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Críticas

Cineplayers

Doze anos depois, Bullock e Reeves juntos novamente, dessa vez em um lindo romance.

8,0

Refilmagem de um filme sul-coreano chamado Siworae, este A Casa do Lago marca o reencontro de Sandra Bullock e Keanu Reeves no cinema, exatos doze anos depois de terem lançado o mega-sucesso Velocidade Máxima, em 1994. E é bom dizer que esse novo trabalho dos dois é um filmaço, daqueles romances sérios de fazer chorar que são feitos poucas vezes com qualidade em Hollywood. Não é o tipo de comédia romântica idiota que quase toda semana chega aos cinemas, mas sim o romance em sua forma bruta e clássica, para ir com um acompanhante, comprar um pacotão de pipoca na entrada e, claro, não esquecer o lenço de bolso.

Bullock é Kate Foster, uma médica recém-formada que se muda para a cidade grande para trabalhar em um hospital, depois de passar alguns anos morando em uma casa do lago. Reeves é Alex Wyler, um arquiteto de talento que tem problemas com o pai e é o novo morador da casa. Através de cartas deixadas na caixa de correio do local, os dois se conhecem e passam a manter um contato, até que rola um interesse mútuo, que não poderá ir a frente por um simples detalhe: ele vive no ano de 2004, enquanto ela está em 2006.

Preciso no modo de apresentar a distância espaço-temporal entre os dois, sem nunca deixar que a situação pareça ridícula ou inverosímil (apesar de ser), o diretor Alejandro Agresti faz, em seu primeiro filme em língua inglesa, um trabalho preciso e tocante: não se limitando a ser apenas uma historinha de amor entre os dois, o filme aproveita para discutir, através do ótimo roteiro de David Auburn, coisas do dia-a-dia comum a qualquer pessoa. Se entregando de forma sutil aos clichês do gênero, o filme tem o seu diferencial: ao contrário dos famosos romances impossíveis, Kate e Alex podem ficar juntos, desde que um deles saiba como superar essa distância temporal de dois anos que os separam.

Isso é legal pelo simples fato de que passamos a torcer pelos dois, mesmo sabendo que tais coisas simples do dia-a-dia podem impedir que esse encontro, marcado dois anos antes, aconteça. É um filme feito para chorar mesmo, mas que tem a coragem de ser um pouco menos convencional na sua estética, ao apresentar a história sem achar que o público é burro e que tem toda a estrutura clássica de tragédia, tomando a coragem de ser diferente e eficiente na conclusão.

Bullock, mesmo quarentona, continua absurdamente linda e convence fazendo uma personagem alguns anos mais nova, e até a fala presa de Reeves está menos gritante aqui, algo que vem melhorando a cada filme do ator, que parece se soltar cada vez mais. O elenco tem ainda um Christopher Plummer sem muito espaço, o que é um pecado, mas sua presença de tela é um fator fortíssimo para acrescentar ao sentido artístico da obra, já que ele dá um show no pouco tempo que tem e arrebenta como o pai amargurado de Alex.

Tem cenas piegas, é novelão para chorar, extremamente bem filmado (linda fotografia de Alar Kivilo), enfim, um romance para se ver a dois e que tem total condições de marcar presença na história do cinema não só pelo fato da falta de concorrência do gênero, que lança um bom filme a cada longos anos, mas seus méritos discutidos acima o faz ter forças próprias para uma bela sessão de bom cinema romântico. Você vai simplesmente acompanhar a deliciosa história que passa em um instante e se encucar com os encaixes que o roteiro faz ao brincar com o tempo.

Maravilhoso, como um grande romance obrigatoriamente deve ser.

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ATENÇÃO: os parágrafos a seguir contam pontos importantes da história, então leia-os apenas se já tiver assistido ao filme ou então por sua conta em risco.

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Se há um problema mais sério com o longa, esse se diz em algumas cenas onde o diretor, querendo aproximar os dois personagens, coloca-os em um mesmo plano, com o espaço de dois anos sub-entendido, mas o diálogo tratado como se ele não existisse. Vemos, por exemplo, Kate e Alex conversando na cantina do hospital, obviamente por cartas, mas como se estivessem ali, sentados juntos, conversando. Isso é ruim porque tira quase que completamente o impacto do final, onde os dois ficam realmente juntos. Você já os viu juntos, então não haverá aquele baque de vê-los aí, o que o erro mais grave de todo o longa.

Mas a coragem de fazer um filme claramente triste, trágico, mas com o final feliz sem ser brega é algo a favor, já que romances hoje em dia, para serem marcantes, quase sempre apelam para a tragédia, poucas vezes saindo com um sorriso do cinema ao final da sessão. E esse A Casa do Lago consegue a proeza de ser bom, bonito, feliz, triste e marcante, tudo ao mesmo tempo.

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