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Cravo, Lírio e Rosa

(Cravo, Lírio e Rosa, 2018)
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Críticas

Cineplayers

Emancipação artística

9,0

A diretora Maju de Paiva se debruça com muita propriedade sobre a transição feminina da infância para a adolescência de forma delicada, mas ainda assim intensa e frontal, usando inúmeras metáforas para construir esse painel sobre o ato de amadurecer. Olhando com muita propriedade sobre um tema que, a bem da verdade não tem nada de novo, nem no formato nem no país, Maju é muito eficiente no que se propõe, tem um cuidado estético invejável, absorveu tudo que assistiu sobre o assunto e regurgita na tela da forma mais fresca possível, sem vícios de direção e sem pretensões excessivas.

Uma dupla de irmãs, mais ou menos nas faixas dos 16 e dos 12 anos a caminho de uma festa de Halloween, travam contato com um corpo sem vida na estrada; a mais nova inclusive tropeça e cai junto à poça de sangue. A partir daí, a vida de ambas passa a ser gerida por aquele encontro. A mais nova ao se sentir perseguida pelo corpo, a mais velha ao se embrenhar num relacionamento abusivo. A forma como a diretora e seu roteiro desenvolvem essas duas situações paralelas, que não convergem mas se comunicam muito, que parecem não pertencer ao mesmo quadrante de eventos mas que se retroalimentam, é de uma sinergia que impressiona.

A fotografia de João Victor Borges ilumina todo o ambiente com muita propriedade, consegue o tom exato que o filme pede e se posiciona da maneira exata também, realçando aquela ambientação que percorre o tóxico sem jamais ceder a ele, ainda enquadrando e conseguindo planos na distância correta que estabelecem a amplitude que o roteiro necessita. A montagem de Isabel Salomon se iguala em profundidade, refletindo o tempo da ação para as ampliar o campo de acontecimento em cena, além de criar um ritmo que nunca se estabelece de maneira impositiva.

Ao usar elementos do gênero terror para amplificar a chegada das urgências do feminino em suas irmãs, e refletir a própria sociedade em que vivemos e da qual somos reféns (o grupo de estudantes marchando como zumbis na escola é uma cena forte), Maju se arma com a arte para gritar sobre o estado nas apenas das suas personagens, mas também do nosso tempo. A partir de determinado momento, a pequena Cecilia cede ao medo e se deixa absorver por ele, enquanto sua irmã luta contra esse estado, ainda que nova tragédia precise acontecer. Com duas belas atrizes protagonizando a mensagem de seu filme, Maju de Paiva é um nome a ser observado no cenário de hoje, com seu liquidificador de ideias. 

Crítica da cobertura da 3ª Mostra SESC de Cinema de Paraty

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