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Críticas

Cineplayers

Eles conseguiram de novo, Carros confirma o estúdio Pixar como o único que faz filmes infantis relevantes hoje.

7,0

Carros é, sem dúvida, a produção mais conturbada do estúdio Pixar desde que iniciou sua parceria com a Disney. Programado para ser o último filme antes de se encerrar o contrato, sofreu adiamentos e acabou atravessando a transição em que a Disney adquiriu o estúdio e o seu diretor, John Lasseter (Toy Story 1 e 2), tornou-se diretor criativo da divisão que cria atrações para os parques da empresa. Seria então Carros seu filme de despedida? Provavelmente sim. Outro obstáculo foi o trailer, que deixou a impressão de um filme muito direcionado à cultura e gosto americano, com corridas de Nascar, Grand Canyon, música country e Rota 66; não é uma impressão errada, mas felizmente o filme oferece mais do que isso.

Relâmpago McQueen (Owen Wilson na voz original) é um carro de corridas novato e talentoso que está disputando a prestigiosa Copa Pistão. Por causa de sua atitude egocêntrica, ele afasta toda sua  equipe de apoio e, durante a viagem para Los Angeles, onde ocorrerá a final da Copa, se perde e acaba numa cidadezinha esquecida no meio do deserto, arruinando sua rua principal. Como pena, ele é forçado a ficar e consertar a rua, conhecendo assim os habitantes do lugar: um velho carro de polícia, um gincho caipira, uma kombi hippie, um Jipe militar aposentado, um casal de clássicos rabos de peixe, dois carrinhos italianos fãs da Ferrari (um deles dublado por Tony Shaloub, o Monk da série de TV), uma velha calhambeque e um possante carrão antigo (dublado por Paul Newman), que se faz às vezes de juiz. Junto com eles, nosso herói aprende lições de vida e se apaixona pela última moradora do lugar, uma sexy Porsche. Sim, a história lembra muito um filme antigo com Michael J. Fox chamado Doctor Hollywood que apresentava quase a mesma trama e mensagem.

É uma faca de dois gumes. Superficialmente, é um filme pouco original e bastante previsível, que começa ágil e intenso na corrida de abertura, mas fica lento e quase monótono quando chega na cidadezinha onde irá passar a maior parte da trama. O problema é que exatamente isso que o filme deseja evocar, uma fuga do ritmo alucinante que o mundo moderno exige, um olhar mais contemplativo e simples à vida. Em meio a toda essa aura ingênua é impossível dissociar a sinceridade e carinho com que Lasseter e a Pixar dedicam a cada elemento da qualidade final do filme; é notável a tentativa dele de trazer um pouco de suas experiências de infância para Carros, carregando-o de nostalgia.

Mas será que as platéias querem assistir à homenagem de um animador de meia-idade ao american-way-of-life, algo que obviamente não existe mais da forma que ele a conheceu? Devo dizer que, mesmo com todo meu preconceito prévio, cheguei a me comover em algumas cenas e a Pixar não deixou a qualidade cair. Seus filmes não são máquinas de piadas como as animações da Dreamworks e Carros continua demonstrando a inteligência e o esmero do estúdio em seus roteiros, como a crítica bem-humorada à glamurização do crime com os carrinhos "tunados" ridiculamente exagerados ouvindo gangsta rap. Ainda assim, o filme não deixa de ter uma boa dose de cenas engraçadas e devo elogiar a dublagem em português que insere poucos, mas bem colocados cacos com piadas para o público brasileiro.

Não se pode falar do filme sem mencionar também as belíssimas imagens. Há cenas só com vistas de paisagem que transportam o espectador na viagem do personagem e no mundo habitado por carros, onde os besouros são fusquinhas e as vacas tratores, onde as casas são garagens e os aviões deixam marcas de pneus no céu; a criatividade e tecnologia do estúdio continuam em alta.

Transporte-se ao seu tempo de criança e deixe o cinismo moderno em casa, Carros é uma viagem divertida e sensível. Chegue cedo para assistir ao curta "Banda de um Homem Só" e fique durante os créditos para ver mais cenas, incluindo as divertidas paródias Toy Car Story e Monster Cars S.A. Os caras da Pixar não descansam.

Comentários (2)

Luiz F. Vila Nova | terça-feira, 02 de Setembro de 2014 - 21:58

O mais fraco do estúdio depois de Carros 2. Ainda assim, uma animação divertida e bem produzida.

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