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Árvore da Vida, A

(Tree of Life, The, 2011)
7,2
Média
762 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Plantar uma árvore é criar um universo.

8,5

Para início de conversa, A Árvore da Vida é o tipo de filme sobre o qual se falará por muitos anos – e abordá-lo poucas horas depois de uma primeira visão em uma maratona como a de Cannes é algo bastante ingrato, mas também necessário e excitante. O novo material de Malick se coloca, de saída, para conversar com as grandes obras metafísicas do cinema. Não estamos aqui, por exemplo, no terreno das brincadeiras maneiristas, do mau gosto visual e do simbolismo rasteiro de um Aronfsky de Fonte da Vida (The Fountain, 2006), por exemplo, mas em um território onde o cinema se propõe a pensar o mundo a partir da experiência audiovisual: pode-se gostar ou não, embarcar ou não, mas é difícil negar-lhe força, potência, verdade, entrega e sobretudo rigor, muito rigor.

Em algum momento do filme, vemos Brad Pitt, que interpreta o pai, plantar uma árvore em companhia de seus filhos. Nesse pequeno movimento se encontraria, talvez, todo o cosmos.  De alguma maneira esta cena resume o movimento de Tree Of Life: pensar todo o universo a partir de um núcleo familiar, criando diversas possibilidades de conexão entre as esferas em jogo sem, no entanto, determiná-las: Malick faz aqui um cinema do deslumbre, do desconcerto frente ao grandioso, do movimento dos corpos celestes no espaço (mas também os corpos físicos), do surgimento do universo, sua expansão, sua dimensão de potência, mistério e assombro.

O filme tem uma estrutura particular de narrativa, onde o tempo a princípio obedece a uma linearidade clara: acompanhamos o cotidiano de uma família do interior texano nos anos 1950 e em paralelo vemos uma Houston contemporânea, urbana, edificada – por onde circula um desorientado Sean Penn, versão adulta de um dos irmãos a quem acompanhamos no passado.

Apenas nesse núcleo já temos material dramático interessante no que tange às dimensões diretas e indiretas de sua articulação; quem é esse Sean Penn a quem vemos? O homem emancipado que rompe suas raízes ou o simulacro contemporâneo de um alguém que nunca deixará aquela Texas, aquela casa onde fez nascer a vida e também a viu e a sentiu esvanecer, onde se fez homem à luz  (ou à sombra) de seu pai. O personagem de Sean Penn traz consigo uma intensa reflexão sobre o tempo (de matriz bastante tarkovskiana) e faz com que o simples esquema passado/presente já não seja mais capaz de abrigar as forças em jogo.

No entanto, Malick vai mais longe e o assombro cosmológico já materializado na tela pela força de seu contato com a matéria terrena (há planos antológicos, destaquemos a revoada de pássaros em meio aos arranha-céus de Houston) ganha o espaço e passamos a ver imagens diversas do universo em diferentes eras, do que parece ser sua criação ao que conhecemos como Big Ben: o oceano, o fogo, os seres pré-históricos, explosões, constelações. O universo em movimento criando o tempo e a matéria. Tree Of Life, corajoso, vai ao limite da especulação filosófica via imagens e som, no que inevitavelmente remonta ao 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968) de Kubrick (Malick trabalha pela primeira vez com efeitos visuais, inclusive com nomes envolvidos em 2001), embora ainda mais aberto e filosoficamente distante: em Kubrick há uma perspectiva claramente evolutiva do percurso do homem na Terra – que o levará à eternidade enquanto estrela integrada ao universo, o que não está dado no universo de Malick.

Mas não interessa tanto, nesse momento, descermos ao fundo nessas questões e em diversas outras que explodem na tela de Malick, até porque sequer se tocou aqui em mais uma questão que parece central: aqui não se pensa o homem como algo pequeno e irrelevante num universo imensamente maior – mas coloca questões morais e afetivas orbitando o mesmo lugar poético em que se pensa a natureza e o cosmos.  Voltemos a essas questões em outro momento, até porque, por mais que se divague sobre o que vimos neste estonteante The Three of Life, o grande convite de Malick é à nossa sensorialidade: antes de pensar, é preciso sentir. Não é todo dia que temos tanta arte à nossa frente. Goste-se ou não.

Visto no Festival de Cannes 2011.

Comentários (13)

Rafael Medeiros | sexta-feira, 15 de Junho de 2012 - 12:28

Sem dúvida que foi o melhor filme do ano e merecia ganhar o Oscar. Não ganhou por razões óbvias que nem merecem ser discutidas. Mas foi lindo ter sido indicado.

Renata Correia Nunes | domingo, 07 de Abril de 2013 - 02:33

Achei pretensioso demais. O movimento de retorno à criação do Universo e Deus ficou desencaixado na estória. Belo, porém vazio. A narração em off exaustiva ajuda a fazer o filme parecer durar 5 horas, mas isso é característica do diretor, que confesso que não gosto muito. Brad Pitt está muito bem e a participação de Sean Penn é um maiores desperdícios que eu já vi. Completamente dispensável. Dou 6.5/10.

Alan Principe | quinta-feira, 13 de Junho de 2013 - 22:16

Me desculpem, mas não é pra qualquer público. Não basta saber de cinema, tem de pensar em vida.

Jackie | segunda-feira, 01 de Novembro de 2021 - 06:28

O rei não está nu, ele está apenas usando uma roupa que só os inteligentes podem ver... [2]

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