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Anitta: Made in Honório

(Anitta: Made in Honório, 2020)
4,3
Média
13 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Anitta do Brasil

7,0

Anitta é um furacão, uma força da natureza. Dona da sua própria marca, é implacável com erros a sua volta. Uma workaholic que sempre arruma um tempo para a família. Generosa e simples. Em seu segundo documentário para a Netflix, Anitta - Made In Honório (2020), dirigido por Andrucha e Pedro Washington, a cantora pode ser vista lutando pelo total controle de sua própria narrativa. É uma guerra difícil, mas ela parece sair vencedora sob a batuta dos Washingtons.

A minissérie documental de seis episódios está longe de ser uma continuação da minissérie anterior. Se Vai Anitta (2018), dirigida por Charlie Askew, foca no seu projeto mais ambicioso até então – o CheckMate de 2017, que tinha como objetivo a carreira internacional da cantora – Anitta - Made In Honório se propõe mais identitária, preocupada com a criação de um mito. A obra percorre um ano da vida da artista, 2019, no qual obtém uma de suas maiores conquistas, o Palco Mundo do Rock in Rio. Sua intimidade é exaltada na trama, que já no primeiro episódio transborda em fragilidade ao contar um trauma do passado que foi um dos motivos pela qual ela criou a “personagem Anitta”.

A narrativa tem como fio condutor o show que ela fez no Parque de Madureira em dezembro de 2019, réplica da performance no Rock in Rio. Esse show, tido por Anitta como o melhor de sua carreira, carrega todo o peso emocional da mensagem que ela quer passar, de como suas raízes a tornaram o que é hoje. Imagens da Mc Anitta da época da Furacão 2000 salpicam na tela. A adolescente em 2012, entoa o mantra esperançoso de glória futura logo nos primeiros minutos do documentário. Em uma visita à Honório Gurgel para distribuir doces de São Cosme e Damião, em 2019, ela se diz “em casa”. Um episódio inteiro é dedicado a sua relação familiar e os ensinamentos que ajudaram a criar seu background. No último episódio, Made in Honório, Anitta junta toda a teia emocional que espalhou ao longo dos demais episódios, com choros e lágrimas, diante daquele que é seu público suis generis, seus amigos de infância, sua família da Grande Madureira. Finca sua estaca como uma das maiores estrelas do Brasil, com energia e poder para contar sua própria história (embora nem sempre consiga) e herdeira de um lugar social da qual pode falar com propriedade. A minissérie parece a todo o tempo querer forjar essa imagem.   

                           

A direção não ousa, talvez por acreditar que a obra se sustente toda na figura da estrela. Alternando qualquer coisa parecida com Cinema Verité e entrevistas preguiçosas, ele acaba entregando à Anitta esse controle, que não perde a oportunidade. Nos momentos em que as câmeras a acompanham em casa ou no trabalho, a sensação de encenação é grande. Dona de uma personalidade carismática em excesso, a cantora parece atuar em suas dores e prazeres. Sabendo que a câmera está ali em momentos determinados, corre para o seu lindo figurino da Adidas e conta piadas, fala de sua vida sexual, viaja de férias, presenteia parentes e destrata seus empregados. Tudo em um único ritmo, sem perder o fôlego.

Embora aja uma tentativa de desnudar sua imagem, a minissérie opta por desviar de temas espinhosos como a política, evitando todo tipo de polêmica da qual Anitta se envolveu, seja por vontade própria ou como uma vítima da pressão midiática sobre ela. A própria tenta “limpar sua barra” ao gerir de forma competente sua relação com o Funk carioca e com seu bairro de origem. A vozes trazidas para dialogar com a cantora não se perdem em falas potencialmente problemáticas. Talvez a falta de coragem seja o maior defeito da obra, uma incoerência visto que Anitta representa ela mesma a coragem de quem não desiste, a mais pura representação de uma espécie de brazillian dream de ascensão social possibilitada nas últimas décadas.

Entre tentativas frustradas e acertos, transborda uma torrente de autenticidade em momentos fugidios em que Larissa se esquece do seu personagem diante das câmeras, quando não quer controlar nada. Isso tem valor não apenas para fãs, mas para todos que quiserem estar diante de uma das maiores estrelas da música brasileira. Anitta é do Brasil.

 Anitta - Made In Honório e Vai Anitta estão disponíveis na Netflix.

Comentários (4)

Abdias Terceiro | domingo, 10 de Janeiro de 2021 - 12:20

Gostei da crítica e da série.

Alan Nina | domingo, 10 de Janeiro de 2021 - 23:46

"Brazilian dream", adorei o termo

Gabriel Cine | quinta-feira, 14 de Janeiro de 2021 - 09:01

Mais chato que a série, somente a Anitta

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