O cinema como pintura em Cisne: live painting da portuguesa Teresa Villaverde.
Pinceladas de uma história. Assim a diretora portuguesa Teresa Villaverde explica a narrativa de seu novo filme, Cisne (idem, 2011). Nele acompanhamos os encontros e as angustias de diversos personagens: Vera, uma cantora em turnê na cidade de Lisboa, que deixou em sua casa no campo o amante Sam, um violinista que se mostra um homem silencioso e que vive essa complicada relação por correspondência com a cantora. Durante a turnê, Vera conhece Pablo, que trabalha como seu acompanhante na cidade e está tomando coragem de conhecer a mão biológica que o abandonou. Essas são apenas algumas peças da história que o filme vai nos revelando gradativamente.
Nada disso nos é dado a perceber de forma instantânea. O espectador precisa entrar na trama aos poucos, ao mesmo tempo em que é obrigado de saída a acompanhar esses corpos errantes e atormentados muito de perto e demoradamente: são longos os planos nos rostos, nas costas, nas mãos, enfim, nos corpos que parecem não saber o que fazer consigo além de restar na imagem.
Em hora nenhuma Teresa Villaverde embaralha a narrativa cronologicamente, os planos seguem-se e apresentam sua lógica própria – mas cada movimento, cada nova peça, só são compreendidos a medida do seu próprio transcorrer na tela. Nesse universo, nada está dado de antemão. É preciso que a diretora pinte com a película, para que as ações transcorram – em uma espécie de live paiting cinematográfico.
Os encontros produzidos por tais pinceladas estão no terreno do imprevisível: pode ser que Vera e Pablo tornem-se amantes, ou que ela apenas queira ajudá-lo a acertar sua vida; que Sam se envolva com a bem resolvida anã Amy; que a mãe de Pablo o aceite como filho. Mas, como obra em processo que espalha-se no transcorrer da própria vida, não é preocupação do filme resolver ou encerrar as suas possibilidades. Estamos definitivamente no terreno da imagem como afeto.
Se em alguns momentos a falta de entendimento pode nos provocar incomodo, é ela também que aproxima os espectadores ao universo do filme: compartilhando com aqueles corpos a sensação de deriva, desconforto e incerteza.
Visto no 14º Festival do Rio
Uma pessoa disse que não gostou, mas confio mais na Kênia. Vou tentar encaixar naminha programação.
Uma pessoa disse que não gostou, mas confio mais na Kênia. Vou tentar encaixar naminha programação.
cinema português tá numa crescente constante nesses ultimos anos. porra, que vontade de assistir esse aqui