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Críticas

Cineplayers

Uma comédia deliciosa para quem conhece um pouco do mundo corporativo moderno.

8,0

Esta pequena comédia sobre o mundo corporativo foi lançada no final da década de 1990 e não fez lá muito sucesso. Hoje, porém, conta com uma legião de fãs que vêem no trabalho do diretor Mike Judge o reflexo de suas vidas profissionais. Quem possui um emprego em alguma empresa parecida com a de Peter Gibbons, o protagonista frustrado do filme, certamente se identificará com pelo menos uma das inúmeras situações apresentadas pelo filme. E é para esse público que Como Enlouquecer Seu Chefe não só funciona, como pode ser considerado uma pequena pérola do cinema. Já pessoas alheias a esse mundo, por qualquer motivo que seja, não terão tamanha identificação, podendo até mesmo desprezar o filme.

Trata-se de um trabalho pequeno, de baixo orçamento, filmado de forma convencional ao extremo por Judge, baseado em curtas animados de autoria do próprio diretor. Como curiosidade, há um filme de animação homônimo lançado em 1991. O tema sempre é o mundo corporativo. Pessoas frustradas com seus empregos, seus chefes e a burocracia desgraçada das empresas, onde um formulário qualquer parece ter mais importância do que um tratamento mais humanizado dos empregados. Inclui-se aí a exploração do trabalho dos empregados pelos seus chefes, que sempre querem ganhar horas extras às custas da vida pessoal dos pobres subordinados. Claro, o filme mostra também diversas outras características pertinentes ao mundo corporativo, como a fofoca nos escritórios – falar mal do chefe sendo o passatempo principal – e a estressante competição interna pelos melhores cargos.

Ignorando alguns exageros óbvios, quem já trabalhou em empresas de escritórios certamente vai se identificar com algum dos personagens. Talvez seu chefe seja igualzinho a Bill Lumbergh, interpretado por Gary Cole de forma deliciosamente malvada. O filme conta com alguns momentos hilariantes de situações de dentro do escritório, como quando Gibbons (Ron Livingston, ótimo aqui) faz de tudo para não ser visto pelo seu chefe ao final de uma sexta-feira de expediente, temendo ser “convocado” a trabalhar no sábado. O filme é recheado desses momentos, e ainda sobra tempo para uma sutil – e desajeitada – tentativa de romance envolvendo Gibbons e Joanna (Jennifer Aniston), uma garçonete que trabalha por perto.

Judge acertou em cheio no roteiro, criando situações divertidas e extremas, sempre dentro de uma realidade palpável somada a um pouco de exagero que o cinema tanto gosta de nos proporcionar. Seus personagens são ricos e diversificados e o ritmo imposto pelo diretor é muito agradável, fazendo com que os 90 minutos de filme transformem-se em uma experiência cômica agradabilíssima. Na realidade o filme é recheado de situações que funcionariam quase de forma independente. Apesar de apresentar uma história com início, meio e fim, há sub-quadros dentro de Como Enlouquecer Seu Chefe que poderiam ser vistos de forma descontínua, o que é bastante compreensível quando conhecemos a origem do mundo do filme – curtas animados.

Não deve-se dar muita importância ao título brasileiro do filme, que no original é Office Space. Não é uma comédia onde empregados fazem de tudo para enlouquecer um chefe, é algo bem mais rico e interessante do que isso. São pessoas boas tentando trazer um pouco mais de humanidade aos seus trabalhos, tentando fazer de algo estressante, seja por imposição do mercado ou de seu chefe, algo mais prazeroso e agradável. Tentando gostar do que fazem, pelo menos um pouco. Judge acertou em cheio na sua crítica a esse mundo tão desumano e, embora não apresente soluções práticas para dar um jeito nele, pelo menos ajuda as pessoas a rir de tudo isso de uma forma inteligente. É por isso que Como Enlouquecer Seu Chefe, apesar de não ter sido sucesso comercial, virou uma espécie de cult entre pessoas que trabalham e de alguma forma estão relacionadas à realidade do mundo corporativo. Palmas para Mike Judge!

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