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Críticas

Cineplayers

Bruno Barreto adapta peça teatral que no cinema se mostra sem graça e aborrecida.

4,0

Nos últimos anos os produtores nacionais têm investido em adaptações para o cinema de peças teatrais consagradas, por falta de bons roteiros originais, uma de nossas grandes carências, ou por tentar seduzir aqueles que assistiram ao espetáculo previamente. Os resultados são muito díspares, gerando filmes excelentes como A Máquina, de João Falcão, ou que não honraram a fonte, vide Fica Comigo essa Noite, também de Falcão, ou Irma Vap - O Retorno, de Carla Camurati. 

Caixa Dois é mais um exemplo dessa transposição do teatro para o cinema. A peça, escrita por Juca de Oliveira, ficou anos em cartaz e obteve mais de um milhão de espectadores, sendo agraciada com vários prêmios, entre eles um prêmio Shell de melhor ator para Fúlvio Stefanini, que encarnava o bancário Roberto. Como uma brincadeira por parte dos realizadores do longa-metragem, Stefanini foi chamado para integrar o elenco do longa-metragem, mas dessa vez encarnando o outro lado da moeda, o banqueiro Luiz Fernando.

A trama, cuja atualidade é inegável, gira em torno de uma considerável quantia, ilícita, originada por transações escusas envolvendo Luiz Fernando. A confusão é armada quando o assessor deste, o executivo Romeiro (Cássio Gabus Mendes), é encarregado de depositar a tal quantia na conta de um laranja, a secretária Ângela (Giovanna Antonelli). Só que Romeiro deposita o dinheiro na conta errada, e a fortuna acaba indo para Angelina (Zezé Polessa), não por acaso a sensata esposa do recém-demitido bancário Roberto (Daniel Dantas), que após dedicar vinte e cinco anos à empresa de Luiz Fernando é demitido, junto a outros seiscentos funcionários, por conta da inevitável automatização. Há ainda Henrique (Thiago Fragoso), filho de Roberto e hábil no manuseio de computadores.

O encarregado da adaptação do texto foi o quase novato roteirista Marcio Alemão. Sua única experiência anterior na área, em longa-metragem, foi o texto de Viva Voz, de Paulo Morelli. Aqui Alemão consegue ao menos uma façanha: deixar o texto bem cinematográfico, sem resquícios de sua origem teatral. Por outro lado, ele falha ao tentar distribuir o filme em mais ambientes além dos dois cenários principais, interferindo diretamente no ritmo do longa-metragem. E essa falta de fluidez repercute diretamente no resultado geral.

É muito ruim, para um filme que se propõe ser comédia, ter um andamento tão irregular, principalmente em seu princípio. Com meia hora de duração a sensação é que a história simplesmente não saiu do lugar, até porque tem a agravante de ser um filme bem curto. A estética retrô, notadamente marcada na fotografia e na trilha sonora incidental, também não ajuda em nada. Por outro lado é muito bom perceber que o diretor Bruno Barreto, depois do pavoroso Voando Alto e do bobinho O Casamento de Romeu e Julieta, tenta segurar o filme com sua experiência, abusando (no bom sentido) de inteligentes movimentos de câmera e manejando um elenco afiado. Barreto não consegue transformar “Caixa Dois” em um bom filme, mas quase chega lá.  Tomara que tenha melhor sorte em seu próximo projeto, sobre o seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro que já rendeu o imperdível documentário Ônibus 174.

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