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Batman - O Cavaleiro das Trevas

(Dark Knight, The, 2008)
8,4
Média
2140 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Aventura unida a um roteiro que entusiasma, dessa vez Batman enfrenta o seu melhor inimigo.

9,0

Nunca li HQs do Batman. Minha relação com esse personagem foi forjada por séries de TV, desenhos animados e as diversas versões cinematográficas que apareceram durante a década de 1990 e depois dela. E talvez por não conhecer "a verdade" de sua história, o Homem Morcego nunca pareceu grande coisa pra mim. Até que há uns meses atrás assisti Batman Begins na preparação para escrever sobre a continuação dessa história. E todo o significado desse personagem se reorganizou dentro de mim, pois finalmente entendi seus motivos, medos e estratégias. Com roteiro bem desenvolvido e amarrado, esse primeiro filme da nova franquia Batman quando pecou foi pela falta de carisma tanto da bela mocinha interpretada por Katie Holmes quanto pelos inimigos meio apagados, longe daqueles vilões clássicos que se costuma lembrar quando se pensa em Bruce Wayne e seus inimigos.

Aí é que se abre um novo capítulo dessa história, e seu nome é Batman, o Cavaleiro das Trevas. A tão aguardada seqüência para o filme de 2005 que muitos já elogiaram antes de mim, o que me poupa algumas linhas. Tornar contemporânea a história desse herói e ainda assim guardar a essência de seu universo fictício são algumas das qualidades que o segundo filme herda do primeiro. Principalmente no que diz respeito ao personagem de Heath Ledger, o Coringa. E pra falar dele, vou começar um parágrafo novo.

Não é bobagem dizer que a morte de Ledger adicionou a sua atuação como Coringa uma camada extra de interesse, já que antes mesmo disso a crítica já o vinha cobrindo de elogios respeitantes a este trabalho. No encalço de sua morte e à medida que se aproximava a estréia do filme, os rumores sobre o brilhantismo de sua atuação apenas cresceram e minha atitude diante disso foi de descrença, ou seja, só vendo pra crer. Não que eu duvide do talento deste ator, muito pelo contrário, mas alguém já disse que toda a unanimidade é burra. Depois de assistir a atuação de Ledger, Nelson Rodrigues que me desculpe, mas algumas unanimidades devem ser mesmo respeitadas. Não vou entrar no mérito de comparação entre o Coringa de Ledger e o de Jack Nicholson, porque ambos são visões diferentes do mesmo personagem e ambos devem ser respeitados como tal, pelo bom trabalho apresentado. Mas, quando você estiver na sala de exibição, durante uma das cenas de Heath Ledger tente se perguntar o seguinte: como um ator constrói um personagem já carimbado com a representação de outro? 

A resposta é esse Coringa tão louco quanto sensato, muito mais psicologicamente complexo, demonstrando a naturalização de uma loucura que não conhece barreiras. Alguém que não tem mais nada a perder e lá a seu modo tem momentos engraçados e apaixonados. Muito mais confuso do que o próprio personagem é enxergar na atuação de Ledger a naturalização de um personagem que de dentro pra fora traz à tona vários sentimentos, digamos, inadequados à convivência social, pois seu problema é justamente a descrença a respeito dos seres humanos, e ao sair do cinema fica aquela pergunta: será que Ledger não conseguiu superar o Coringa que saiu de dentro dele? Mais curiosa a coisa fica quando se sabe que, perguntado sobre porque Heath Ledger para o papel de Coringa, Christopher Nolan tenha dito: "porque ele não tem medo!"

Deixando de lado as especulações, vamos inserir esse personagem no filme: fazendo um link com o primeiro filme, em cujo final já sabemos da existência do Coringa, Bruce Wayne (Christian Bale) continua sua jornada pela limpeza de Gotham com a ajuda dos amigos, o comissário Gordon (Gary Oldman), enquanto o Coringa (Heath Ledger) vem comendo pelas beiradas, estabelecendo o caos como elemento surpresa. Em meio ao jogo de poder da máfia que domina a cidade, outro personagem também encontra seu lugar nas manchetes, o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), que vai construindo sobre si a imagem de homem justo e corajoso no combate jurídico – e não corporal – contra esta mesma máfia.

Numa trama de muitos personagens, todos têm seu momento e todos em determinado momento se vêem conectados. E estamos falando de uma trama intensa, onde Bruce Wayne se vê dividido entre continuar sua jornada como Batman ou ajudar Dent a substituí-lo como herói em Gotham; em que ele encontra o seu mais difícil e mais semelhante inimigo (o próprio Coringa dirá de que maneira eles se completam); em que mais uma vez Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal) contribui com aspectos amorosos aos já muitos problemas de Bruce; o Homem-Morcego sendo condenado por suas ações e viajando para bem longe de Gotham, em cenas que fazem lembrar os bons filmes de espionagem, com gadgets e binóculos e tudo mais.

E estamos falando de um filme com 142 minutos, onde encontramos aventura, romance, intrigas políticas, tramas policiais, espionagem, humor, terror (e se me permitem uma auto correção) numa trama não só de muitos personagens, mas de muitas intenções e uma boa dose de psicologismo e algum debate sobre a maldade (dessa vez levada com seriedade) que tornam a trajetória deste Cavaleiro algo realmente sombrio. Mais interessante é que o psicologismo não se restringe aos personagens principais, mas todos, desde o comissário Gordon até mesmo Lucius (Morgan Freeman) e Alfred (Michael Cane) se vêem encurralados por decisões que precisam ser tomadas e cujas conseqüências marcarão definitivamente a vida dos envolvidos, assim como reforçarão o caráter de seus responsáveis; e é aqui que conceitos como bondade e justiça serão debatidos não com o costumeiro maniqueísmo de sempre, mas sob a luz de que tudo que existe guarda em si a essência do bem e do mal.

Um grande filme de herói baseado num roteiro bem escrito, na fidelidade ao universo do personagem principal e cuja moral nos lembra que o conceito de herói diz respeito à uma pessoa cuja sorte incomum é saber-se capaz de suportar tudo que há de bom e ruim no caminho de salvar algo ou alguém. E nesse caso, Gotham City tem no mesmo homem seu herói e seu vilão, pois ele é o único capaz de ser para esta cidade qualquer papel que ela exija dele.

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