Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Produto do cinema de massa, tem certo valor como representação.

6,5

Ele Não Está Tão a Fim de Você conta a história de nove personagens, na faixa dos seus 30 anos, que lidam com questões amorosas ou de relacionamento – os elementos da conquista e a expectativa de transformar um encontro em algo mais sério (para os solteiros), a importância do sexo e do casamento (para os que saem ou moram juntos), a resistência à tentação e o peso da mentira (para os casados).

É interessante quando o cinema traz (já havia ocorrido isso em Penetras Bons de Bico, por exemplo) uma questão importante dos tempos atuais: os anseios adolescentes não são mais exclusividade dos adolescentes. Se há um tempo (não muito), quando chegava aos 30 anos, a maioria das pessoas já estava casada e com um par de filhos, hoje a situação é bem diferente, e é perfeitamente comum ver trintões (e trintonas) lidando com os jogos da conquista. Por exemplo, a velha dúvida do “devo ligar ou espero que a pessoa ligue?” – que vem junto com a enorme ansiedade da espera – não se restringe mais a quem está na faixa teen.

Passando do conteúdo à forma, um recurso que chama a atenção é o uso de depoimentos. São pessoas alheias aos personagens em cena, que contam uma história relacionada – de alguma forma – à temática do filme. Todos sabem que é um mecanismo desgastado; funcionou bem, por exemplo, em Harry e Sally: Feitos um para o Outro. Isso foi há 20 anos. Aqui, o artifício não se justifica – não traz um olhar novo sobre si mesmo como técnica, não consegue gerar uma empatia que já não houvesse, não é necessário como respiro do enredo principal.

A direção é convencional e, em termos visuais, o ponto alto da produção é o apuro estético. Desde a seleção de elenco, figurino, direção de arte e cenários – tudo é feito para dar um ar de encantamento, uma leveza que caminha na mesma direção do texto. Em relação ao elenco, foi feita uma reunião de notável beleza, que deve satisfazer o público masculino e feminino. Mesmo a garota que vive a “mala” mal-amada tem um rosto que faz por merecer seu lugar na tela. E o casal composto por Scarlett Johansson e Bradley Cooper atinge o ápice do filme – a química entre eles garante ótimos momentos. Ainda em relação à beleza, o diretor consegue obter sensualidade sem mostrar traço algum de nudez. Seu dom está em deixar os personagens à vontade e, na hora certa, ser capaz de captar seus melhores ângulos.

Além da beleza, há que falar da atuação. De um modo geral, se não é excelente, ao menos consegue ser convincente. Merecem destaque: Scarlett Johansson, muito à vontade no seu papel – e entregando toda a lascívia que ele merece –, e Ginnifer Goodwin, que consegue encarnar a “mala” da história com muito carisma. O ponto negativo fica com Jennifer Aniston, que não consegue deixar de ser a Rachel de 'Friends', e Ben Affleck, o ator mais inexpressivo de Hollywood depois de Keanu Reeves.

Dentro da linha de produtos “comédia romântica”, o filme está um tanto acima da média. O motivo é o roteiro, mais criativo (e redondo) que o normal e com diálogos bem trabalhados. Em relação ao texto, ele tem o mérito de conseguir fazer rir em cima dos clichês. Numa estrutura tradicional da comédia, todos os personagens são estereótipos: a mulher sensual que se envolve com o homem casado, o homem casado que se questiona sobre o casamento, a mulher casada que só quer permanecer casada, a mulher que só quer casar, o homem que não quer casar, a chatinha rejeitada, o chatinho rejeitado, o conquistador que não se envolve.

As situações também são as mesmas já vistas uma boa quantidade de vezes. Então, de que vale isso tudo? Em primeiro lugar, pela arte de tomar por base personagens e situações nada inéditas e ser capaz de contar uma boa história, que prende a atenção, envolve e diverte o público e, na maior parte do tempo, não ofende sua inteligência. Além disso, há diálogos realmente bons – artigo em falta no cinema de massa. Ainda, vale enaltecer o fato de o texto ser atualizado e dialogar com pequenas novidades que estão cada vez mais presentes, o que inclui o impacto da tecnologia nas relações (sobre isso, há um discurso da personagem de Drew Barrymore que talvez seja a melhor tirada do filme). Para completar, apoia-se em clichês, mas sem ser caricato.

Ah, sim: trata-se de uma comédia. Então, obtém sucesso na medida em que consegue, com naturalidade, fazer rir. Ao contrário da maioria das produções que se intitulam comédias, esta não apela para o óbvio (como gags visuais – não há pessoas caindo!) nem para o escatológico. O humor nasce do texto e de suas interpretações eficientes. Há diversas cenas engraçadas – e isso é o que o filme tem de melhor. Na parte final, no entanto, o humor dá lugar aos desenlaces românticos – péssima ideia, que só enfraquece a produção. É o momento em que os lugares-comuns, antes a favor da história, prejudicam – e emerge um tom brega evitado até então. No fim, uma insuportável mensagem de esperança, que, em tempos de crise, parece ser obrigatória na produção cinematográfica feita para as massas norte-americanas.

De qualquer forma, o filme vale como retrato de uma nova realidade social, feito com qualidade e bom gosto. E digno de certa fruição, especialmente se o público puder abstrair os problemas evidentes.

Comentários (0)

Faça login para comentar.