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Críticas

Cineplayers

A terceira aventura da série recicla o que já vinha sendo reciclado, e finalmente começa a cansar.

5,0

Ao insistir em uma mesma fórmula pela segunda vez consecutiva (uma fórmula que, convenhamos, já nasceu repetida), o diretor Carlos Saldanha e os roteiristas Michael Berg e Peter Ackerman obviamente não pensavam em atingir novos limites com esta segunda sequência de A Era do Gelo. O que eles e a Fox queriam era só um faturamento grandioso, para deixar a todos (eles) um pouco mais ricos. Então, pouco importava se o resultado final saísse medíocre. Pois é o que acabou acontecendo. Este aqui é o mesmo filme que já assistimos duas vezes e, se antes havia uma sensação de diversão pura proporcionada pela simplicidade de um roteiro e personagens cativantes, isso não resiste a mais uma visitação, pois "O Despertar dos Dinossauros" parece ser mesmo um capítulo do desenho feito para a televisão. Só que muito bem produzido.

Todos os personagens estão de volta, e as vozes são as mesmas (o que quer dizer que a versão dublada vem com os mesmos sotaques regionalistas que certamente não agradarão a todos). Agora Sid encontra três bebês dinossauros construídos em uma aparência adorável, quase ridiculamente adorável, que clama pelo “ooooooohh” de seu público. E a turma toda vai parar em um vale rico em fauna e flora, sob o solo congelado (não há referências ao degelo visto no segundo filme, mais uma prova do descuido da produção), onde há um mundo novo e excitante de dinossauros, fazendo-nos sentir em uma versão infantilizada de Jurassic Park. A mesma estrutura narrativa do primeiro filme é utilizada: nossos heróis devem atravessar um vale lotado de perigos para, desta vez, resgatarem Sid.

O filme tem aquele cacoete irritante de ter cenas gratuitas feitas para os cinemas 3D – uma moda que veio para ficar, felizmente e infelizmente. Você verá um bocado de planos em primeira pessoa e outros vai-e-vens de câmera que não existiam antes. Claro que este é um pormenor, mas serve para ilustrar novamente o fato do filme ser feito não em cima do roteiro, mas sim da necessidade dos produtores faturarem mais dinheiro. Em relação ao visual, se no primeiro filme da série era simplista e quase aborrecido (o que  pelo menos pouco atrapalhou na qualidade da obra), e se no segundo ele continou simplista, mas ganhou gracejos técnicos impressionantes, agora, apesar de não ocorrer a mesma evolução de antes, visualmente não deixa de ser um filme rico que, no mínimo, não faz feio perto dos concorrentes óbvios – Pixar e DreamWorks.

Há, novamente, várias referências sutis (e outras nem tanto) a filmes famosos e/ou clássicos, que o grande público não notará, mas que servem para trazer um pouco de diversão a quem conhece cinema, espectadores mais propensos a se entediarem com a fórmula desgastada. Em entrevista, o diretor Saldanha disse que foi seu último filme frente à série, pelo menos como diretor. Ele acha que o ciclo dos personagens fechou e, se for feito um quarto filme, deve haver uma renovação na série. Será mesmo? Todos os elementos que agradaram o público e trouxeram arrecadações de blockbuster (sobretudo ao segundo filme) estão de volta em um nível maior. O próprio esquilo Scrat ganhou um tratamento muito melhor, quase um filme dentro do filme e, apesar de suas piadas serem sempre óbvias, é difícil não abrir um pequeno sorriso aqui e acolá. Já os outros personagens têm suas personalidades virtualmente idênticas aos filmes anteriores. Os conflitos pelos quais passam não são suficientes para fortalecê-los e dar-lhes uma nova dimensão, algo já esperado.

A utilização dos dinossauros traz um tom mais grandioso à aventura, sem dúvida, e ver o T-Rex (e o gigantão no dispensável duelo final) é deveras divertido, mas a riqueza do roteiro está na interação entre os amigos, que passam por dúvidas e questionamentos pertinentes e válidos para as crianças. Apesar de muitos falarem que há conteúdo adulto nas entrelinhas – uma justificativa frágil para tentar levar alguns marmanjos a mais ao cinema – o filme é feito basicamente para os infantes, e pode ser recomendado a eles sem restrições, pois não lhes interessa a qualidade da obra como cinema. Já para quem procura algum conteúdo a mais e não é especialmente fã dos filmes anteriores, pode muito bem dispensar esta pequena grande aventura feita para preencher duas horas do público durante as férias escolares, e esperar o final da temporada para procurar vida mais interessante nos cinemas.

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