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Críticas

Cineplayers

Schrader perde a oportunidade de voltar ao primeiro escalão de Hollywood com esta morna biografia.

6,0

Paul Schrader é um homem que conhece os altos e baixos de se trabalhar na indústria do cinema. Entre os anos 70 e 80 viu o sucesso como roteirista em colaboração com o diretor Martin Scorsese e trouxe duas obras-primas: Taxi Driver e Touro Indomável. Como diretor não teve o mesmo reconhecimento, mas produziu filmes bem-sucedidos como Gigolô Americano, artisticamente ousados para os padrões de Hollywood como Mishima: Uma Vida em Quatro Capítulos, ou ainda fortes como Hardcore. Mas dos anos 90 para cá tem feito filmes medíocres e acabou esquecido.

Auto Focus, biografia do controvertido ator Bob Crane, com bela produção e grande elenco liderado por Greg Kinnear e Willem DaFoe, parecia apontar para uma recuperação de Schrader. Afinal, é uma história cheia de elementos interessantes onde trabalhar, pois Crane foi um ator de televisão muito popular e possuía uma vida abertamente promíscua que o destruiu, mas Schrader acaba fazendo um filme burocrático, correto, mas nunca memorável.

O início é a parte mais interessante. Nele conhecemos Crane durante os anos 60, onde está deixando uma bem sucedida carreira no rádio para entrar na televisão. O filme o retrata como um homem conservador, dedicado a família e freqüentador da igreja. Sua série de televisão (exibida aqui no Brasil com um título parecido com "Guerra, sombra e água fresca") está fazendo sucesso e ele faz amizade com um homem chamado John Carpenter, um feioso técnico que o apresenta ao mundo novo e revolucionário do vídeo. Crane fica obcecado com a novidade e o apartamento do amigo solteiro lhe oferece um local discreto para levar mulheres. Daí para produção de pornôs amadores é natural.

É sabido que Crane não era tão santo assim, mesmo antes de conhecer Carpenter. Ele já tinha interesse em pornografia, mas o filme impõe que a influência de Carpenter levou Crane para esse mundo. Carpenter foi o principal suspeito da morte de Crane e o filme tenta criar motivos para justificar o fato, inclusive insinuando que o crime foi passional, motivado por uma profunda frustração devido a uma paixão homossexual nunca concretizada, pois Crane era heterosexual convicto.

Nunca houveram provas da responsabilidade de Carpenter pelo crime e nem se ele e Crane realmente foram às vias de fato, mas infelizmente o roteiro não sabe explorar todos esses detalhes e o envolvimento deles com pornografia nunca parece ter uma grande importância, apesar de ter sido isso que fez com que Crane fosse jogado no limbo por Hollywood.

Devido a essas inconsistências, o filme sofre uma queda de interesse vertiginosa até o monótono final. Kinnear parece ser levado pela corrente e faz uma atuação correta, porém inexpressiva. Já o sempre ótimo DaFoe convence como o perturbado Carpenter. Enfim, Auto-Focus é um filme correto, nunca visualmente excitante, nem excitante a outras partes do corpo, peca por nunca levar a fundo nenhuma das ótimas premissas que apresenta.

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