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Críticas

Cineplayers

Típico filme norte-americano que se vende bacana para moralizar adolescentes.

3,0

17 Outra Vez é exatamente aquilo que você imagina de um filme sobre um homem em crise de meia idade que volta a ser adolescente produzido pela máquina falso moralista hollywoodiana. Conseqüentemente, também não há muito o que dizer a respeito dele sem fazer aqueles básicos e banais apontamentos, que certamente foram utilizados em centenas de críticas a filmes hollywoodianos feitos com exclusivo interesse em contemplar a massa cinéfila adolescente – neste caso, as leitoras de revistas de fofoca e colecionadora de pôsters de boys band com idade entre 12 e 14 anos. 

O filme em seu cerne é um veículo para a promoção de Zac Efron, novo ídolo teen que chegou ao estrelato através da rentável série Disney High School Music, a qual, vale registrar, felizmente não vi. Inicia apresentando Efron (sem camisa, bombadinho, suado e em uma quadra de basquete – através, é claro, de um levemente homérico contra-plongée) como o garoto mais popular da escola, namorado da garota mais bonita da escola, capitão do time de basquete e com promessa de um brilhante futuro. É a primeira das inserções politicamente corretas e de moral duvidosa (apresentar o protótipo adolescente ideal, representante quase exclusivo do sucesso e da felicidade juvenil segundo boa parte dos filmes feitos para adolescentes) de um filme que é todo estruturado sobre elas. 

Em seguida, depois de ser tentado pelo diabo e “comer o fruto proibido”, tudo desanda: engravida a menina, perde o lugar no time e sua vida a partir disso tomará rumos inversos, que levam-no direta e condicionalmente ao fracasso. De Efron, o personagem transforma-se em Mathew Perry, o quarentão que vive em uma realidade entediante, tem emprego entediante, uma relação ruim com os filhos e não faz absolutamente nada para que as coisas sejam diferentes somente porque elas precisam ser assim – afinal, ele foi tentado pelo diabo e está pagando por isso. É então que surge a oportunidade de uma segunda chance, volta de repente a ter 17 anos e o resto é exatamente aquilo que você imagina de um filme sobre um homem em crise de meia idade que volta a ser adolescente para consertar seu futuro produzido pela máquina falso moralista hollywoodiana. 

O fato de retornar a esta velha história, na realidade, é o menor dos problemas. O clichê-sobre-clichê de 17 Outra Vez é um verdadeiro incômodo por ser mais um motivo para a preguiça cinematográfica (cada plano e seqüência do filme é um desserviço estético e narrativo), para a utilização desta arte com o intuito de vender objetos de consumo (no caso, seu astro principal), ou pior do que isto: por ser lotado de hipocrisia e servir como esconderijo de purpurina para este discurso moralizante que continua a perseguir e transtornar a já confusa visão de mundo dos(as) adolescentes. Evidentemente, não há discernimento suficiente em uma criança de 12 para notar isto (ou pelo menos na maior parte delas), mas tudo está lá, sendo registrado enquanto se divertem com as trapalhadas enfrentadas por Efron para reconquistar sua promessa de futuro brilhante (embora até isso seja discutível, já que sequer existem momentos cômicos decentes em 17 Outra Vez – o timing cômico de Perry está pior do que nunca, Efron jamais consegue transparecer o fato de ser uma pessoa de 40 anos no corpo de uma de 17 e perde todas as piadas que isto poderia suscitar, etc).

Como conseqüência, abre-se espaço para uma geração cada vez mais marcada pelo unilateralismo de ideias, pela formatação em conceitos superficiais e pela crença em um protótipo de felicidade que simplesmente não existe (não da forma como pregam), e que continua a ser divulgado através de produtos como este. Pode parecer mais um filme inofensivo, daqueles que a Sessão da Tarde irá reproduzir daqui à eternidade,  mas o tom de descompromisso de filmes como Quero Ser Grande ou De Volta aos 18, dois exemplos de obras de argumento semelhante e que fizeram sucesso entre a garotada, está muito distante de 17 Outra Vez. No lugar dele, encontra-se  a esperteza dos grandes estúdios, que sabem o quê, quando e como vender – e aproveitam-se disto para continuar utilizando o Cinema como veículo de catequese para moralizar adolescentes.

Comentários (1)

Mateus da Silva Frota | segunda-feira, 09 de Fevereiro de 2015 - 15:56

Crítica com personalidade é sempre bem-vinda.

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