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Críticas

Cineplayers

Perfeitamente dentro da mediocridade da década de 1980.

7,0

Entre Dois Amores (Out of Africa, 1985) entrou para a história do cinema por vários motivos, um deles por ter sido o responsável pela fragorosa derrota de A Cor Púrpura (The Color Purple), de Steven Spielbergh, no Oscar daquele ano, que perdeu todas as 11 indicações que recebeu em 10 categorias. O diretor, Sidney Pollack, que vinha de filmes mais enérgicos e brilhantes, como Tootsie e Ausência de Malícia, acabou levando o prêmio por um trabalho menor, muito mais comercial. Coisa normal em se tratando de premiações. Ao todo, Entre dois Amores venceu 7 Oscars, entre eles trilha sonora, considerada um clássico, do inglês John Barry, e fotografia, de David Waktin que, como o diretor Pollack, morreu esse ano.

O filme é baseado no romance autobiográfico da escritora Isak Dinesen (publicado sob o pseudônimo de Klaren Blixen), uma dinamarquesa que se notabilizou na Europa por seus contos góticos, de subtexto sexual. Autora de boas vendas, seus livros eram aclamados pela crítica por causa do conteúdo sombrio, pelas narrativas tensas e curtas, pelo estilo implacável e elementos sobrenaturais inspirados nas fábulas de seu conterrâneo, Hans Christian Andersen, o grande escritor de histórias infantis. Foi muitas vezes cotada para o Nobel, mas nunca venceu. Hoje, está esquecida, apesar de que teve uma coletânea de contos góticos recém-lançada no Brasil. Sua última reaparição foi na feliz adaptação cinematográfica de um de seus romances, A Festa de Babette, que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro.
 
No início da década de 20, cansada das traições do marido, um oficial do exército, divorciou-se em pleno Kênia, na África, e, para livrar-se da ruína econômica, de uma crise de depressão e do bloqueio criativo, resolveu plantar café com as últimas economias que lhe restava. Ganhou muito dinheiro com as primeiras colheitas. Suas cartas, artigos, crônicas e contos publicados nas revistas européias eram muito lidos e ela tornou-se um dos símbolos do colonialismo e, depois, do feminismo. Foi quando escreveu aquela que é considerada a sua obra-prima, Sete Contos Góticos (1934).

Com a derrocada de suas plantações, voltou para a Europa devastada pelo nazismo (que combateu energicamente). Completamente arruinada, escreveu um livro de memórias, Out of Africa, de enorme sucesso, que no entanto não lhe saldou todas as dívidas. Casou-se com um rico herdeiro inglês e parou de escrever, preferindo terminar seus dias como uma feliz dona de casa – e sem dívidas.
 
A adaptação cinematográfica de seu romance autobiográfico reuniu os dois maiores astros da época, Robert Redford e Meryl Streep, numa produção caprichada. Streep interpreta com mais um de seus sotaques arrastados (como o inglês em A Escolha de Sofia e o australiano em Um Grito no Escuro). O filme arrasta-se frio e um tanto pernóstico, o que muita gente entende como sendo uma obra “madura”, para o público mais “exigente” ou “adulto”.
 
Hoje, caiu no descrédito. Não é melhor nem pior do que Carruagens de Fogo (1981), Gente como a Gente (1980), Gandhi (1982) e Laços de Ternura (1984), os outros lacrimejantes vencedores do Oscar na mesma época, filmes que dão à década de 80 o título de “perdida” para o cinema. Segundo analistas, era a influência da TV, então acachapante, que levou ao cinema a formas dramatúrgicas mais simplórias e diretas para não perder público. Entre Dois Amores, um dos títulos mais ridículos já dados a um filme no Brasil, além de A Cor Púrpura, bateu O Beijo da Mulher Aranha, A Testemunha (com Harrison Ford) e A Honra do Poderoso Prizzi.

Todos os envolvidos fariam melhor em filmes posteriores. Entre Dois Amores é apenas um produto comercial bem feito, engendrado na máquina implacável e funcional de Hollywood, destinado a fazer dinheiro sem ofender ninguém, em especial a inteligência e o bom gosto das pessoas. Típico filme lançado no outono americano, depois dos blockbusters de verão, destinado a ganhar prêmios duvidosos. Algumas cenas foram copiadas e repetidas à exaustão por toda a década, Robert Redford continuou sendo o galã da época, mas em papéis mais maduros, Meryl Streep ganhou uma de suas 14 indicações ao Oscar, etc. Perfeitamente dentro da mediocridade da década de 80.

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