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Críticas

Cineplayers

A bolha do cinema de Honoré.

5,0

Dentre os realizadores franceses contemporâneos reconhecidos pelo público e crítica, Christophe Honoré certamente é o mais prolífico. Bem Amadas (Les bien-aimés, 2011) é o décimo título de sua carreira em dez anos, e com ele novamente o diretor nos entrega um produto com a marca Honoré, com muito que já se apresenta, mais do que características, como clichês (visuais, inclusive) do seu cinema.

Um cinema adocicado, perfumadinho, de boutique, sempre a apresentar um desfile com os melhores vestuários como numa passarela em um desfile de moda coleção outono/inverno, e as melhores estampas − ou frascos, uma vez que nos referimos à perfumaria de seu cinema: para os marmanjos, Ludivine Sagnier (sempre uma intérprete bastante limitada), e às moçoilas, o indefectível Louis Garrel (alguém que não seja do sexo feminino ainda suporta assisti-lo num filme que não seja os do seu pai?), dentre outros mais e menos famosos que compõem os elencos de suas obras.

Tirando a overdose de charme e bom gosto na qual Honoré normalmente chafurda, o que resta num filme como este seu mais recente? Pois então, Bem Amadas se torna difícil de não ser visto ou pensado como uma novela das oito. Honoré trabalha numa certa zona de indiferença estética, seus personagens parecem habitantes de um mundo de plástico, numa relação efêmera com essas figuras, que só ganham corpo e credibilidade mesmo aos olhos dos seus fãs se encarnados por atores reconhecidos cujos rostos imediatamente transmitam uma cumplicidade com o público (um filme do diretor francês sem nenhum astro provavelmente não convenceria ninguém). Não há afrontamentos da parte do cineasta para com os personagens, e nem destes para com o mundo. Em Bem Amadas a vida se resume a uma ciranda de relacionamentos e traições (sempre marcada por uma rede de “afetos”, o que surge como parte da necessidade que o diretor tem em cativar), somente interrompida por fatalidades providenciais do roteiro, como o suicídio e a doença, ou os acontecimentos históricos que permeiam a narrativa: a Primavera de Praga em 68, e os atentados de 11 de setembro no limiar do novo século.

O filme é dividido entre essas duas épocas, com Madeleine na fase jovem (Ludivine Sagnier), onde o passado (contado a partir de 1964) ganha forma com as cores dos musicais da época de Jacques Demy (melhor ficar com o original), e com a mulher se envolvendo com o médico estrangeiro Jaromil (Radivoje Bukvic), o que lhe acarreta uma filha, e o posterior abandono, que a faz fugir para procurá-lo na República Tcheca durante a invasão comunista em Praga. Quarenta anos depois a filha, Vera (Chiara Mastroianni), repete o mesmo percalço de decepções da mãe, com uma paixão obsessiva por um amigo homossexual (Paul Schneider) e como alvo do interesse do personagem de Garrel, enquanto que a própria Madeleine mais velha (Catherine Deneuve) prossegue com as idas e vindas de sua relação com Jaromil (na falta do falecido Marcello Mastroianni − pai de Chiara fruto de sua relação com Deneuve −, que muito provável e oportunamente gostaria de ter utilizado, Honoré recorre a uma participação do cineasta Milos Forman no papel).

Em meio a tudo há as canções, novamente escritas por Alex Beaupain, o mesmo de um dos sucessos anteriores do diretor, Canções de Amor (Les Chansons D'amour, 2007), reciclando elementos e um estilo (não bastassem os mesmos atores) de uma receita que triunfara antes com um público numeroso. Algumas canções se casam melhor com as imagens, em outras parece que estamos a ouvir uma rádio em paralelo enquanto vemos o filme, sem falar quando determinados trechos com música perigam tomar forma de videoclipe, bem ao gosto de um cinema publicitário como o do diretor. Porque na verdade certos filmes seus se assemelham e podem ser deliciosos e envolventes como uma canção pop. Mas como cinema ainda é muito pouco.

Comentários (5)

Allan Kardec da Silva Pereira | sexta-feira, 13 de Julho de 2012 - 20:06

o indefectível Louis Garrel (alguém que não seja do sexo feminino ainda suporta assisti-lo num filme que não seja os do seu pai?)

Preciso, Lazo, o cinema de Honoré parece capengar na própria fama, tropeça nos próprios passos. O que antes parecia algo bacaninha (Canções de Amor, Em Paris) nesse filme é pura perfumaria. Te cuida Xavier Dolan!!!

Adriano Augusto dos Santos | segunda-feira, 16 de Julho de 2012 - 08:25

Eu adoro esse estilo do Honoré.Ele faz musical com propriedade e muita beleza visual,é fácil envolver em seus romances.

Patrick Corrêa | terça-feira, 17 de Julho de 2012 - 09:08

Pensei que fosse discordar mais da crítica quando vi a nota.
Mas até que há pontos dos quais assino embaixo, embora ainda tenha gostado um pouco mais do filme que o Lazo.

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