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Críticas

Cineplayers

Bem-sucedido ao transpor um drama real na estrutura ficcional.

7,5

A mais nova obra do consagrado cineasta polonês Andrzej Wadja parte do próprio dispositivo cinematográfico para levantar questões relacionadas a morte e a perda de pessoas queridas, e o que nos motiva a seguir em frente na vida.

Começamos com um corte em movimento de Krystyna Janda acordando depois do que parece ser um pesadelo. Em seguida um plano fixo nos mostra um quarto de hotel, bem rústico e simples, e iluminado pelo sol da manhã. Krystyna, interpretando a si mesma, nos relata o drama de quando descobriu durante a pré-produção de um filme de Andrzej chamado “Tatarak” (nome original desde filme) que o marido estava em seus últimos momentos de vida, e o dilema em continuar com a vida profissional (peça e preparação para o filme), e ainda tentar ficar o máximo de tempo com o companheiro.

Em seguida, começamos ver a história do tal filme, “Tatarak”. É tudo muito didático neste sentido, com claquete sendo apresentada e tudo. Neste filme, Martha (Krystyna Janda) vive numa cidade pequena do pós-guerra com o marido, que é o médico local (Jan Eglert), e ainda sofre pela perda dos dois filhos no conflito. Logo na primeira cena ela passa por um exame na companhia de uma amiga que veio da capital. O médico então, confidencia a esta amiga que Martha não deve sobreviver ao verão, que se aproxima, mas decide não contar esta informação a esposa. Em seguida, Martha começa uma relação com um jovem da cidade, que está em crise com a namorada, que quer sair da cidade.

Apresentadas bem rapidamente as duas histórias, elas passam a seguir em paralelas durante todo o filme, até em um momento-chave quando elas se cruzam. Em alguns momentos falta um maior vigor à narrativa, e ao modo de como as duas tramas se encaixam, mas principalmente na parte final, o filme ganha um fôlego incrível, subvertendo expectativas criadas no início e criando uma maior intensidade no drama da atriz que acabou se envolvendo com o projeto para tentar de alguma maneira superar seu próprio drama pessoal, que por sua vez, foi de certa forma complicado pela vida profissional.

É mais incrível ainda saber que esse monólogo soa tão verdadeiro e intenso porque ele justamente foi real. Durante a filmagem deste filme, o marido de Janda, Edward Klosinski (fotógrafo colaborador de Wadja, e pra quem o filme é dedicado), faleceu e a atriz resolveu escrever o diálogo e acrescentar à narrativa. Mas mesmo sem saber estes dados, é fácil se emocionar e se prender ao depoimento de Janda, e a toda parte ficcional do filme.

O filme é bem-sucedido em conseguir transpor um drama real (ou o que se apresenta como tal) na estrutura da narrativa em ficção. Consegue também criar um belo estudo sobre a frivolidade da vida, e a relação dela com a morte (e sua espera). A parte bem rígida e escura do monólogo contrasta com a fluência que se segue o “filme dentro do filme”, que ainda tem uma fotografia belíssima.

Mesmo que não consiga ser de total relevância, e que nunca consegue ser algo muito impactante, o filme não deixa de emocionar, e cativar, além de contar com atuações maravilhosas, capitaneadas pela protagonista. Outra atriz consagrada polonesa, Jadwiga Jankowska-Cieslak faz uma participação como a amiga da protagonista, e os momentos que contam com as duas juntas é nada menos que um primor.

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