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Críticas

Cineplayers

Metralhadora da cultura pop.

9,0
Mais do que uma continuação, o filme de David Leitch parece uma extensão do original de 3 anos atrás. É daqueles casos onde não faz muito sentido ser assistido por quem não curtiu o primeiro, ou quem anseia por arroubos de novidades e não tá afim de conferir a mesma pegada se repetir. Para os fãs do surpreendente longa de Tim Hill, não há muita coisa diferente no front, e isso é algo que não poderia soar melhor. Quando Hill anunciou sua saída por "diferença de visão" com o astro Ryan Reynolds, a parceria muito bem concebida fez todos temerem um vácuo de qualidade no próximo. O nome novo poderia não repetir a mesma intensa qualidade vista no primeiro, muito menos a novidade que fez da adaptação da Marvel tão fresca em relação a tudo que o estúdio produz. O estúdio e a massa do que é despejado mensalmente nas salas de cinema em larga escala no mundo (também conhecido como 'blockbuster americano'). Mas o anúncio de que um dos diretores do primeiro John Wick iria comandar a cadeira principal na continuação foi um alívio.

Leitch mostrou no primeiro tomo da franquia estrelada por Keanu Reeves que é um dos mais bem preparados e promissores diretor de ação da atualidade, e nesse novo capítulo do herói mais improvável isso se repete. Um aviso importante: quem curtiu o primeiro mas exige que continuações apresentem novos elementos, ou apenas não curtiu o capítulo anterior, passe longe. Essa continuação retoma absolutamente tudo que foi apresentado no anterior quase que sem alteração. O que seria má notícia pra uns, com certeza será boa pra tantos outros: Deadpool está de volta, tão sarcástico, irônico, violento e fanfarrão quanto antes. Dito isso, poucos filmes esse ano cumprirão seu intento nessa seara de cinema quanto esse. O filme certo na hora certa com o clima certo. Mas nada disso é suficiente para fazer um filme relevante artisticamente... isso é necessário? E o que define isso?

A abertura do filme é absolutamente envolvente, uma sequência explosiva, para dizer o mínimo. O filme volta um pouco no tempo para mostrar como nosso "herói" chegou até essa cena, ou melhor, quem ele irritou. E foi muita gente... e a partir desse flashback inicial, o roteiro do trio Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds (o cara é chato né...) estabelece as bases da trama, partindo de um argumento que permeará todos os acontecimentos a seguir. Utilizando uma fala de Deadpool já inclusive divulgada no trailer toda vez que o filme precisa dar uma "viajada" ('que roteiro ruinzinho...'), esse é um dos maiores acertos de um produto como esse e que já tinha sua base para tal construída no anterior, sua cara de pau extrema e o fato do filme ser muito auto consciente e levar essa situação num equilíbrio entre a desculpa vazia e a esperteza.

A montagem  também foi feita em bando de três: Craig Alpert, Elísabet Ronaldsdóttir e Dirk Westervelet; no currículo das peças, estão prodígios da área como John Wick, Atômica, Logan, Noite sem Fim, Popstar, Segurando as Pontas e muito mais. A citação a eles é primordial porque Deadpool 2 é crucial na elaboração de suas gags visuais e verbais, nas suas cenas de ação sem esquematismo, e principalmente nos momentos onde o filme diminui o ritmo para contar sua história, ainda que nada revolucionário esteja sendo construído. O elenco que já era pura sincronia no primeiro ainda recebe a adição de um Josh Brolin pela segunda vez inspirado no ano (e óbvio que Reynolds não ia deixar passar uma piada sobre Os Vingadores: Guerra Inifinita) e a jovem Zazie Beets, muito a vontade. Em especial o protagonista mais uma vez vive esse homem à beira da histeria de maneira concentrada, quase naturalista, tamanho é seu livre acesso a todos os gatilhos que Wade Wilson apresenta.

Tecnicamente impecável, como já dito, a produção é uma festa para quem espera as incríveis tirados do personagem central. É uma celebração da cultura pop transitando por praticamente todas as áreas, da música ao cinema, passando por comportamento, quadrinhos e arte no geral, estabelecendo um esquema de promessa e expectativa dentro do projeto no qual em determinado momento entendemos que toda piada pode ser a primeira de uma série, e que só farão sentido se você conseguir acompanhar todas elas sem se perder. É um filme que se orgulha de falar para um universo nerd, mas aqui no universo Deadpool ser nerd significa algo muito mais abrangente do que amar HQ e Star Wars, chegando até o universo LGBTQ, ao empoderamento de todos os segmentos "descartados" pela indústria, e tudo isso sem qualquer sombra de panfleto, ou melhor, sendo ao mesmo tempo espirituoso, respeitoso e muito escroto. Ou seja, sendo muito Deadpool.

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