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Críticas

Cineplayers

Mais é menos.

2,0
Parecia uma combinação impossível de dar errado. O escritor Jo Nesbø é um dos maiores e mais celebrados escritores da atualidade. O diretor Tomas Alfredson é um dos mais celebrados diretores da atualidade. Ambos são noruegueses, logo uma parceria no cinema podia ser visto até como um lugar comum, um desses casos onde a qualidade obviamente estaria impressa. A eles se juntaria Michael Fassbender, um dos grandes atores da década e pronto, um programa pra ninguém duvidar. E tinha mais: produzido por Martin Scorsese, montado pela sua eterna colaboradora Thelma Schoonmaker, fotografado por Dion Beebe, enfim... não tinha como dar errado. Pois é, deu. Um enorme fracasso de público e crítica, daqueles momentos onde se arranham muitas carreiras. Se formos analisar quesito a quesito, provavelmente não haverá uma salvação clara, já que tudo é muito comprometido. Mas um roteiro inexplicável talvez fale mais alto.

Nesbø tem um personagem recorrente, o detetive Harry Hole. É aquele típico perdedor na pior fase da vida, que o filme tenta observar de maneira detalhada. Pois é, esse talvez seja um dos grandes pecados do longa. Alfredson acabou declarando que o roteiro do filme foi tão retocado que ele começou as filmagens sem um desenho final de roteiro e provavelmente deve ter rodado diretamente a partir do livro de tempos em tempos. Só isso justifica o apego a tantos elementos, alguns bastante descartáveis. A base para uma boa adaptação é a percepção do que é necessário permanecer e o que poderia ser cortado na transição. O pior resultado é achar que tudo tem importância suficiente e deve entrar, e esse parece ter sido o caso. O filme parece entulhado de personagens, cenas, situações, desdobramentos, que nunca parecem ter uma estrutura orgânica, e sim apressada e desastrada.

Escrito pelos indicados ao Oscar Peter Straughn e Hossein Amini, não consigo encontrar nem vestígio do trabalho deles. Por ser um filme abarrotado, as sutilezas não conseguem ser bem defendidas ou mostradas, e a construção dos personagens acaba soando supérflua. Com isso, grandes atores como Fassbender, Charlotte Gainsbourg e Rebecca Ferguson ficam sem ter o que fazer, apenas relegados a reproduzir cenas, sem um mínimo de camada ou dubiedade. É tudo preto e branco, e não se estranha matar a charada do filme com tanta facilidade. A quantidade de personagens sem função e vazios a desfilar pela tela é de dar pena, principalmente quando eles são vividos por J. K. Simmons, Chloe Sevigny e Val Kilmer. Poucos filmes com roteiros problemáticos conseguem sobreviver a eles, as possibilidades não são nulas. Mas aqui em Boneco de Neve sempre acaba acontecendo o que não se quer.

De maneira bem literal, Alfredsson não consegue transparecer nunca o autor de mão cheia que seus longas deixavam claro. Obedecendo cânones do gênero, o diretor se rende ao óbvio e também deixa a burocracia falar mais alto por aqui. Com pouca ambição artística, o filme acaba caindo num valão de mediocridade e mesmice, servindo apenas para ligeira apreciação de público sem qualquer exigência para além de sustos baratos e plot twists sem vida. Não há qualquer charme na fotografia ou na trilha sonora que coloque o filme num lugar ainda que com uma elevação, mesmo que pouca. Tendo acusado o estúdio de interferências e falta de poder decisório no corte final, que teria sido assumido pelo estúdio, não há pontos de interesse aqui mais abrangentes.

É visível como o elenco se sente desconfortável em precisar reproduzir baldes de obviedade. Fassbender tem apenas uma única expressão (dor) o filme inteiro, enquanto que as mulheres que o rodeiam são variações de um mesmo tema, parecendo possuidoras de grandes momentos de internalização, quando na verdade tudo se encaminha para elas se tornarem frágeis e indefesas mocinhas, relevos que nem cabem no retrospecto dessas atrizes. O elenco no entanto é tão bom que não é de se estranhar que eles consigam criar cenas boas, dependendo só do seu talento. Irritantemente clipado por diversos momentos, Boneco de Neve além de tudo não provoca qualquer interesse durante sua projeção, pelo contrário. A mesmice generalizada e a bagunça de uma história contada com o pé no acelerador como se fosse um resumo causa afastamento inclusive emocional com o produto. Isso vindo de um material que se esperava tanto pela quantidade de talento empregado é mais que assustador, é de dar pena.

Comentários (1)

Pedro | sexta-feira, 24 de Novembro de 2017 - 00:17

os textos do Carbone conseguem ficar mais ruins a cada crítica, impressionante.

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