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Críticas

Cineplayers

Clichê, copiador e sem graça: temos aqui mais uma comédia romântica inútil.

3,0

Ninguém espera muito quando vai ao cinema assistir a uma comédia romântica. O mínimo que se pede são duas horas de puro escapismo, com algumas risadas e um casal de protagonistas que realmente faça a platéia torcer para que terminem juntos. Claro que ocasionalmente surge um Harry e Sally ou um Jerry Maguire para revigorar o gênero, mas se o filme conseguir satisfazer as características acima, não se pode reclamar. Pois Armações do Amor não consegue nem realizar o básico.

A história é sobre Tripp, um homem de 35 anos que ainda mora com os pais. Para levá-lo a sair de casa, os pais contratam Paula, uma mulher especialista em fazer os homens se apaixonarem por ela, fazendo eles perderem as amarras que têm com os pais e consigam alçar vôos sozinhos. Claro que os dois vão acabar se apaixonando e passando por diversos problemas até o final.

Armações do Amor segue à risca o manual das comédias românticas. Tudo aquilo que já foi visto centenas de vezes em outras produções está presente aqui. O grande problema é que nada funciona. McCounaghey e Parker não possuem química alguma, as piadas não têm graça e nem os coadjuvantes, que normalmente conseguem salvar um filme do desastre total, arrancam risadas do espectador.

Se assistir a um clichê sobre o outro já é ruim, é ainda pior ver clichês que não funcionam. O roteiro escrito por Tom J. Astle e Matt Amber é de uma infantilidade e falta de coerência estarrecedora. A boa vontade do espectador já é exigida para aceitar a profissão da personagem de Parker. Será que realmente existe alguém cujo ganha-pão é fazer os homens se apaixonarem por ela para que eles saiam de casa?

Provavelmente não, mas esse seria um problema fácil de ser relevado se o filme oferecesse outras qualidades, o que não faz em instante algum. Em certo momento, por exemplo, Paula explica os passos que segue para atingir os seus objetivos no trabalho. É de se supor que ela seguiria suas próprias diretrizes, mas basta analisar a história em retrospectiva para ver como Paula faz quase tudo completamente diferente, quebrando suas regras, como o fato de fazer sexo com o cliente.

Mas a falta de nexo não pára por aí. Os roteiristas inserem uma boa idéia sobre a mãe de Tripp dificultar a vida dele em casa, obrigando-o a fazer compras e lavar suas próprias roupas. Esse fato rende uma cena até divertida, porém, ao invés de explorar uma situação que poderia resultar em boas risadas, o roteiro simplesmente esquece disso. É apenas uma cena com a personagem de Kathy Bates explicando que Tripp terá que fazer suas tarefas e nada mais.

Além disso, a construção da personagem de Sarah Jessica Parker é uma completa bagunça. Ela parece agir não de acordo com uma personalidade estabelecida, mas com a conveniência dos roteiristas. O mesmo pode ser dito de Tripp. Mais ou menos pela metade da produção, ele tenta terminar o relacionamento com Paula, um sinal claro de que não gosta dela. Logo em seguida, porém, parece ser completamente apaixonado por ela, mostrando que os realizadores de Armações do Amor não têm a menor idéia do que seja contar uma história.

E vamos em frente. O que diabos é aquele plano concebido para fazer o casal se reconciliar? Foi preciso uma reunião com quase todos os personagens para chegar até aquela idéia “genial”? Mas se idiotice e falta de coerência não é o suficiente, ainda há plágio. A cena na qual Ace e Kit tentam ressuscitar um pássaro é uma cópia exata do momento em Quem Vai Ficar com Mary?, quando Ben Stiller traz de volta à vida um cachorrinho.

Se Armações do Amor não prima pela narrativa exemplar, o mínimo seria provocar algumas risadas. Mas nem isso. Não há uma piada inspirada em todos os 97 minutos de projeção. Nem mesmo os personagens coadjuvantes, que normalmente garantem alguns gracejos, conseguem atingir esse objetivo. Zooey Deschanel parece estar dormindo, enquanto Justin Bartha tenta por demais ser engraçadinho, soando forçado.

Todos esses problemas, porém, seriam deixados de lado se ao menos houvesse química entre os protagonistas. McCounaghey é um ator com carisma e certo talento, algo que não pode ser dito da insossa Parker. Jamais gostei do trabalho da atriz e acredito que ela só funcionava em Sex and the City pelo ótimo material do seriado. O resultado é que os dois simplesmente não funcionam juntos e o espectador jamais torce para que o casal dê certo.

O único centro de serenidade em todo o filme parece ser Kathy Bates. Na realidade, o melhor momento de Armações do Amor não envolve piada ou a relação entre o casal principal. É uma conversa entre Tripp e sua mãe, na qual Bates demonstra seu talento ao conseguir emprestar algumas camadas de complexidade à sua personagem.

Dirigido sem ambição alguma por Tom Dey, Armações do Amor consegue ser uma vergonha mesmo no já exausto gênero da comédia romântica. É um filme produzido com dois objetivos primordiais: ser assistido e, logo em seguida, esquecido. Pelo resultado final, parece que vai alcançar apenas a segunda meta.

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