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Críticas

Cineplayers

Um diferente filme policial que consegue misturar, perfeitamente, conteúdo com entretenimento.

9,0

Se você ainda não quebrou sua cabeça com Amnésia, não sabe o que está perdendo. O filme é um dos mais originais e inteligentes que pintaram nos últimos tempos em Hollywood, um policial / suspense contado todo em trechos de trás para a frente, intercalados com partes em ordem cronológica em preto e branco. Complicado? Bastante. Difícil de se entender? Um pouco. Precisa-se de muita atenção para usufruir tudo o que este rico filme tem a nos passar. Baseado em um livro escrito pelo próprio irmão Jonathan Nolan, é também o trabalho de estréia desse promissor diretor chamado Christopher Nolan, que decaiu um pouco com Insônia. Não chega a ser ruim como um todo, apenas é muito inferior a este Amnésia.

Quando disse que o filme se passa todo em trechos contados de forma não cronológica, de trás para frente, é literalmente isso mesmo, não foi modo de dizer não. Começamos a projeção justamente no final da história, com Leonard Shelby (Guy Pearce, do maravilhoso Los Angeles: Cidade Proibida), um investigador de clientes para empresas de seguro, estourando a cabeça de um homem chamado Teddy (Joe Pantoliano, excelente, como sempre). A partir deste fato (uma cena extremamente bem feita), começa um embaralhamento de informações que vão sendo, pouco a pouco, reveladas, quase sempre de maneira surpreendente a cada vez que a história dá uma regredida.

Só que esse modo como a história é contada não é apenas um capricho do diretor. Ela tem um sentido direto com a situação física em que nosso protagonista (Leonard) vive: depois que sua mulher foi estuprada e assassinada em sua própria casa, Leonard ficou incapacitado de guardar novas informações em sua memória. Ou seja, ele se lembra perfeitamente de tudo o que aconteceu antes do incidente, porém o que ocorreu depois ele não se lembra por mais de poucos segundos. Essa situação do personagem (uma doença raríssima, porém real) permite que diversas cenas interessantíssimas sejam criadas, sempre se aproveitando da narrativa. Por exemplo: uma hora você pensa uma coisa sobre o que está acontecendo, depois vem o filme e te mostra o que aconteceu um pouco antes (o que Leonard já havia esquecido) e quase sempre você se surpreende!

Em certo momento do filme, Leonard comenta que a rotina torna sua vida possível. O protagonista também tira fotografias com sua Polaroid a todo tempo, fazendo sempre anotações sobre o que fotografou no verso para que, quando esquecer, tenha um guia de bolso sempre pronto para entrar em ação. Além das fotos, também tatua em seu corpo diversos fatos que o guiam em busca do assassino de sua mulher. No desfecho do filme, você fica impressionado o quanto tudo foi bem bolado, entrelaçado. A discussão sobre o tema vingança que ele propõe é espetacular. O diretor não só brinca com isso, como tem total controle sobre o espectador durante toda a duração de Amnésia. Duas frases ficaram muito marcadas após assisti-lo: "Onde você conseguiu esse carro, essas roupas?" e "Para que conseguir sua vingança se daqui a pouco você não vai se lembrar que a conseguiu?". As passagens são geniais, frases que parecem simples, mas no contexto que foram empregadas ganham toda essa dimensão que estou falando.

Além de Guy Pearce e Joe Pantoliano, temos a presença da linda Carrie-Anne Moss (de Matrix, Chocolate), que tem um recente passado ao lado de Leonard, também se desembaralhando aos poucos de maneira extremamente interessante. Nos momentos em preto-e-branco, somos apresentados ao passado que Leonard se lembra. Enquanto ele fala no telefone, conta uma história para alguém sobre um caso em seu antigo emprego, quando ele não sofria da falta de memória (que ele não considera amnésia). Curiosamente, o cliente apresentava justamente o mesmo problema que ele tem hoje. Como era o investigador da seguradora, tratou de saber se o cliente mentia ou não sobre sua condição. Complicado, mas irônico.

Eu não tenho nenhum receio sequer em aconselhar Amnésia para qualquer um assistir. Não é um filme fácil de digerir, complicado de se acompanhar, que com certeza fará você ter vontade de vê-lo mais de uma vez para entendê-lo por completo. O melhor de tudo é que ele não subestima o público, mas mesmo assim foi lançado de pouco em pouco num circuito de arte fechado, para só depois deslanchar e todos terem a possibilidade de desfrutar esse filme maravilhoso. Talvez seu único defeito (e mesmo assim não grave) seja a trilha sonora, que é apenas funcional, mas não marcante. Eu não lembro mesmo da música tema do filme, o que só pode ser um fator ruim. Este novo clássico você encontra, se der sorte, em alguma edição nesses DVD´s de banca. Simplesmente imperdível.

Comentários (3)

Deividy Edson Correa Barbosa | sábado, 11 de Fevereiro de 2012 - 00:03

Esse filme, com certeza está na lista dos filmes que os inteligentes devem assistir!
muito boa a critica!

Gustavo Aguiar | sexta-feira, 05 de Julho de 2013 - 19:08

Um dos filmes mais bem arquitetados que eu já assisti. Sem duvida nenhuma a obra prima absoluta de Nolan.

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 16:23

Nascia ali, um dos cineastas mais talentosos da atualidade. Nolan merece respeito!!

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