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Breve História do Planeta Verde

(Breve Historia del Planeta Verde, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Inusitado, mas só na superfície

5,5

Vencedor do Teddy de 2019, o prêmio de filmes de temática LGBT do Festival Berlim, Breve História do Planeta Verde transpira o inusitado em seu início: o longa do argentino Santiago Lorza, afinal de contas, é uma história sobre três amigos não-normativos - uma mulher trans, um homem bissexual e uma mulher cis e antissocial - que vão visitar a casa da avó da primeira apenas para descobrirem que a idosa viveu seus últimos anos de vida ao lado de um alienígena, cujo último pedido é levar a enferma criatura para o lugar onde ela foi encontrada em primeiro lugar.

É possível encontrar na internet Breve História do Planeta Verdade sendo chamado de "versão LGBT de E.T. - O Extraterrestre", fazendo referência ao mais famoso filme de comunhão entre formas alienígenas de vida e seres humanos. Mas Lorza evita tornar seu longa um espetáculo catártico de entretenimento, e todos os esforços são centrados em explorar as paisagens interiores de seus personagens que, em um "walking movie", como definiu a produção, todos inevitalmente tansformados enquanto se deslocam de um dia-a-dia aparentemente depressivo.

Porém, justamente por isso, mal dá para dizer que Breve História do Planeta Verde é exatamente um filme de fantasia ou ficção científica, já que isso é o que menos interessa; figura mais como ponto de partida e contexto, quase um McGuffin: não importa porque estão viajando, mas sim o fato de que estão viajando. O que é até curioso, pois dois dos momentos-chave dependem, justamente, de uma suspensão de descrença por parte do espectador.

No resto do filme, o trio lembra do passado e de experiências traumáticas com a homofobia, cuidam de Tania, que sofre de uma dor crescente, encontram figuras da sua história; pouquíssimas vezes o alienígena parece exercer qualquer tipo de influência ou mesmo qualquer personalidade a ser desenvolvida. De maneira absurdista, as pessoas não parecem se importar muito com o alienígena (exceto por um momento).  Um tratamento curioso a ser dado para a fantasia, se pensarmos bem, que envolve a interação com o desconhecido, a surpresa, a transgressão; aqui, o elemento fantástico é quase mundano, exceto quando a estranheza volta a ser conveniente.

Então, por mais que arranque risos do público, de resto, Breve História do Planeta Verde trata de almas confusas em busca de um destino. Com diálogos repletos de lugares comuns, uma certa falta de frontalidade ao tratar dos dramas e um excesso de personagens pontuais, nunca se desvia da chave da sutileza, arranjando mesmo nos momentos mais intensos saídas repentinas.

Mesmo com seu desacerto tonal e fogo baixo que a trama é guiada, no final das contas, Breve História do Planeta Verde tem um mote interessante que carrega o espectador até o final, é verdade, tamanha a curiosidade que seu início suscita, mas fica a impressão que não houve um real interesse em se aprofundar justamente no seu maior diferencial, com o fantástico sendo muito pouco, nunca convencendo como real agente transformador da trama. Dá para dizer que foi um filme que ficou na promessa, perdido nas próprias ambições de fantasia, garantindo seu destaque por, para além da premissa, alguns momentos de leve beleza que surgem pontualmente, mas nunca o suficiente.

Crítica da cobertura do 21º Festival do Rio

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