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Críticas

Cineplayers

A comédia romântica dos homens.

6,0

São elas que espantam os homens com seu romantismo exagerado, sua visão idealizada dos relacionamentos, sua doçura excessiva e sua previsibilidade enfadonha. São elas que começam simpáticas e divertidas, tornam-se melodramáticas e terminam em ideais ilusórios de “viveram felizes para sempre”. São elas que entram e saem de nossas vidas aos montes e quase nunca deixam alguma marca muito significativa na memória. Sim, são elas mesmo. Não, não estou me referindo às mulheres; o que está sendo descrito aqui são as tão clichês comédias românticas. Capazes de botar os marmanjos para fugir com a mesma competência em atrair a mulherada aos cinemas, as comédias românticas em geral dividem opiniões e quase nunca se preocupam em retratar a realidade com afinco. Eis um exemplar do gênero que estreou há pouco no Brasil e que se dispõe a mudar a tradição: Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, 2011), do diretores Glenn Ficarra e John Requa.

Se é recorrente nas comédias românticas aquelas personagens femininas fortes e determinadas a se apaixonar, no caso do filme em questão há uma pequena inversão de prioridade – quem sofre, luta e anseia pelo amor são eles. Com uma esperteza ágil e divertida, os cineastas de Amor a Toda Prova colocam seus personagens masculinos no cargo de protagonistas e os submetem às mesmas neuras costumeiras das mulheres. Agora é a vez de eles superarem suas dificuldades de relacionamento e sair por ai na difícil luta por um amor real.

Cal Weaver (Steve Carell) aparentemente já encontrou o amor de sua vida: sua esposa Emily (Julianne Moore), com quem tem uma bela família. Toda sua felicidade, no entanto, desmorona quando Emily confessa (nos mínimos detalhes) ter um caso com seu colega de trabalho (interpretado por Kevin Bacon). Agora desiludido, ele encontra na figura de Jacob Palmer (Ryan Gosling), um garanhão nato que conhece por acaso, a ajuda para superar essa fase e voltar à ativa no terreno da paquera e da conquista. Jacob, por outro lado, é 100% seguro de sua capacidade, até conhecer a bela Hannah (Emma Stone), que o despreza por completo e assim acaba atraindo sua atenção como nenhuma outra jamais conseguiu.

Em resumo, temos nesse filme a história de três homens em momentos delicados de suas vidas afetivas. Cal, apesar de tentar superar o chute que levou da esposa, ainda a ama e não consegue tirá-la da cabeça. Jacob, um cara que nunca precisou se preocupar com mulheres, se vê agora desesperadamente apaixonado por uma que mal lhe dá atenção. Por último, mas não menos importante, temos os conflitos do pré-adolescente Robbie (Jonah Bobo), filho de Cal, que se descobre apaixonado por sua babá, Jessica (Analeigh Tipton). Frustrados com suas respectivas situações, esses três caras precisam enfrentar aquilo que todos temos cedo ou tarde, mas que nos filmes só ganha representação na pele de personagens femininas.

As situações vindas de um ponto de partida tão comum para nós, mas ao mesmo tempo tão estranho para um filme do gênero, são hilárias. O sexo feminino na certa vai se divertir em ver em Cal, Jacob e Robbie aquilo que sempre lhe afligiu. Os homens, por outro lado, certamente se identificarão com pelo menos um dos três personagens. Isso se dá pela forma como os diretores buscam usar clichês já tão batidos em prol de situações invertidas e curiosas (começando pela escolha em deixar as mulheres como personagens periféricas e subjetivas [as “cafajestes” da vez], enquanto os homens ganham um aprofundamento sensível e dramático). Cientes de que aquilo tudo não passa de uma bela brincadeira com as maiores obviedades do gênero, os cineastas usam até certa dose de metalinguagem ao jogar na tela momentos em que os próprios personagens reconhecem estar passando por situações já vistas antes. Esse senso de humor fica então preso em uma linha tênue entre o lugar-comum e a originalidade.

Para que a fórmula desse certo, foi escalado um elenco muito competente, que soube entrar em sintonia e fazer das situações do roteiro algo ainda mais refrescante. Começando pelos mais experientes, Steve Carell e Ryan Gosling, que caem como luvas em seus papéis. Carell por saber aproveitar a oportunidade de dar vida a um personagem que está dentro de seus limites como ator dramático, e Ryan por personificar um garanhão de uma maneira pouco convencional. Julianne Moore e Emma Stone, como foram mais ignoradas pela direção, têm poucas chances de apresentar seus dotes artísticos, mas ainda assim fazem milagres quando entram em cena. A surpresa vem mesmo por parte dos novatos Jonah Bobo e Analeigh Tipton, que brilham em momentos de pura inspiração do roteiro.

Sim, há algo de nonsense nessa composição de Ficarra e Requa. No entanto, não é surpreendente ver toda a originalidade e frescor descer pelo ralo quando a trama engata para os momentos finais. Afinal, mesmo que diferente, ainda se trata de uma comédia romântica, e todas elas devem ter sim uma dose de previsibilidade aparecendo cedo ou tarde. O deslize feio, no entanto, vem na hora de tentar introduzir uma carga dramática um tanto quanto elevada nos desfechos, quando já é tarde demais para dramatizar a situação em excesso.

Para os do sexo masculino que torcem o nariz diante das comédias românticas bobinhas, Amor a Toda Prova pode ser uma boa chance de se fazer uma média com a namorada ou esposa e ainda assim se divertir genuinamente. Capaz de agradar a ambos os sexos, essa diferente comédia se foca mesmo é em mostrar os sentimentos masculinos diante do amor. Se para os homens isso pode parecer constrangedor ou até embaraçoso, para as mulheres se mostra uma boa oportunidade para conhecer o lado sensível e nem sempre externado por seus companheiros. Se não render uma sessão de boas risadas, pelo menos promete uma reavaliada nos conceitos tradicionais de um relacionamento amoroso.

Comentários (9)

Patrick Corrêa | quarta-feira, 26 de Outubro de 2011 - 23:09

Ótimo texto! Só discordo da parte negativa sobre o final, e a minha nota também foi maior...

Adriano Augusto dos Santos | terça-feira, 01 de Novembro de 2011 - 09:22

Ryan Gosling é o máximo,me lembra muito alguns grandes atores clássicos: é um tanto grosseiro mas faz qualquer personagem com perfeição.

Fernanda Pertile | quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011 - 00:46

Sim, o filme tem vários clichês, mas consegue prender a atenção de quem está assistindo até o último segundo e é isso que conta em um filme pra mim :)

Luiz Carlos Silva Oliveira | quarta-feira, 01 de Fevereiro de 2012 - 06:16

Filme excelente. A cena onde todos se encontram no jardim da casa é excepcional !!

OBS: Há um erro na critica: David (o amante) é colega de trabalho da Emily, não do Cal.

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