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Críticas

Cineplayers

Quando o mais assustador é a falta de ideias.

4,0

Oren Peli é o grande nome por trás do lançamento de Chernobyl (Chernobyl Diaries, 2012), apesar de não dirigir a produção. Foi lançado ao estrelato instantâneo depois do sucesso de público e crítica que foi Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), e desde então vem prometendo mais do que cumprindo – assim como quase sempre acontece quando um filme de terror dá super certo, para logo em seguida suas ideias diferentes serem desrespeitosamente usadas, plagiadas e desgastadas em cópias mal feitas ou continuações caça-níqueis. E apesar de não contar com a mesma fórmula documental de espectros atormentando pessoas durante a noite, Chernobyl parece o tempo todo evocar um cinema de terror que pegou na moda tão rápido quanto se desgastou.

As bases para se tentar construir uma atmosfera envolvente de medo em Chernobyl remetem ao uso de alguns elementos clássicos do horror nas ficções. Valendo-se da batida premissa da cidade-fantasma, o filme também se aproveita do uso do clichê das casas assombradas e das forças ocultas escondidas na escuridão, sendo atormentadas por visitantes perdidos que logo se tornarão vítimas de um massacre. A roupagem que tenta esconder as obviedades dessa sinopse está no uso de uma catástrofe real que abalou o mundo na Ucrânia, há mais de vinte anos, quando um acidente nuclear em uma usina liberou radiação pela cidade de Chernobyl e dizimou parte da população. Hoje o local está intacto, uma cidade-fantasma que guarda consigo também alguns outros tipos de fantasmas políticos que se foram com o fim da União Soviética, mas que fincaram raízes por lá.

Como de costume, temos um grupo de jovens aventureiros, desta vez guiados por um irresponsável, que decidem explorar o local. Seguindo a cartilha dos filmes de terror, o carro irá quebrar e eles ficarão presos nessa cidade, descobrindo por fim que não estão sozinhos. A partir de então vai “sumindo” um por um em um jogo de sobrevivência em que os misteriosos vilões se mostram muito mais ágeis e espertos do que nossos imbecilizados mocinhos.

Vultos passando rapidamente ao fundo, enquadramentos desalinhados, imagem por vezes trepidante, portas batendo, gritos no vazio, câmera perseguindo uma garota histérica que tropeça no meio da correria – tudo em Chernobyl é puro deja vu. É uma colcha de retalhos que remete a filmes como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) e Cloverfield – Monstro (Cloverfield, 2008), embora sua técnica não seja exatamente a de um found footage ou um Mockumentary. E nem o clima de claustrofobia que o diretor estreante Bradley Parker tenta construir (um excesso danado de close-ups, fraca iluminação, e ambientes sufocantes) consegue dar conta de atribuir a seu filme um ponto diferencial.

O aproveitamento do espaço que tem disponível por vezes gera algo interessante nas mãos de Parker, em especial com a quantidade de labirintos e cruzamentos que parecem se multiplicar a cada nova cena, se tornando praticamente impossível cotar a dimensão da encrenca em que aqueles jovens se meteram. Mas em compensação, o diretor mal sabe aproveitar a ideia inicialmente interessante de uma trama de horror se passando em um cenário desolado por uma calamidade verídica. E por conta disso Chernobyl poucas vezes consegue assustar ou sequer empolgar. Talvez um público menos exigente ou menos calejado consiga embarcar em sua proposta, mas muito dificilmente um espectador acostumado conseguirá mergulhar nessa história rasa.

O que acaba realmente dando conta de assustar a plateia é a constatação da constante degradação que o cinema comercial de terror anda se prestando. Se antes ideias originais aos poucos iam perdendo seu frescor e graça – como aconteceu quando Pânico (Scream, 1996) inovou o gênero e aos poucos teve sua fórmula desgastada –, hoje parece que qualquer ideia diferente, por menor que seja, é dilacerada e tornada inútil em questão de meses. E o resultado são filmes como Chernobyl, que já nascem obsoletos.

Comentários (11)

Vinícius Oliveira | terça-feira, 31 de Julho de 2012 - 01:01

Pra assistir uma novidade do cinema suspense/terror...só voltando no tempo!!!

Rose Maioli | terça-feira, 31 de Julho de 2012 - 13:04

Cara, os produtores tinham a o queijo e a faca pelando de quente na mão... porque não jogaram para uma fórmula de filme de terror com fantasmas e um pouco de "O Iluminado"???
Cara a história de Chernobyl é incrivelmente sinistra, horrorosa e triste...
Mas o que devo concordar com Heitor Romero,

Alan Principe | sexta-feira, 26 de Outubro de 2012 - 03:47

Essas porcarias só servem para tornar os clássicos mais preciosos.

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