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Críticas

Cineplayers

O carisma do personagem principal salva o filme do marasmo.

4,5

Seria difícil, talvez, o ex-jogador de futebol francês Eric Cantona aparecer em uma história amarga ou pessimista. Isso talvez explique, em boa parte, a leveza não-habitual com que Ken Loach constrói a ação de seu mais novo filme, À Procura de Eric, que participou da mostra competitiva no Festival de Cannes deste ano.

O tema, porém, não muda. Mais uma vez na carreira de Loach, o assunto é como o homem só consegue se recuperar e seguir em frente com a ajuda da sociedade. E o protagonista, de novo, é um membro da classe operária. Eric é um carteiro de Manchester que mora com seus dois enteados após a mãe deles ter saído de casa, e não sabe lidar direito com as crianças, principalmente um dos meninos que está se envolvendo com gangues.

Sua vida parece não ir muito mais para frente até que aparecem alguns fatos novos que o obrigam a questionar tudo ao seu redor: uma neta recém-nascida que traz à sua vida o seu primeiro amor, e visões do jogador de futebol francês Eric Cantona, que começa a tentar pôr em ordem a bagunça em que está metido.

Cantona, um grande ídolo do Manchester United, time de coração do outro Eric, e conhecido em sua época por seu estilo impulsivo ao falar e agir, vira presença frequente na vida do seu xará, tentando fazer com que este lute por seus desafios e supere seus medos, servindo como terapeuta, confidente e motivador. Age como um free spirit, soltando provérbios e conselhos um tanto absurdos, tentando fazer com que Eric, o carteiro e torcedor, encontre seu caminho novamente.

Loach parte de um drama a princípio pessoal para comentar sobre a importância da união da sociedade no mundo em que vivemos. Assim como Eric, o jogador, precisava de seus companheiros em campo para levar o time ao sucesso, o carteiro precisa do máximo de pessoas ao seu redor para poder ter paz de espírito: a ex-esposa novamente próxima, os três filhos distantes ao seu redor e, não menos importante, os amigos para lhe ajudar quando precisa. E os vilões, é claro, combatidos e bem distantes.

É neste mundo em que fantasia transforma a realidade que Loach patina e muitas vezes escorrega. Não que o grande problema seja o simples fato do filme inteiro partir de eventos fantasiosos. Isso, inclusive, traz um certo vigor à obra do diretor, conhecido por retratos dramáticos sobre vidas sofridas. Mas, por fincar tanta ênfase na superação de uma realidade perdida, o diretor perde a mão, não conseguindo aprofundar sua mensagem.

Ao fim, é um filme com cenas engraçadas, que passa um sentimento bonzinho no espectador, mas não se permite ser levado a sério. Ao menos, ao contrário de Emir Kusturica que criou uma admiração boboca em cima de Maradona, Loach conta com uma personagem principal interessantíssima, cujo carisma por muitos momentos salva o filme do marasmo.

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