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Deixe a Neve Cair

(Let It Snow, 2019)
6,1
Média
11 votos
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Críticas

Cineplayers

A mágica que a neve traz

5,0

Com a chegada do fim do ano, vem pipocando novos filmes natalinos para atender a demanda de espectadores em busca dessas histórias mágicas e fáceis sobre os milagres conciliadores próprios da época. A Netflix aproveitou a onda e trouxe um elenco popular na comédia romântica Deixe a Neve Cair (Let it Snow, 2019), baseado em um livro do best-seller John Green sobre o decorrer de um longo dia na vida de um grupo de jovens e seus preparativos para as festas de véspera de Natal. Adotando um formato mosaico, a ideia é brincar com as múltiplas historinhas de amor que têm em comum a neve como elemento de mágica e aventura.

O livro de base é do escritor John Green, o que torna impossível aos roteiristas e diretor fugirem das frases de efeito, do romance açucarado além da conta, das soluções fáceis e dos clichês mais batidos do mundo, com direito a personagens declarando seu amor com o tradicional “você traz à tona a melhor versão de mim” ou “eu gosto de quem eu sou quando estou com você”. A capacidade de driblar essa baboseira toda está puramente a cargo do elenco, e por isso Deixe a Neve Cair acaba se tornando um filme tão irregular. Se por um lado temos atores inspirados que tiram leite de pedra da pobreza do roteiro, como Kiernan Shipka, Mitchell Hope e Isabela Merced, por outro também temos atores sofríveis em tramas desinteressantes, como Odeya Rush, Jacob Batalon e Anna Akana. Joan Cusack, rosto mais conhecido do cast e o maior dos desperdícios, surge em participação especial para pagar mico com uma personagem esquisitona e aleatória que supostamente deveria ser centralizada como narradora da trama.

Para um filme que se passa inteiro no período de um único dia, o ritmo requer certa agilidade e boa distribuição de tempo entre as muitas histórias. A ideia de se ter um ponto central também funciona para as tramas não se dispersarem, e para isso Green criou o núcleo da lanchonete, onde ocorrerá um festão que reunirá todos os personagens em dado momento. Nesse ponto, o filme encontra êxito e sabe manter um bom revezamento entre as tramas paralelas, ainda que peque em não saber torná-las todas interessantes ou relevantes. A moral para cada um também não é sempre das mais saudáveis. Uma das histórias, por exemplo, trata da obsessão de uma garota pelas redes sociais, por onde monitora cada passo dado por seu novo namorado, que por sua vez mal lhe dá atenção. Se a intenção era combater a ideia de que uma garota não precisa estar apaixonada por um cara para ter sentido na vida, tudo vai por água abaixo quando no fim da história ela acaba cruzando com um potencial novo namorado.

Temas como a aceitação da sexualidade, amizade colorida, doenças na família e amadurecimento também são pincelados, quase todos no nível mais superficial possível, com personagens mudando magicamente de proceder e opinião, dancinhas constrangedoras e até alguns número musicais – dos quais se salva apenas Kiernan Shipka e Mitchell Hope em um dueto de The Whole of the Moon, a única cena verdadeiramente bela de toda a produção. No mais, sobra a mensagem de que os acasos muitas vezes são essenciais para mudar os rumos que pensamos ser os certos, e que parte da mágica da vida está em sua imprevisibilidade – potencializada pela neve que vez por outra surge para provocar os bloqueios, mudanças de planos e escorregões que nos levam a descobrir novos caminhos, novas perspectivas, novas pessoas e talvez novos amores.

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