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Críticas

Cineplayers

Esquemático, só funciona por inevitavelmente tratar de um tema ainda tabu na sociedade.

7,0

Lutar contra os próprios desejos é um dos maiores conflitos que uma pessoa pode encarar. Confrontar as convenções sociais para a realização de tais desejos é mais um complexo desafio com a qual a mente humana tem dificuldades de trabalhar. Se tais problemas afetam e transtornam pessoas maduras, mostram-se ainda mais perversos quando ocorrem com jovens ainda imaturos.

Zach (Trevor Wright) mora num subúrbio da Califórnia. Despojado e surfista, o jovem é mais um típico adolescente norte-americano. Seu melhor amigo, Gabe (Ross Thomas), mora na parte nobre da cidade, mas matem vínculos com Zach em função do estilo de vida semelhante. Shaun (Brad Rowe), irmão de Gabe, volta para casa e acaba se aproximando de Zach que, aos poucos, começa a perceber que nutre um confuso sentimento por Shaun.

De Repente, Califórnia não foge do convencional na estrutura de sua trama, que parece importada de romances juvenis na qual a paixão surge como algo impossível, é seguida por conflitos entre o novo casal até chegar ao desfecho trágico ou feliz após o enfretamento de desafios. O que diferencia o filme de tantos outros e o eleva a um patamar superior em comparação à histórias de amor entre adolescentes é sua temática homossexual que, por tabela, traz implícito à narrativa discussões sobre o preconceito, conflitos familiares, conflitos psicológicos e padrões sociais.

O longa é conduzido em ritmo adequado para que nenhuma etapa do processo de descoberta da homossexualidade de Zach pareça atropelada ou leve a conclusões falaciosas por parte do espectador. Ele é um jovem comum que conhece o irmão gay de seu melhor amigo e que descobre nele uma pessoa interessante para o estilo de vida que leva. Construído com delicadeza e sinceridade, a relação dos dois vai aos poucos se desenhando como algo mais profundo que uma amizade. O roteiro constrói a paixão dos rapazes sem pular nenhum processo, devagar, para mostrar como pessoas normais se veem envolvidas com sentimentos que, por muitas vezes, não sabem como lidar.

Quando Zach percebe que seu namoro com uma garota da região talvez seja uma forma de enganar a si mesmo e aos demais, começam a lhe ocorrer pensamentos duvidosos quanto a sua sexualidade. Como encarar os amigos, como contar para a família já desestruturada - na qual ele se sente obrigado a ser uma figura paterna e masculina para o sobrinho de quem cuida como forma de auxiliar a irmã - são questões que, nitidamente, passam pela cabeça do garoto. Como acontece geralmente, Zach não encontra o apoio inicial, e ouve de sua irmã um questionamento que o faz repensar sobre ele mesmo. “Você é gay?”. Essa pergunta é seguida pelo comentário “eu não saberia lidar com isso”. Na sequência, o garoto encara o espelho como se procurasse encontrar em seu reflexo seu verdadeiro “eu”, com se enfiem olhasse sua imagem e visse ele mesmo, um jovem comum, um homem, homossexual.

Assim, é interessante ver como alguém que sempre se entregou mais aos outros começa a descobrir o prazer de entregar-se as suas próprias vontades. De Repente, Califórnia se torna uma oportunidade para pequenas discussões sobre como a juventude lida com a homossexualidade nos dias atuais, um tema muito mais fácil do que em décadas passadas quando a perseguição e o preconceito eram bastante superiores. Visualmente muito bonito, o filme peca pela história esquemática, mas se salva pela franqueza com que expõe um assunto ainda tabu para parte da sociedade.

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