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Críticas

Cineplayers

Óticas divergentes de um desaparecimento.

5,0

Começa bagunçado, desconexo e sem cronologia. Essa desordem ganha alguma linearidade após algum tempo de filme. A escolha foi estética? Alguma proposta artística? Sem fundamento, a não ser confundir o espectador, esse início já revela no ato o maior problema da direção de Atom Egoyan: não saber para onde quer ir. O tema é bom! Levanta questões como pedofilia, todavia apresenta uma ótica bastante diferente. É terreno fértil para um estudo complexo sobre a moral humana como também de processos da educação, sociedade do espetáculo, da relação entre sequestrado e sequestrador – esse último é um desbunde para algum psicanalista atraído por grandes personagens envolvidos em discutíveis relações. A expectativa por algo absorvente fica apenas no desejo, pois tudo o que o filme consegue fazer é deixar seu melhor tema de lado para investir numa perseguição febril de um pai acuado e cheio de remorsos desde o desaparecimento de sua filha num fim de tarde gélido em Ontário, no Canadá.

Basicamente o filme traz um sequestro. Idealmente são as consequências do sequestro que interessam ao longa através de 3 diferentes histórias: o pai, Matthew (Ryan Reynolds), convive com a sombra das suspeitas devido sua negligência na época em que estava a beira da falência, resistindo ainda as acusações da esposa; a dupla de investigadores Nicole (Rosario Dawson) e Jeffrey (Scott Speedman) dividindo romance e obsessão pelos casos de abuso infantil que se somam em suas mesas; e por último ao de Cass, garota sequestrada, que após alguns anos tornou-se arma de sedução em pró dos sequestradores. A justiça demora a acontecer e, por opção, Matthew toma as rédeas nos quase 8 anos que sua filha ficou ausente.

Numa primeira impressão o filme parece se aproximar de Os Suspeitos do canadense Denis Villeneuve, mas somente pelo assunto, pois À Procura é colossalmente inferior em distintas esferas. A direção de Atom Egoyan é demasiada complicada, sem objetivações. E o filme, confuso conforme mencionado, não se decide em ser um thriller com cenas de depoimentos acusativos ou um drama psicológico cuja aposta reside na elaboração de um reality show doentio. Muita coisa se desenvolve e as informações importantes chegam episodicamente.

Nesse meio de profunda tensão o que desperta a atenção – e isso é mérito do roteiro – é a sensação de cativeiro compartilhada por todos os personagens. Todos os envolvidos estão atados às oportunidades que custam a aparecer. É a presente dinâmica que mantém o filme endurecido. A frieza dos quadros com tonalidades geralmente brancas e cinzas e o próprio clima com neve favorece a impressão de aprisionamento. Ryan Reynolds como o pai amarguramente rígido completa o cenário. Carente de grandes expressões, mantem-se tencionado e convence com natural aflição explosiva.

Para cativar nosso interesse, versões diferentes de Cass são apresentadas. Quando criança ela patinava no gelo e, após um treino, dividiu uma promessa com um amigo. Essa promessa soa como um possível fechamento de um arco, o que de imediato nos leva a algumas conclusões previsíveis. É assunto demais e desenvolvimento de menos, ainda mais com clichês extremos retalhados na boa montagem que dá conta de unir diferentes épocas com desenvoltura após seu início desalinhado. Por fim, Atom Egoyan capricha no visual de sua obra, enclausura bons personagens e os perde na pretensão hollywoodiana de querer ser heroico todo o tempo, apostando no galã sem pose de Reynolds. Além do mais seu filme sofre para manter o ritmo, com uma primeira metade expositivamente fria e com a segunda variando temperaturas com direito a perseguições e bocejos.

Visto na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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