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Diamantino

(Diamantino, 2018)
7,1
Média
26 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Psicodelia em campo.

9,0
Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt têm ambos 34 anos, ambos nasceram nos EUA, e agora ambos têm um longa premiado em Cannes pra chamar de seu. Um longa português (Gabriel inclusive é naturalizado), completamente conectado com um grupo da novíssima onda portuguesa que ano passado deu as caras no Brasil em John From e vem oxigenando Portugal para o mundo; essa vitória na Semana da Crítica, além de ousada, também é 'sui generis' de um festival que só aparenta querer aplaudir o novo. Diamantino não tem nada de aparente, é sim a confirmação de um pensamento de cinema mais amplo que a hora e meia de projeção ou que o espaço físico no qual a sessão te insere. Arriscado e impreciso, o filme dos jovens nascidos na América, seu segundo longa juntos, é o tipo do filme que não é feito com regularidade e pede mais do espectador que apenas o habitual. Em troca, um mundo estranho se abre. 

Essa onda de jovens realizadores portugueses inclui também João Nicolau, João Salaviza, Patricia Sequeira e outros, herdeiros do belo momento que pavimentou Pedro Costa, Miguel Gomes, João Pedro Rodrigues. A classe atual tem interesse no filme que fornece somente as perguntas, deixando as respostas a cargo do público. Pois Diamantino te convida a um mergulho para um universo sem par no atual mercado, e o público comprará ou não um pacote inteiro surrealista e repleto de camadas que conversam com o mundo inteiro, em referências, em metáforas, no olhar lançado na direção dos párias de todo tipo. O filme utiliza a imaginação como se fosse uma tela em branco, atirando tintas na nossa direção.

Diamantino é o maior jogador de futebol do mundo que acabou de perder o pênalti na final da Copa do Mundo da Rússia e cai em desgraça, tanto particularmente quanto em público. No auge da chacota, o astro do esporte acorda para a situação dos refugiados políticos e resolve adotar uma criança, em ato de desespero para que sua vida volte a fazer sentido. Acaba recebendo um jovem moçambicano em adoção que vai mudar a sua vida. O que Diamantino não sabe é que esse menino na verdade é uma mulher adulta que o está espiando em troca de descobertas sobre sonegação fiscal. A isso junta-se clonagem humana, resignação sexual, freiras falsas e cachorrinhos felpudos, e temos um exemplar que não trata nenhum tema com aleatoriedade, e se tornando uma obra potencialmente explosiva inclusive com o próprio país. 

Trata-se antes de tudo de uma corrosiva crítica ao próprio país, uma comédia política que destrói as intenções dos órgãos oficiais ao se preocupar com a proteção a um inocente útil, que é usado por todos a sua volta e permanece em completo estado de estupefação e incredulidade mesmo diante das maiores atrocidades. Seria o país um retrato do personagem-título, um homem poderoso que não sabe lidar com o que construiu, até ser devorado por todos a seu redor (atenção Europa!)? De qualquer forma, a ousadia da mise-en-scene bate de frente com a simplicidade dos desdobramentos, propositadamente ingênuos, que remetem às chanchadas juvenis espaciais dos anos 60. O caldeirão psicodelico onde o filme bebe é um festival de referências imagéticas que vão desde os planos que o giallo construiu até produções sci-fi televisivas B americanas.

Encanta em Diamantino a forma como o filme ama e defende seu protagonista, ao ponto de travestir em si da personalidade dele, e criar com isso uma apoteose bizarra à pureza. Sem medo de parecer 'kitsch' desde a primeira sequência, o filme entre outras muitas coisas é uma grande alegoria romântico-libertária, que ultrapassa as teorias de filme de espionagem vagabundos (com direito a vilãs de todo tipo, de gêmeas a deficientes motores) para abraçar um projeto de sexualidade futurista ampla e irrestrita. Além de tudo, o filme ainda conta uma heroína mulher espiã negra, e é dotado de um poder subversivo ao colocar essa mulher no lugar de resolver os problemas, dado ao passo que o homem é frágil e inexperiente. Junta-se a isso a interpretação inacreditável de Carloto Cotta, e temos um dos exemplares mais autênticos da temporada. Mais uma prova de que Portugal seja talvez o próximo país a dominar as atenções nas mudanças pretendidas para o Cinema em breve.

Filme visto no 28º Cine Ceará

Comentários (1)

Josiel Oliveira | segunda-feira, 24 de Dezembro de 2018 - 11:07

Nossaa kkkk esse filme deve ser uma piração.
Entrei aqui por causa dessa imagem maluca do jogador e o filme parece maluco mesmo.
Assistiria fácil!

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