a sensação de que não sabemos o que realmente vai acontecer depois e que rumo o personagem de Depp vai tomar ainda o torna interessante.
Concluindo, não é um filme à altura de outros clássicos do diretor, mas merece ser revisado com um olhar atento. Só por ser um genuíno Polanski já merece maior consideração.
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