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Aquaman

(Aquaman, 2018)
6,3
Média
201 votos
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Críticas

Cineplayers

Hidratando a franquia.

6,0
Depois dos filmes coletivos Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça, o herói Aquaman finalmente ganha seu filme solo em 2018, pouco mais de um ano após a estreia de Mulher-Maravilha e a promessa que o recém-inaugurado poderia combater outras franquias entre os grandes destaques do ano. E com James Wan à frente do novo filme, bem que pode ser o caso.

Wan é conhecido na indústria por conseguir se destacar na carreira de diretor e tornar seu nome conhecido por criar franquias famosas do cinema de horror como Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural, bem como emprestar seu olhar à franquias, como foi o caso em Velozes e Furiosos 7. E desse curioso olhar que mistura ação frenética, violência gráfica e movimentos de câmera elaborados que nasce o novo Aquaman.

Como história em si, o novo filme é mais do mesmo, um feijão com arroz dos brabos: Arthur Curry é meio-humano e meio atlante, treinado nas artes marciais submarinas pelo vizir Vulko. Como a proibição entre os humanos terrestres e aquáticos é proibida, sua mãe é sacrificada e Arthur cresce com o pai, um faroleiro bom de copo. Convocado pela nobre atlante Mera, acaba descobrindo que seu meio-irmão Orm planeja reunir os sete reinos dos sete oceanos para guerrear com o mundo terrestre e sua poluição e caça descontroladas.

Sim, a indústria se retroalimenta de maneira curiosa e sim, as comparações com filmes como Thor são válidas (a história do príncipe herdeiro contra o irmão louco, para apontar uma semelhança); a DCEU realmente bebe muito na fonte da Marvel após ser criticada pesadamente pelos filmes sérios e sombrios imaginados por Zack Snyder em Homem de Aço e Batman vs Superman: A Origem da Justiça.  Mas ao mesmo tempo, pode-se mesmo julgar de forma tão acintosa? A Marvel também pode ser acusada de sempre gerar filmes parecidos e suas abordagens mais sérias frequentemente sofrem da mesma “síndrome de épico” que a concorrente. A comparação sempre vai existir, mas é sensato lembrar que apesar da escala da produção seriada ser inédita, as obras em si não são exatamente algo de novo sobre o sol.

Dito isto, pode-se dizer que Aquaman também acerta em chamar alguém com o cacife e a técnica de Wan, que entrega a demanda do público por filmes mais bem-humorado e dinâmico, jogando a seu favor com um filme hipercolorido, cheio de cenários exagerados e figurinos chamativos que lembram muito a cafonice sessentista ou oitentista, onde tudo era exagerado, diferente e escapista; também é assim no seu tratamento batido da moral heroica, que chega a lembrar as produções heroicas da época, do desenho Super-Amigos aos filmes do Superman com Christopher Reeve. Para alguns isso pode ser charme nostálgico, para outros, prato requentado; de qualquer forma, é um elemento consciente sim. 

O diretor, por sua vez, parece se divertir com isso, aproveitando para inserir assinaturas comuns de seus filmes: primeiro, é uma obra muito física, onde a “divindade” do personagem é conquistada através de muitos socos, chutes, cortes e quedas, o que aumenta a sensação de realismo e que talvez seja uma das contribuições importantes do MCU, ao investir menos nos poderes estilo animes japoneses como Dragon Ball e se concentrando nos personagens sofrendo fisicamente, parecendo seres de carne e osso ainda que superpoderosos. Depois, Wan consegue inserir suas sempre interessantes transições de cenas com deslocamentos laterais e a “cambalhota de câmera” pelo qual se tornou famoso, o que aumenta a sensação de frenesi e vertigem que traduz muito bem a sensação de movimento constante do filme e acrobacias impossíveis do filme. Pensando assim, a escolha de um diretor como James Wan fez sentido.

No meio da maçaroca genérica porém ambiciosa e franqueada da indústria blockbuster, Aquaman não começa exatamente com o pé direito: o início sem Arthur Curry, onde conhecemos seus pais, poderia muito bem ser comprimido, já que é apressado e sem tanto peso dramático assim (apesar da tonelada de música e closes). Não ajuda também um genérico “arco Indiana Jones” em busca do Tridente Sagrado capaz de comandar os mares, visto que não era um lugar desconhecido aos atlantes.

