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Críticas

Cineplayers

Um remake caprichado, mas bem inferior à sua fonte.

7,0

O Oriente é o grande reduto estético e intelectual do cinema atual. Obras instigantes, livres de amarras e de diferencial autoral ganham cada vez mais notoriedade no Ocidente, além de virarem papões de prêmios ao redor do planeta. A cinematografia da Coréia do Sul é um dos seus grandes representantes, e sua forma de gestão empresarial tem muito o que ensinar ao Brasil: leis de incentivo do governo são responsáveis pela confecção de cinema autoral, enquanto a iniciativa privada banca os filmes de apelo comercial. Nada mais justo, e que permite que surjam nomes como Park Chan-wook (Oldboy), Kim Ki-duk (A Ilha) e Hong Song-soo (A Mulher é o Futuro do Homem). É também desta Coréia o filme Siworae (ou "Il Mare", como é conhecido internacionalmente), belíssimo drama romântico com toques fantásticos dirigido por Lee Hyun-seung, que faz a junção entre o que há de melhor no cinema de autor com apelo também para as massas – infelizmente o filme ainda está inédito no nosso país. 

A grande máquina de Hollywood, que há muito já tinha aberto os olhos para o movimento asiático e já vinha explorando exaustivamente o terror nipônico (alguém mais agüenta ver menininhas cabeludas mortas?), viu em Siworae um filão que sempre dá certo: a fantasia. Que alma sensível consegue segurar as lágrimas ao assistir o melodrama Em Algum Lugar do Passado? – É, talvez não sejamos mais tão sensíveis assim...

Para a refilmagem, chamaram para dirigir o experiente cineasta argentino Alejandro Agresti (do tocante Valentin) e, para roteirizar, o teatrólogo norte-americano David Auburn, vencedor do Pulitzer pela peça "A Prova", que ganhou sua versão cinematográfica ano passado. No elenco, o primeiro reencontro entre dois astros que há mais de dez anos alcançaram o estrelato dentro de um ônibus desgovernado: Sandra Bullock e Keanu Reeves. 

Reeves é Alex Wyler, arquiteto com problemas familiares que compra uma bela e isolada casa à beira de um lago. Encontra uma carta deixada pela antiga inquilina, a solitária médica Kate Forster (Bullock), e passam então a se corresponder. Mas se dão conta que, por algum motivo inexplicável, estão separados temporalmente por dois anos. Como a paixão surge inevitavelmente (não se esqueçam, é um filme de natureza romântica), o impasse surge: já que estão separados por tão curto espaço de tempo, a possibilidade de um encontro real é plausível, basta apenas encontrar uma forma para que isso aconteça.

As mudanças impostas ao roteiro original por David Auburn não foram lá muito felizes. Se, por um lado, ele aumenta a idade dos protagonistas (no original, o casal é bastante jovem, e os intérpretes, fracos), conseguindo tornar a estória mais tocante, por outro enfraquece o interesse com duas manobras desastradas: a primeira diz respeito ao acréscimo de personagens secundários desinteressantes e mal desenvolvidos (o pior de todos, o pai de Wyler, é interpretado por Christopher Plummer); a segunda e mais grave é que permite o encontro real entre os dois protagonistas já no meio do filme, o que diminui as expectativas pelo desfecho.

Agresti investe em cenas longas, em um ritmo mais lento que o convencional, e abusa de uma fotografia rebuscada, tornando-a plasticamente irretocável – a trilha sonora discreta e delicada de Rachel Portman é um primor. Qualidades de um filme instigante que, mesmo inferior à fonte, emociona e faz pensar – você vai querer assisti-lo mais de uma vez para tentar encaixar todas as peças.

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