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Críticas

Cineplayers

Frio até a última camada.

5,0
A principal característica de 45 anos é o ritmo lento, algo que há anos não me incomoda necessariamente. O problema do novo filme do britânico Andrew Haigh é que toda a história parece apenas um rabisco precário de um filme que poderia ter sido, mas não foi.

Charlotte Rampling e Tom Courtenay protagonizam magistralmente a história de uma mulher que, às vésperas do aniversário de 45 anos de casamento, vê a relação sendo impactada pela descoberta do corpo da primeira paixão de seu marido.

Embora as aparências indiquem que há um casal protagonizando o filme, as atenções voltam-se constantemente para Kate Mercer, interpretada por Rampling, esposa muito dedicada e solícita, que estuda profundamente o comportamento do marido após este receber a carta informando sobre o paradeiro do corpo de sua ex-namorada, descobrindo coisas a respeito de seu casamento e de si mesma que ela preferiria esquecer.

Um corpo jovem, desfalecido, congelado e intacto emerge das profundezas das montanhas de gelo para assombrar as perspectivas de Kate sobre o seu casamento com Geoff e sobre a sua própria personalidade. Kate vê-se como uma substituta que jamais alcançou a grandeza de sua predecessora. Kate talvez perceba-se agora similar aos 45 anos ao lado do marido: dedicada, porém maçante, agradável, porém monótona.

A canção sob a qual Kate e Geoff valsam em seu aniversário possui uma atmosfera muito mais fúnebre que nupcial. As letras de “Smoke Gets In Your Eyes” indicam que amar é uma ilusão – quando a fumaça se dissipa completamente torna-se inevitável perceber que a paixão fundara-se sobre o vazio.

Ler e interpretar 45 anos é uma experiência muito mais agradável que assisti-lo. Não há nada no filme que vá para além de sua sinopse. Toda a narrativa é preenchida por momentos que vez após vez expressam a mesma questão: Kate está subitamente desentorpecida em relação ao seu casamento. Haigh não vai realmente a fundo em Geoff e tampouco parece interessado em ir além do que lhe interessa em Kate – a personagem que Rampling compõe possui um conflito interno complicado, é verdade, mas é unidimensional.

O filme parece indicar a presença de um autheur – o próprio diretor, Andrew Haigh. Na minha opinião, faltaram algumas mãos para refinarem o que Haigh bem começou, para realmente levarem o filme para frente, ao contrário do filme como ficou: engatado e prolixo. A composição dos planos é grosseira e travada. Se por um lado combina com o clima bucólico e burguês da região onde o filme se passa na Inglaterra, por outro faz com que o filme se torne ainda mais redundante: camada após camada, recurso após recurso, 45 anos diz sempre a mesma coisa. Num sussurro educado e gelado, Haigh, Rampling e Courtenay tentam, mas não fazem-se ouvir.

Comentários (2)

Paulo Lima | terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016 - 17:25

Discordo da crítica, acho 45 years um filme muito interessante e eficiente na sua proposta, o maior problema que eu acho é que esses filmes muitas vezes pecam pela duração, nesse caso 1h45 min. Realmente não dá pra ficar durante todo o filme mostrando diversas cenas paradas pra simplesmente mostrar o quão silencioso esse mundo se mostra. Entretanto, a atuação da Charlotte é louvável, muito boa mesmo, até porque é necessário reconhecer que Hollywood se mostra cada vez mais jovem e muitas vezes filmes como 45 years são simplesmente esnobados por isso. Basicamente, o filme mostra a fragilidade do casamento, nesse caso mesmo estando próxima dos 45 anos de casada a personagem da Charlotte se vê diante da descoberta de segredos da vida do seu marido antes de se casarem que abalam sua vida e o seu casamento. O filme é muito bom e passa uma mensagem instigante sobre como nós escondemos fatos que muitas vezes não gostamos de compartilhar mas que simplesmente podem surgir à tona, do

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