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Críticas

Cineplayers

Flertando com o óbvio, mas fugindo dele, Amor à Distância está acima da média.

6,5

O maior problema das comédias românticas é, sem dúvida, a previsibilidade das tramas e o mar de clichê dos roteiristas – é tudo tão parecido que a impressão que fica depois de assistir a dois longas-metragens do gênero é que o amor é tão perfeito que vira uma chatice. Mas, Amor à Distância (Going the Distance, 2010) abala essa percepção. Não se trata de nenhuma obra-prima, nem ao menos um filme de muita qualidade, mas só o fato de saber usar com eficiência o banal e, ao mesmo tempo, ter a coragem de ignorar as frases melosas e puritanas dos contos de fada românticos já valem pontos ao longa.

O ponto de partida engana por fazer parecer que o óbvio predominará. Garrett (Justin Long), ao jantar com sua namorada no aniversário do relacionamento, mostra sua falta de sensibilidade ao não presenteá-la sob a alegação de que ela havia dito não querer nada. Esse é o estopim da relação. E é neste momento que o sinal de alerta se acende. O espectador é levado a pensar que, após certas turbulências e desencontros tudo se resolverá. Essa impressão aumenta quando Garret resolve sair com os amigos para superar o acontecido e acaba conhecendo Erin (Drew Barrymore). Mas, é aí que Amor à Distância toma coragem para traçar seus próprios caminhos, entregando-se a certos clichês do gênero, mas nunca ficando refém deles.

E o espectador cada vez mais perde o poder de prever a narrativa, já que a história apresentada, apesar de ser partidária da crença de que a felicidade plena no amor é possível, consegue mergulhar nos contratempos, crises, dúvidas e amarras intrínsecas a qualquer relacionamento. Assim, o casal já subverte a primeira lógica irritante dos romances: os diálogos limpos e politicamente corretos. Aqui, Garrett e Erin são apresentados como seres humanos comuns e palpáveis, que falam palavrões e besteiras e fazem brincadeiras ácidas enquanto bebem a valer juntos.

Ao trazer os personagens para próximo da realidade, o roteiro não se contenta em focar na relação moderna dos trintões. Eles também são apresentados em suas vidas particulares, que refletem as frustrações e anseios de dois jovens que não têm suas vidas resolvidas e encaminhadas. Tanto o lado profissional como o amoroso são problemas a serem resolvidos e o ritmo do mundo moderno apenas torna um aspecto concorrente do outro.

O roteiro se entrega a pequenos clichês, como o amigo solteirão escatológico de Garrentt que não tem tato com as mulheres e atira para tudo quanto é lado. Mas, ao mesmo tempo, é esse personagem caricato o responsável por excelentes piadas, como é o caso das intervenções com as músicas de Top Gun – Ases Indomáveis (Top Gun, 1986), filme favorito de Garrentt. Outros deslizes para provocar o humor barato e sem propósito existem, caso da cena do bronzeamento, totalmente descabida e inverossímil que acontece para proporcionar a óbvia cena seguinte.

Essa cena, aliás, ocorre quando o rapaz atravessa os Estados Unidos para visitar Erin em sua cidade, já que eles só estiveram juntos em Nova York durante o período de estágio dela em um jornal local. E aqui o filme é novamente muito honesto no trato com os personagens, suas dúvidas, seus medos, anseios, desejos e suas frustrações. Falta a coragem para o filme ir mais além, provocar o espectador com atitudes que poderiam ser aparentemente reprováveis, mas mais realistas com as situações apresentadas. Entretanto, o importante aqui é que, apesar de certas piadas horríveis e dos clichês, o amor dos dois é tão convincente que torcer pelo final feliz é apenas consequência.

Fica a prova de que, para ser realista, um filme romântico não precisa necessariamente ser trágico, ou mostrar de forma extrema os conflitos íntimos comuns ao seres humanos. A construção acertada da narrativa evidencia esses fatores sem precisar empalidecer a relação de seus protagonistas, e o desfecho acerta ao optar pelo amor sem torná-lo piegas, bobo ou inverossímil.

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