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Críticas

Cineplayers

Bobo e infantil, filme representa um passo atrás no atual cenário dos filmes de super-heróis.

4,0

A essa altura, todos já devem estar sabendo do ambicioso projeto da Marvel intitulado Os Vingadores (The Avengers, 2012). Para quem não faz ideia do que se trata, um pouco de contextualização: ao decidir levar às telas a união de seus principais super-heróis, como ocorria nos quadrinhos, o estúdio optou por realizar os filmes individuais de cada um deles dentro de um mesmo universo. Assim, em todas as produções, foram inseridos elementos que deixavam claro o fato de cada história fazer parte de um plano maior, no caso, o filme dos Vingadores liderados por Nick Fury. Agora, após Tony Stark, Bruce Banner e Thor darem as caras em suas aventuras (com participações rápidas da Viúva Negra e do Gavião Arqueiro), chegou a vez de Steve Rogers, mais conhecido como Capitão América, fechar o terreno que estabelece as bases para aquele que certamente será um dos filmes mais vistos do próximo ano.

Infelizmente, Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011), é uma realização menos bem-sucedida do que os seus predecessores. Talvez pela própria natureza panfletária e ufanista do personagem dos quadrinhos, trata-se de um filme bobo, simplista, que carece da ironia destilada em Homem de Ferro (Iron Man, 2008), dos conflitos internos vistos no protagonista de O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008) ou da semi-shakespereana relação familiar presente em Thor (idem, 2011). Na realidade, a aventura do Capitão América parece, por vezes, um filme infantil, até mesmo uma produção da Disney, onde tudo é preto ou branco: os heróis são perfeitos e valorosos e os vilões são monstrengos malvados com planos de dominar o mundo. É, de certa forma, um passo atrás em relação à evolução atual dos filmes de super-heróis – tanto da Marvel quanto de outros estúdios –, que têm buscado fugir da abordagem ingênua, focando em um público mais inteligente e adulto.

Capitão América: O Primeiro Vingador não tem a mesma intenção. O roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely parece desprovido de qualquer receio de apelar a clichês, construindo uma história óbvia e sem surpresas. Em certo momento, por exemplo, ao discutirem sobre a invasão a uma base inimiga, alguém pergunta: “Mas não podemos chegar lá e simplesmente bater na porta da frente.” De prontidão, Steve Rogers responde: “Por que não? É exatamente isso o que vamos fazer.” Este diálogo simboliza a preguiça dos roteiristas em buscar alguma ideia original ou criar uma solução inteligente para resolver os conflitos (também rasos) expostos no enredo. Ao contrário, o que se vê na produção é sempre a saída mais fácil, um desenvolvimento de trama sem muita lógica e uma construção de personagens praticamente nula. Talvez a única ideia realmente merecedora de crédito é a justificativa encontrada para o nome e uniforme do herói: como propaganda política para a arrecadação de recursos para a guerra.

Como se não bastasse, os roteiristas ainda fazem com que certas coisas ocorram apenas para fazer o enredo do filme seguir adiante, mesmo que isso resulte em situações que chegam a insultar a inteligência do espectador. Boa parte dos inimigos, por exemplo, parece ter pena do Capitão América, pois somente isso explica o fato de não atirar no herói quando surge a oportunidade, preferindo chegar perto dele para, então, claro, tomarem uma porrada com o escudo na cara. Da mesma forma, o que é o tal cubo de energia e qual sua relação com o universo de Thor? Ou como o Caveira Vermelha conseguiu montar todos aqueles equipamentos altamente tecnológicos em tão pouco tempo? Aliás, o que realmente aconteceu com ele para ficar daquele jeito? Em que consiste o seu plano? Destruir meio mundo somente para mostrar que possui o “poder dos deuses”? Sinceramente, parece o plano mais idiota da história da vilania. E o que aconteceu com ele no final?

Questões pessimamente trabalhadas como estas até poderiam ser relevadas caso o filme, ao menos, apresentasse personagens interessantes – Homem de Ferro, por exemplo, também possui uma trama com problemas, mas é sempre divertido assistir Tony Stark. No entanto, Steve Rogers é um protagonista insosso, correto demais, incapaz de gerar qualquer interesse por parte da plateia. Para piorar, Chris Evans possui as mesmas características, com uma única expressão de bom moço, fazendo do personagem o mais sem graça deste recente universo Marvel. A favor de Evans, o restante do elenco segue pelo mesmo caminho. A superficialidade do roteiro não permite nem que bons atores consigam momentos de destaque: Tommy Lee Jones apenas trabalha a sua característica rabugenta e Hayley Atwell nada faz além de parecer linda. A inverossimilhança do caso de sua personagem com Rogers, aliás, é mais uma demonstração de um roteiro raso, apressado e baseado em lugares-comuns - afinal, qual o papel dela na trama exceto se tornar o interesse amoroso do herói?

Enquanto isso, o diretor Joe Johnston também se mostra pouco inspirado, inclusive naquilo que deveria ser o forte de uma produção como Capitão América: as cenas de ação. Responsável por alguns filmes apenas corretos como Jurassic Park III (Jurassic Park III, 2001) e outros equívocos como O Lobisomem (The Wolfman, 2010), Johnston entrega sequências burocráticas, filmadas sem imaginação e alheias a qualquer espécie construção de tensão. Os combates de Steven Rogers com os inimigos são rápidos demais, e a aparente facilidade jamais faz a plateia se importar com o que irá acontecer. Além disso, o cineasta ainda comete deslizes comuns a filmes voltados ao público infantil, mas insuportáveis em uma obra que deveria fazer parte do universo Marvel: é o caso, por exemplo, da pieguice e da falta de sutileza dos momentos em que o herói recebe ovações e a trilha sonora heróica cresce sem o menor pudor – momentos em que um espectador mais crítico pode sentir ânsia de vômito.

Contando com piadas nem um pouco inspiradas e até mesmo efeitos especiais duvidosos (se a aparência frágil de Steve Rogers é impecável, há cenas nas quais o CGI é lamentavelmente óbvio), Capitão América: O Primeiro Vingador é um filme incapaz de cumprir o seu simples papel de entretenimento. Na realidade, em sua abordagem estereotipada e infantil, parece produto de um outro tempo de Hollywood, antes de Bryan Singer e Christopher Nolan mudarem as regras dos filmes de super-heróis. Quem ainda acha interessante um herói à moda antiga, puro, bom, patriota e sem qualquer complexidade, pode até se divertir.

Mas, hoje, não parece mais haver lugar para esse tipo de herói no cinema.

Comentários (9)

Walter Prado | domingo, 29 de Setembro de 2013 - 10:38

No caso aqui, o filme é mais do que sem sal. É ruim de doer mesmo.

Alexandre Guimarães | domingo, 29 de Setembro de 2013 - 10:59

Um lixo, é sem sal porque não tem nem o que temperar...

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 16:12

O Capitão América foi criado para inflar o ego dos americanos e só. O personagem é muito chato, um almofadinha patriota a 100% correto, sem drama, sem carisma e interpretado por um ator medíocre e com um vilão (não só no filme) dos mais clichês e idiotas de todos!!!

Marcelo Eduardo Marchi | sábado, 13 de Janeiro de 2018 - 17:13

É legal vir ler as críticas alguns anos depois: "Mas, hoje, não parece mais haver lugar para esse tipo de herói no cinema."

O sucesso subsequente de heróis à moda antiga como o próprio Capitão América e a Mulher-Maravilha mostraram exatamente o contrário.

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