O herói ser relutante com sua jornada também é um elemento visto e revisto (guarde o Luke de Star Wars e o Simba de Rei Leão) que dá uma sensação de lugar comum, ao contrário de Mulher-Maravilha, que apesar das patinadas melodramáticas era um filme de grande propulsão dramática, uma vez que a amizade de Diana com o homem Steve Trevor e suas interações na Segunda Guerra Mundial era afinal de contas sua grande transgressão da “bolha” de Themyscira. Aqui, inverte-se o escopo: o meio-atlante luta a contragosto para ser rei de um lugar que não conhece, então pode-se concluir que a missão “está no sangue”, enquanto a amazona escolheu salvar o mundo.

O roteiro de Will Beal (Caça aos Gângsteres) e David Leslie Johnson-McGoldrick (A Órfã) acerta ao menos em dois elementos: o primeiro, na sequência inicial do filme, onde Arthur é diretamente responsável por criar o vilão Arraia Negra, de escolha própria tendo culpa no desejo de vingança do vilão; e mais para a metade do filme, após uma sequência de batalhas de onde mal saiu vivo, admitir vários arrependimentos como também assumir que está com medo, o que escapa do típico “heroísmo tóxico” do vigilante de consciência limpa, sem questionamentos internos. Mais para a frente, vira um desafio interessante saber o quanto esses percalços ao longo do caminho guiam Curry para a violência ou empatia com o outro. Um desenvolvimento de personagem interessante, para dizer o mínimo.

Jason Momoa e Amber Heard, constantemente se bicando e trocando piadas e provocações, são um casal comum a esses filmes, se atraindo por pura necessidade dramática. Os melhores atores daqui, Nicole Kidman, Willem Dafoe e Patrick Wilson, alternam entre a burocracia (Kidman como Atlanna, Dafoe como Vulko) e levar uma história comum ao gênero sério demais, caso de Wilson como Orb, que empresta uma dignidade maquiavélica porém estoica e séria ao personagem - mesmo definitivamente cruel, provocador e mentiroso, Orm nunca sorri ou se diverte no papel. 

Com essa seriedade, o tom do ator faz parecer que o personagem faz isso não por gosto ou diversão, mas por necessidade, o que cria um contraponto interessante ao Aquaman. Algo parecido pode-se dizer de Yahya Abdul-Mateen II como o Arraia Negra, que louco de raiva com o protagonista (com razão), cria uma obsessão por ele e sempre ataca de maneira nada humorada e bastante enfurecida. Mas como o conflito desta primeira obra envolve a família imediata do heroi, fica nítida a impressão que apesar da origem ser explicada aqui, a relação de Aquaman com seu mais famoso vilão será mais aprofundada em um possível filme vindouro.

É difícil chamar Aquaman necessariamente de um “acerto” - no final das contas, como boa parte dos filmes de herói, é comum e genérico até o talo. Mas James Wan consegue extrair bons e empolgantes momentos em várias partes do filme, então pode-se dizer que sim, Mulher-Maravilha e Aquaman são filmes que conseguem criar concorrência a outras franquias hoje em dia. Desde que se lembre que antes de mais nada é isso que eles são - franquias.

Comentários (4)

Luís F. Beloto Cabral | quarta-feira, 12 de Dezembro de 2018 - 10:41

Com todo o respeito, mas se debruçar sobre o desenvolvimento das personagens ou da história acho que já nem vale tanto tempo ou palavra, pois como você mesmo disse os arcos e histórias são praticamente as mesmas. O ponto seria ver se os filmes apresentam alguma coisa interessante além disso. Seria o caso do Aquaman?

Carlos Eduardo | quinta-feira, 13 de Dezembro de 2018 - 13:32

Assino embaixo da crítica do Brum. Genérico até o talo, mas pelo menos é um genérico feito com amor.😏

Um salto de qualidade em relação a Liga da Justiça.

jorge lucas | sexta-feira, 28 de Dezembro de 2018 - 02:39

Roteiro extremamente clichê, mas o filme diverte do início ao fim Fui por causa de Wan e não me arrependi, sou fã desse carinha.

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