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Críticas

Cineplayers

É bom! Mas não tanto quanto a maioria o faz parecer.

7,5

Babel é o terceiro filme da trilogia iniciada pelo diretor Alejandro González Iñárritu, os dois anteriores foram Amores Brutos e 21 Gramas. A nova produção do diretor mexicano está sendo valorizada em excesso. Após assistir ao filme, fica a certeza de que o Globo de Ouro foi precipitado ao escolhê-lo como o melhor longa do ano. É a chance de o Oscar – que, quase sempre, comete injustiças – corrigir o erro do Globo de Ouro, porque Babel, definitivamente, não é o melhor dos cinco filmes indicados na categoria principal do prêmio da Academia. 

Marrocos: um pai presenteia seu dois filhos com um rifle, para que esses possam espantar chacais das ovelhas da família; um casal americano (Brad Pitt e Cate Blanchett) está de férias no país, tentando reabilitar o casamento. Estados Unidos: uma babá (Adriana Barazza) cuida de duas crianças, filhas do casal em férias no Marrocos. Japão: Chieko (Rinko Kikuchi) é uma adolescente surda-muda que enfrenta os problemas da idade, ao mesmo tempo em que tenta lidar com a morte de sua mãe, na companhia do pai. Pequenos detalhes ligarão as histórias umas com as outras.

O filme tem suas qualidades e seus erros. Um dos principais pontos falhos de Babel reside na parte japonesa da história, curiosamente é esse núcleo, também, que proporciona algumas ótimas cenas. A produção opta por contar histórias paralelas que se relacionam entre si e, neste aspecto, parecem ter lógica conectiva a história no Marrocos, a dos Estados Unidos/México e a do casal que tenta recuperar o relacionamento. Já a história japonesa, apesar de ter ligação com as demais, parece extremamente desnecessária em muitos momentos, servindo apenas para que o enredo construído pelo roteirista Guilhermo Arriaga e pelo próprio Iñárritu tivesse o alcance global desejado. 

O longa ainda peca por acabar imprimindo um ritmo demasiado lento às histórias, deixando a sensação de que as duas horas e meia de filme poderiam ter sido melhor aproveitadas. Isso evidencia que faltou ousadia ao diretor Iñarritu. Entretanto, sua direção é mais acertada do que errada. O mexicano acerta, por exemplo, na condução dos atores que estão todos igualmente inspirados. Da mesma forma, quando o assunto é preconceito, principalmente em relação aos americanos com os latinos, Iñarritu tem propriedade para transpor à tela essa situação babélica.

O elenco é de primeira e traz agradáveis surpresas. A principal delas não está na boa atuação da indicada ao Oscar Adriana Barazza, muito menos na grande participação de Brad Pitt - indicado ao Globo de Ouro -, e sim nas excepcionais atuações do elenco infantil. As crianças americanas, interpretadas por Elle Fanning e Nathan Gamble, são surpreendentemente competentes ao desenvolverem personagens chocados com a diferença cultural a que são expostas e ao transtorno emocional que têm de enfrentar. Os dois meninos marroquinos também conseguem dar vida a grandes personagens, principalmente Boubker Ait El Caid, que ao interpretar o menino que acerta a turista americana com um tiro, consegue ter uma das melhores atuações de todo o brilhante elenco.  Os demais, Cate Blanchett e Rinko Kikuchi, cumprem suas funções sem problemas. 

A edição é de grande qualidade. Os cortes de uma trama para outra acontecem sempre em momentos apropriados e, por vezes, com tanto capricho que trazem consigo muitos significados. Como é o caso, por exemplo, do corte inicial no qual os jovens marroquinos estão correndo em meio à pobreza com uma arma em mãos, e a cena é cortada para os filhos do casal norte-americano, correndo e brincando de esconde-esconde, em meio a uma realidade confortável e totalmente diferente. Foi por meio da corrida das crianças que a competente edição mudou o que estava sendo mostrado, indo do núcleo marroquino para o norte-americano. O filme ainda ganha força ao optar por uma edição que não respeita uma ordem cronológica entre as tramas apresentadas. Outro aspecto chama a atenção, a trilha sonora marcante, composta por Gustavo Santaolalla, o mesmo compositor da trilha de O Segredo de Brokeback Mountain.

A Babel, faltou apenas a coragem para ser o filme que deveria ter sido. Apesar de funcionar e transmitir seu recado de maneira densa, o filme não faz jus a toda atenção que a temporada de prêmios vem dispensando a ele.

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