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Críticas

Cineplayers

Essa comédia de humor negro espanhola é a mais nova investida no gênero pelo diretor Alex De La Iglesia.

8,0

O diretor Alex De La Iglesia esteve no Brasil ano passado no Festival do Rio promovendo seu último trabalho, Crime Ferpeito. O humor ácido do cineasta reflete o espírito de seus trabalhos e divertiu a platéia presente, apaixonado pelo cinema dito "de gênero" ele passeia pelo horror, comédia e até faroeste em filmes tão distintos como O Dia da Besta (1995), A Comunidade (2000) e 800 Balas (2002), este último inédito no Brasil. Apadrinhado por Pedro Almodóvar, que produziu seu filme de estréia a ficção científica trash Ação Mutante (1993), Iglesia já trabalhou com grandes atores hispânicos como Javier Bardem, Carmem Maura e Rosie Pérez, perguntado por qual motivo ainda não havia alcançado o mesmo reconhecimento de outros compatriotas respondeu com o sarcasmo que lhe é característico: "É porque sou um cineasta espanhol heterossexual". Crime Ferpeito traz a nova anti-musa da comédia espanhola Monica Cervera e espero que coloque o nome de Iglesia no mapa, pois eu já sou fã desde que assisti O Dia Da Besta hà vários anos atrás.

Somos apresentados ao protagonista Rafael (Guillermo Toledo) por ele mesmo, vendedor de roupas femininas numa grande loja de departamentos, Rafael não esconde seu orgulho por ser o melhor no que faz, de ser desejado pelas mulheres e invejado pelos homens, mas ambicioso, considera sua vida atual apenas um degrau para alcançar a tão almejada perfeição e claro que por isso mesmo seus planos nunca irão se concretizar. A trama parte do momento em que ele mata por acidente seu principal rival e a única testemunha é Lourdes (Monica Cervera), uma feiosa e tímida vendedora, ao perceber que possui o poder nas mãos Lourdes torna Rafael seu escravo sexual.

Iglesia é sempre muito eficiente em construir universos tangíveis para seus personagens excêntricos, seja o condomínio de A Comunidade ou no caso de Crime Ferpeito a loja em cujo microcosmo assistimos à queda de Rafael em contraste à ascenção de Lourdes, que se revela uma vilã inesquecível. O arco dos personagens é tão rico e interessante que é difícil não simpatizar com os dois, ele de arrogante, sedutor e malandro é reduzido a patético brinquedo de Lourdes, que de humilde e reprimida vendedora se revela uma dominatrix, manipuladora e calculista mulher de negócios. Essas inversões pontuam o filme o tempo todo, sempre com resultados divertidos.

Eu achei a parte final um tanto quanto insatisfatória mas isso não diminui o fato de que me diverti muito até chegar a ela, esse é provavelmente o filme com roteiro mais sólido de Iglesia e a segunda parte apenas perde um pouco em relação à "ferpeita" primeira metade. Uma forte sátira ao consumo e à sociedade espanhola e ocidental, cada vez mais obcecada com possessão material e em alcançar o sucesso que esquece de viver a própria vida, Crime Ferpeito (veja o filme e entenderá o título) possui um ritmo veloz e até alguns elementos de terror, tornando-se uma opção para quem procura uma boa diversão no escurinho do cinema.

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