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Críticas

Cineplayers

Novo Arquivo X deixa de lado a sua mitologia e mostra um novo momento da dupla Mulder-Scully, sem deixar de ressaltar que seus conflitos continuam os mesmos.

6,0

Como estarão Mulder e Scully seis anos depois do fim de um seriado com tantas reviravoltas e assuntos mal digeridos como Arquivo X? Digamos que neste que é o segundo longa-metragem da série, a idéia é realmente a de um distanciamento dos quase 10 anos em que acompanhamos a vida confusa dessa dupla, o que não deixa de ser interessante, já que tanto eu quanto você também mudamos bastante em seis anos.

É nesse sentido do distanciamento que a história traz apenas pequenos ganchos com o que se costumava chamar de ‘mitologia’ do seriado, tudo começando com o desaparecimento da irmã de Mulder até os embates com o temido Canceroso, que sequer é citado no novo longa, vejam só! Partindo disso então, o filme começa mostrando o novo estilo de vida da dupla, ambos agora desligados do Bureau Federal de Investigação, sem que seus corações tenham realmente se desligado de tudo que envolve os chamados arquivos-x.

Começando com uma daquelas cenas intrigantes, coisa dos melhores episódios, vemos uma equipe de policiais em uma neve densa, na busca de algo que não entendemos o que seja mesmo depois de ver. Em seguida encontramos Scully (Gillian Anderson) atuando como médica em um hospital cristão (estreitando ainda mais o jogo psicológico interno da personagem) à procura da cura para um garoto com uma doença degenerativa rara. Sob a censura - inicialmente velada - do padre que coordena o hospital, ela insiste na busca por um tratamento quando todos preferem deixar que o garoto morra em paz, sem maiores sofrimentos. Em meio a isso ela recebe a visita de um agente do FBI, Mosley Drummy (interpretado pelo rapper Xzibit) que diz precisar da ajuda de Fox Mulder (David Duchovny) na resolução de um caso.

Só aí descobrimos que Fox está foragido (mesmo imaginando que ‘eles’ sempre saberiam como encontrá-lo), quando Scully o procura para contar sobre o tal caso: o estranho desaparecimento de uma agente do Bureau cuja única testemunha é um ex-padre (Billy Connolly), sem nenhuma conexão aparente com a vítima, mas que diz ter visões a respeito de seu paradeiro. Aqui abramos um parêntese para dizer que mesmo sabendo que toda a história da série foi construída, de maneira direta ou indireta, a partir da relação entre os dois personagens principais, é difícil não afirmar que o carisma de Mulder supera o de sua parceira, tanto que Chris Carter e Franz Spotnitz (o primeiro, criador da série e o segundo, roteirista costumeiro) deram aquela enfeitada no pavão e fizeram suspense na primeira aparição do personagem em cena: primeiro ele conversa algum tempo de costas para a câmera para só depois revelar a aparência desse novo Mulder.

Feito isso a história se desenrola na progressão que conhecemos, pondo o personagem de David Duchovny em seu conflito primordial, o de querer acreditar em poderes sobrenaturais e toda sorte de fenômenos inexplicáveis pelas vias da ciência comum. Daí é que saí o subtítulo ‘Eu Quero Acreditar’, exatamente como no pôster velho que ainda está pendurado no escritório do ex-agente. Apenas ele é capaz de lidar com o padre-vidente porque apenas ele quer acreditar que suas visões são verdadeiras. Aqui entra Amanda Peet, interpretando Dakota Whitney, a agente a frente do caso, mas seu personagem revela ainda um outro motivo de existir: balançar sutilmente os alicerces da relação amorosa Dana-Fox que, claro, fica pra segundo plano.

Unindo todas as principais pontas da história desses personagens, o embate epistemológico entre a dupla, o amor e a dor do relacionamento entre eles, e ainda os conflitos internos de cada um, dessa vez eles ainda precisam lidar com onze pedaços de corpos encontrados enterrados no gelo; o sumiço da agente; cachorros raivosos; um padre vidente e pedófilo; e médicos russos, até que o enigma seja resolvido e a ciência possa (ou não) dar um parecer sobre o caso. E por mais que o roteiro possa ser qualificado de regular a bom, a história não consegue impactar o espectador acostumado a todos os casos escabrosos que já viu a dupla resolver. Nada surpreende, mas isso não chega a ser um defeito: a coisa flui como num episódio mais longo. Tudo selado com a marca da série.

Perguntado em entrevista ao site Dark Horizons sobre como foi a experiência de voltar a interpretar o personagem depois de tanto tempo, Duchovny disse que a ficha só caiu quando começou a contracenar com Gillian Anderson, quando assim começou a lembrar de como era interpretar Mulder, justamente ancorado pelo relacionamento entre os dois personagens, onde reside a força dessa história. Já Gillian diz que de cara enfrentou uma das cenas mais fortes de sua personagem no filme (quando Scully vai sozinha até a casa do padre tirar algumas dúvidas), e que foram necessários três dias de gravação pra que ela se encontrasse novamente com Dana.

Aos iniciantes talvez a história não traga grande novidade em filmes de investigação e suspense. Já aos fãs, é hora de tirar a poeira daquela velha camiseta, porque querer acreditar é só o que podemos fazer.

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