Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

A eficiência do humor baseado nos diálogos.

7,0

Tendo a palavra como força motriz dos acontecimentos, Julie Delpy concebeu e dirigiu 2 Dias em Nova York (2 Days in New York, 2012), continuação indireta do simpático e não menos verborrágico 2 Dias em Paris (2 Days in Paris, 2008). A premissa deste novo filme é bastante semelhante à do anterior: a grande diferença está no ponto de vista adotado pela diretora, também autora do roteiro. Se, no primeiro filme, Marion (Delpy) passava rapidamente pela Cidade Luz com o namorado estadunidense Jack (Adam Goldberg), que ela apresentou à família e não sabia falar nada além de “Bonjour” e “ Merci” em francês, nesta continuação o referencial se inverte: é a família de Marion que se desloca e vai visitá-la em seu apartamento nova-iorquino, que ela divide com o namorado Mingus (Chris Rock). As divergências de hábitos, olhares e atitudes entre as culturas americana e europeia se impõem como a fonte de uma série de incidentes, quase sempre desenvolvidos em tom jocoso pelo roteiro também a cargo de Delpy.

O fato de Mingus ter apenas um conhecimento mínimo de francês é outra deixa bastante utilizada pela diretora para espalhar piadas ao longo da narrativa. Afinal, a barreira linguística é sempre um prato cheio para enganos de toda sorte, que provocam risadas em quem os vê de fora ou muito depois por quem os viveu. E as confusões mais engraçadas acontecem justamente quando Marion está longe do namorado e não pode servir de ponte tradutora, como na sequência em que ele acompanha Jeannot (Albert Delpy) – pai da personagem de Delpy e também da atriz - em uma sessão de massagem tailandesa e tenta ajudá-lo a escolher um massagista, assim como nos minutos que eles passam juntos na sauna, quando um não faz a menor ideia do que o outro está falando em sua respectiva língua materna. Essas passagens abrem espaço até mesmo para trocadilhos acidentais de cunho sexual, típicos causadores de risadas na plateia. 

E, como se torna esperado nos primeiros minutos do longa, a presença da família de Marion – pai, irmã e cunhado – vai desestabilizando a rotina e o relacionamento do casal, por toda a desordem que eles instauram no apartamento que, até então, era aconchegante e suficiente para os dois e os filhos que trouxeram de namoros anteriores. Nessa fórmula simples e despretensiosa, 2 Dias em Nova York demonstra a eficiência do humor calcado na palavra, e evoca o modo alleniano de filmar e concatenar piadas, às vezes sutis, como nas suas típicas comédias ambientadas na cidade. A química entre Delpy e Rock é outro ponto positivo do filme. Extremamente carismático, ele tem momentos em que brilha sozinho e reafirma o seu timing cômico para sustentar sequências inteiras de riso frouxo. Além da já comentada passagem da sauna, há o momento em que ele descobre porque a cunhada sempre sorri maliciosamente ao pronunciar seu nome. Sua reação é simplesmente hilária, sobretudo pelo fato de ela ser uma psicanalista infantil. 

Também a exemplo do que havia feito em 2 Dias em Paris, Delpy oferece alguns insights de reflexão sobre as relações familiares e amorosas. Longe de apresentar qualquer novidade nesse sentido, ela reafirma a importância de manter perto as pessoas de quem se gosta e não deixar passar as ocasiões em que se deve explicitar para o parceiro o quanto o ama e o considera importante. Seus comentários vêm sob a forma de narração em off, servindo de parênteses mais sérios em meio às doses generosas de comicidade. Já seu apego ao discurso não vem apenas de sua experiência antecedente como realizadora, mas também de sua porção roteirista, mais antiga e maravilhosamente exercitada na escrita de alguns diálogos travados por ela mesma e Ethan Hawke nos memoráveis Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004). Por sinal, o passar dos anos só tem acentuado sua beleza loura.

A câmera sempre inquieta é outro aliado de que Delpy se utiliza bem. Potencializando as sequências de matriz cômica, ela oferece ângulos deslumbrantes de uma Nova York sempre frenética e cosmopolita, que acolhe as mais diferentes maneiras de se ler o mundo. O contraste étnico entre os protagonistas também vale algumas piadas interessantes, livres de qualquer melindre exigido pela correção política – o tema em si ainda é uma questão muito delicada nos EUA e, portanto, ainda se pode chamar corajosa a opção da cineasta por abordá-lo sem meias palavras. Por outro lado, em seus minutos finais, 2 Dias em Nova York salienta sua escolha de uma estrutura narrativa convencional, o que não se revela um demérito, mas uma opção legítima e ainda bastante eficiente.

Comentários (3)

Danilo Oliveira | quinta-feira, 09 de Maio de 2013 - 12:15

Nada de entrar em cartaz aqui 😢

vou ter que baixar, mesmo. É o jeito!

Patrick Corrêa | sexta-feira, 10 de Maio de 2013 - 00:52

Que pena, Danilo!
E olha que você é de cidade grande... 😕

Faça login para comentar.