Quando a família se reúne em algum momento fúnebre, a tendência é sempre conversa sobre tragédias, com a garantia de olhos encharcados de lágrimas. Mas naqueles momentos de silêncio ensurdecedor, geralmente aparece alguém que se lembra de uma história engraçada e faça todos darem risada daquela lembrança. A vida nunca tem um final feliz (nossa única garantia é a morte), mas isso não impede em nada que possamos ter muita diversão ao longo deste caminho, e que nem tudo precisa ter um grande significado.
A maior qualidade de ‘Laços de Ternura’ é justamente conseguir encontrar o perfeito equilíbrio entre o drama e a comédia. É onde ninguém tem medo de falar a verdade, de exporem seus mais profundos sentimentos ou muito menos de se entregarem ao ridículo sem medo de julgamentos. Aqui, Brooks não só entende seus personagens, como parece realmente amá-los, tendo uma enorme afeição por todos, criando uma bela obra, com situações que podem acontecer em nosso cotidiano, simplesmente porque a vida é assim.
A viúva Aurora (Shirley MacLaine) e sua filha Emma (Debra Winger), apesar de se amarem, têm uma relação conflituosa, pois sua mãe reprova seu relacionamento com Flap (Jeff Daniels), que quer casar, ter filhos e levá-la para longe de casa. Tendo que encarar a solidão, Aurora passa a se interessar por Garrett Breedlove (Jack Nicholson), seu vizinho paquerador, enquanto Emma descobre que está com câncer.
O roteiro escrito pelo cineasta, adaptando o romance de Larry McMurtry é bem interessante e inteligente, equilibrando o terno e o trágico, o doce e o melancólico, com situações impagáveis e diálogos cortantes. Falha em um ou outro humor involuntário, porém acerta realmente em achar o tom certo no equilíbrio da película. Outro acerto é a inclusão de um personagem criado exatamente para Jack Nicholson, o que rendeu um par de cenas memoráveis, não só ao ator, mas à obra em si.
O longa realmente triunfa em tudo que se propõe. O cineasta James L. Brooks consegue manter seu estilo cômico, mostrando talento para o melodrama, criando um roteiro bastante agridoce, sendo beneficiado pela escolha certeira do elenco e na condução do mesmo, que virou uma das marcas registradas do diretor.
Shirley MacLaine faz de sua Aurora uma mulher forte, protetora em excesso, soando às vezes até irritante, mas na medida certa. E quando se apaixona, mostra seu talento cômico e um alcance dramático fascinante quando preciso. São dela as melhores cenas do filme, seja nas interações com Emma ou em seu relacionamento com Breedlove. Debra Winger entrega uma de suas melhores performances, trazendo um leque de nuances a sua personagem, da debochada até a zangada, passando pela melancólica e apaixonada. John Lithgow enche a tela de ternura e uma quase inocência com seu Sam Burns e Jeff Daniels mostra a razão de ser considerado um dos atores mais subestimados de Hollywood.
Mas sem dúvida, o maior acerto do longa chama-se Jack Nicholson. Funcionando como o alívio cômico preciso da produção, suas cenas são, de longe, as mais memoráveis. Desde seu jeito mulherengo, debochado, brincalhão, porém que nos encanta a cada minuto que aparece. Transborda carisma, mesmo com seu jeito cafajeste e ainda mostra enorme versatilidade quando nem seu Breedlove consegue fugir do melodrama, sendo sempre uma agradável surpresa, não só para Aurora, mas para todos que acompanham a película.
A trilha sonora composta por Michael Gore é brilhante, contribuindo não só para o andamento da obra, como também para o entendimento da mesma. Tem horas que a melodia soa engraçada, leve, dando início a um tom melancólico, de profunda tristeza, sem nunca soar piegas ou exaustiva.
E são nos momentos finais, após uma triste notícia, que Brooks mostra coragem e desenvoltura para criar momentos fortes, realmente difíceis de conter as lágrimas, onde os atores se superam em seus desempenhos. Hilário, trágico, verdadeiro, que encontra a alegria na dor, o sorriso em um mar de lágrimas e que, acima de tudo, é na simplicidade que reside sua grandeza. Sim, a vida é uma caixinha de surpresas, e o cineasta usa do poder da sétima arte para enfeitá-la, com laços de ternura.
Bela crítica, Bandeira. Sem dúvidas, o maior acerto é o Jack Nicholson (pra falar a verdade de qualquer filme que tenha ele, kkkkk). Faz tempo que vi esse, preciso rever.
Francisco, vc confundiu os nomes! Quem te elogiou primeiro foi o Ricardo hahaha
Mas também gostei da crítica, embora discorde do seu grau de apreciação ao filme, já que gostei um pouco menos. Às vezes, chega a ser meio arrastado, podendo ter sido mais enxuto em sua duração. Os atores são a melhor coisa, já que o roteiro fica devendo um pouco.
Hahaha cabeça não está boa hoje! Mas obrigado Ricardo e Patrick! Gosto muito desse filme, bem agradável de se assistir! 😁
Tudo bem. Tá perdoado hahaha